Hinos de Pólen
"No coração do mundo, onde o vento aprende a falar,
erguem-se antigos guardiões em dança silenciosa:
abelhas douradas, aves de fogo e canto,
morcegos tecelões da noite,
borboletas que carregam o arco-íris nas asas.
Cada um, um verso vivo na respiração da Terra.
Abelhas — monjas do néctar —
trabalham com a precisão de quem sabe
que cada flor aberta é um pacto ancestral.
O seu zumbido é sutra e oração,
um lembrete de que o futuro se molda
no gesto minúsculo de tocar um estame.
As aves, mensageiras do céu,
bordam caminhos entre pétalas e horizontes,
levando consigo a memória dos ventos antigos.
No seu voo reside a ética de cuidado,
pois cada semente que dispersam
é promessa de continuidade.
Morcegos, arquitetos da noite,
pairam onde a luz não chega,
polinizando sombras com fidelidade cega,
recordando-nos de que até o invisível
sustenta a casa comum.
E as borboletas, frágeis na aparência,
mas titânicas na missão,
tocam o mundo com a suavidade
de quem compreende a delicadeza
da teia que nos une.
Todos eles, em co-evolução profunda,
esculpiram com as plantas um pacto milenar:
dar e receber, florir e nutrir,
reinventar a vida a cada estação.
Que saibamos aprender com estes mestres:
que a ética ambiental não é lei escrita,
mas um modo de respirar com o planeta;
que a ecologia profunda não é teoria,
mas pertença — radical e humilde —
ao grande tecido de relações
que nos sustém e ultrapassa.
Honremos os polinizadores,
tecelões de mundos,
pois neles a Terra encontra voz
e o futuro encontra raiz."
João Soares, 02.12.2025

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