Cidadãos querem do Estado mais actuação no ambiente
Inquérito Estudo sociológico indica que a poluição de rios e ribeiras figura no
topo das preocupações dos portugueses. No dia-a-dia, o problema mais apontado é a poluição do ar
Eduarda Ferreira, JN
Os portugueses são muito críticos para com a actuação do Estado no domínio do ambiente: 82% consideram-no incapaz de desempenhar bem essa tarefa, segundo os resultados do II Inquérito Nacional "Os Portugueses e o Ambiente". Entre as medidas mais preconizadas pelos cidadãos ouvidos contam-se a fiscalização, proibições e aplicação de multas a prevaricadores.
O programa científico Observa - Ambiente, Sociedade e Opinião Pública,
desenvolvido no âmbito do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e
Empresas, divulgou, ontem, os resultados de um segundo inquérito destinado a
avaliar as atitudes dos portugueses em relação ao ambiente. Com um intervalo de
três anos em relação ao primeiro, e sendo elaborado sobre dados colhidos em 2000, este estudo não assinala evoluções muito profundas. Uma das poucas marcantes, segundo um dos autores do estudo, Joaquim Gil Nave, consiste na adesão aos mecanismos de reciclagem que entretanto foram facilitados (vidrões,ecopontos).
Por outro lado, admite o mesmo investigador, os receios continuam a ser remetidos para o abstracto e para o global, tendo as pessoas dificuldade em ver os problemas existentes ao pé da porta. Apagar a luz em divisões não utilizadas e não lavar loiça ou dentes com a torneira a correr ainda são as atitudes mais frequentemente assumidas em prol do ambiente(cerca de 50%).
Para 65% dos inquiridos, a paisagem que mais os choca é a de um rio poluído com peixes mortos, seguida de uma floresta a arder e uma maré negra. Uma lixeira a céu aberto impressiona-os menos (36,4%) e ainda menos resíduos tóxicos derramados no solo (29%). No dia-a- dia, as pessoas sentem mais o problema da poluição do ar e maus cheiros (29%) e não deixam de assinalar o caos urbano e o desordenamento. Pessimistas, consideram que tudo piorará nos próximos dez ou 15 anos: trânsito, qualidade do ar e água, ruído, entre muitos outros problemas. Face a este quadro, 45% dos inquiridos afirmaram desejar
viver noutro local.
Na periferia das grandes cidades situam-se os mais descontentes. Da totalidade,a maior parte sonha com jardins públicos e árvores para a envolvência das casas, valorizando uma "natureza domesticada". Este era um desejo já referenciado no primeiro estudo. Uma percentagem significativa mudaria para o campo ou pequenas e médias cidades, mas não o faz por falta de oportunidades de emprego, serviços de saúde, escolas e acessibilidades.
Poucas mudanças houve nas iniciativas pessoais
Os portugueses são críticos, isso são, para com as condições ambientais em que vivem. Mas, assinalam as conclusões do inquérito, revelam "uma certa bonomia face à realidade nacional, quando comparada com a dos restantes países europeus". Relativamente ao inquérito anterior, a degradação ambiental do país é vista com cores mais negras. A preocupação é mais forte, talvez por haver mais informação. Segundo o coordenador deste trabalho afirmou ao JN, mantém-se o desfasamento entre atitude e preocupação. Uma coisa é o que os portugueses pensam, outra as iniciativas que tomam para mudar o que dizem estar mal.
O sociólogo João Ferreira de Almeida destaca uma diferença entre os resultados do inquérito anterior e agora divulgado: a agricultura, agora, já surge com a sua quota de responsabilidade na poluição;antes, a visão deste sector era mais bucólica.
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