quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Novo relatório "A COP dos Lobbies" alerta que muitas corporações usam a COP30 para promover interesses privados sob a fachada de sustentabilidade

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Para além da denúncia do Intercept, outro relatório "A COP dos Lobbies" alerta que muitas corporações usam a COP30 para promover interesses privados sob a fachada de sustentabilidade.

A investigação de 94 páginas analisou oito grandes companhias — Bayer, BTG Pactual, Cosan, Itaú, Marfrig/MBRF, Norsk Hydro, Suzano e Vale — e concluiu que essas empresas têm usado a COP30 como vitrine para reforçar as suas marcas sob o discurso da “transição verde”, apesar de acumularem extensos passivos ambientais. O documento aponta que a conferência vem sendo moldada para favorecer projetos de descarbonização e créditos de carbono, que transformam a preservação ambiental em oportunidade de mercado.

Segundo o relatório, as empresas vêm financiando pavilhões e eventos paralelos em Belém, como a AgriZone, patrocinada pela Bayer, e a Estação do Desenvolvimento, ligada à Cosan, muitas vezes em parceria com ministérios e governos locais. A prática levanta suspeitas sobre conflitos de interesse, uma vez que os mesmos órgãos públicos responsáveis por fiscalizar essas companhias participam dos espaços financiados por elas.

Um exemplo citado é o fato de que o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, deverá despachar da AgriZone, espaço custeado pela Bayer, durante a conferência. Para os pesquisadores, essa aproximação entre poder público e corporações enfraquece a independência das negociações e legitima a agenda empresarial dentro da COP.

Greenwashing
Além da presença física nos espaços da COP30, o relatório aponta uma estratégia coordenada de greenwashing estrutural. As corporações investem pesado em comunicação e patrocínios à mídia para se apresentarem como líderes da sustentabilidade.
Cinco das oito empresas analisadas financiaram a cobertura jornalística da COP30 em grandes veículos de comunicação, como Globo, Folha, Estadão, CNN e Liberal. Há ainda o registro de treinamentos e viagens para jornalistas custeados por Itaú e Norsk Hydro, com o objetivo de influenciar a percepção pública sobre seus projetos “verdes”.

As contradições
O relatório dedica capítulos específicos para ilustrar as contradições das empresas que se apresentam como protagonistas da agenda climática.
A Bayer, por exemplo, é acusada de violações de direitos em comunidades da América do Sul e de pulverizar agrotóxicos sobre aldeias do povo Ava Guarani, em Mato Grosso do Sul. Mesmo assim, lidera iniciativas de “agricultura tropical” e promove uma nova “Revolução Verde” na COP30.
Já a Vale é lembrada pelos desastres de Mariana e Brumadinho. Segundo o estudo, enquanto a mineradora investe R$ 430 milhões em negócios de impacto socioambiental, enfrenta ações judiciais relativas a degradação ambiental, contaminação de poços e danos à saúde pública, cujo valor é 65 vezes maior que o investimento.

Os bancos Itaú e BTG Pactual, embora se apresentem como financiadores da restauração florestal, ocultam o histórico de apoio a desmatadores e setores de alto impacto ambiental. No caso do BTG, o relatório destaca a comercialização de créditos de carbono baseados em plantações comerciais de eucalipto e pinus.

A influência empresarial também se manifesta na criação de coalizões e grupos de lobby que buscam legitimar a presença corporativa nas negociações climáticas. Entre elas estão a Sustainable Business COP30 (SBCOP), a Climate Action Solutions & Engagement (C.A.S.E.) e a Brazil Restoration and Bioeconomy (BRB) Finance Coalition, todas patrocinadas por bancos e mineradoras.

Essas articulações, segundo o relatório, consolidam a financeirização da natureza e deslocam o debate climático para um eixo econômico, em detrimento de pautas de justiça ambiental e dos direitos de povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos, que historicamente protegem os ecossistemas e agora lutam por espaço dentro da conferência.

COP30 favorece protagonismo de corporações
O relatório “A COP dos Lobbies” alerta que, sem mecanismos robustos de transparência e regulação do lobby empresarial, as conferências do clima correm o risco de se tornarem plataformas de legitimação do greenwashing corporativo.

Para os pesquisadores, o protagonismo das corporações na COP30 ameaça o caráter público e científico das negociações, transformando a conferência em um evento voltado mais à reputação empresarial do que à busca por soluções reais para a crise climática.

O estudo sinaliza que os verdadeiros defensores da natureza, as comunidades tradicionais, cientistas e movimentos sociais, estão sendo empurrados para os espaços secundários, enquanto os principais poluidores conduzem o debate global sobre o clima.

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