A pobreza gera dinheiro para muitas pessoas e sectores, directa e indirectamente.
A pobreza, além de ser um problema social evidente, é também uma fonte de rendimento para muitos sectores. Existem empresas que dependem diretamente da existência de trabalhadores com poucas alternativas e que, por isso, aceitam salários baixos, como acontece na agricultura intensiva, na restauração, nas limpezas, nas plataformas digitais e nas fábricas de têxteis. Sem pobreza, estes setores teriam custos muito maiores e lucros mais reduzidos. Outros negócios lucram com a fragilidade financeira das pessoas pobres, como bancos e financeiras que oferecem crédito caro ou empréstimos rápidos a juros elevadíssimos, explorando a falta de alternativas. Há ainda empresas de segurança privada, alarmes e serviços de vigilância que prosperam em contextos de maior desigualdade, porque a insegurança cresce quando há fraturas sociais profundas.
No setor social e no Estado, a pobreza cria também um grande número de empregos. Assistentes sociais, psicólogos, técnicos de apoio, gestores de instituições, funcionários de programas estatais, ONGs e IPSS dependem da existência de pessoas que necessitam de ajuda. Não significa que estas pessoas desejem que a pobreza se mantenha, mas é um facto que a existência de pobreza sustenta estas estruturas e gera carreiras inteiras. Algo semelhante acontece com organismos internacionais que lidam com desenvolvimento, desigualdade e exclusão, que movimentam grandes orçamentos devido à persistência dessas condições.
A desigualdade também alimenta setores indiretos, como o imobiliário, que beneficia quando muitas pessoas não têm capacidade para comprar casa e acabam presas a arrendamentos caros. Superfícies comerciais, cadeias de fast food e empresas de produtos baratos lucram quando a população tem poucas alternativas, porque consome aquilo que consegue pagar. Ao mesmo tempo, a pobreza é também rentável politicamente. Partidos de diferentes ideologias constroem discursos, programas e mobilizam eleitores em torno da questão da desigualdade, uns defendendo mais apoio social, outros defendendo incentivos ao trabalho, mas todos a usar a pobreza como parte da sua narrativa. A comunicação social também ganha com isto, porque a desigualdade gera histórias, reportagens, audiências e campanhas solidárias.
Em resumo, a pobreza não é apenas uma condição social; é também um elemento estrutural que alimenta mercados, empregos, discursos e modelos económicos. Há pessoas e instituições que trabalham para a combater, outras que lucram indiretamente com ela, mas o resultado final é o mesmo: a pobreza gera dinheiro para muitos, mesmo que traga sofrimento para quem a vive.
Referências:Estudo da FFMS - A Pobreza em Portugal (2021)Vidas em fuga da pobreza: a mobilidade social nas classes trabalhadoras em contextos de realojamento(2007-2010)
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