sábado, 12 de julho de 2025

A relevância da Educação Ambiental

Margaret Raven (artista plástica nascida em 1962, na Polónia)

Sobre a relevância da educação ambiental para enfrentar estes tempos de decisões desastrosas e enfrentar os lóbis sem que pessoalmente vamos abaixo.

EIXO 3 – Educação e literacia ambientais: com este eixo pretende-se a definição de um modelo de educação ambiental liderado pela autarquia e articulado entre os vários setores da sociedade. (ODS, Agenda 2030)

Por que a educação ambiental ainda é tão desvalorizada?
Em tempos de crise climática, desastres ambientais cada vez mais frequentes e perda acelerada da biodiversidade, seria natural supor que a educação ambiental ocupasse um lugar central na formação de cidadãos conscientes e responsáveis. No entanto, a realidade é outra: ela continua à margem, tratada como algo secundário, quando deveria ser uma das bases do nosso futuro coletivo.

Por que é que isso acontece?
Em primeiro lugar, há um desinteresse estrutural por parte de muitos governos, autarquias, programas eleitorais e mesmo até nos sistemas de ensino. A educação ambiental costuma ser mencionada apenas como um “tema transversal”, o que, na prática, significa que não tem espaço nem tempo dedicados. Muitas escolas falam e fazem reciclagem ao longo do ano e acreditam ter cumprido o seu papel. Mas a educação ambiental vai muito além de plantar árvores ou recolher lixo. Trata-se de formar pensamento crítico, compreender relações ecológicas, refletir sobre consumo, justiça social e os limites do planeta.

Outro problema é a visão simplista e despolitizada com que o tema é tratado. Fala-se de meio ambiente como se fosse uma questão neutra, técnica, quando na verdade está profundamente ligada à política, à economia e às desigualdades sociais. Falar de educação ambiental é também falar de poder, de escolhas coletivas e do modelo de desenvolvimento que queremos.

Além disso, a sociedade de consumo — amplamente reforçada pela media — cria uma cultura de individualismo e imediatismo, que mina qualquer esforço educativo voltado para a coletividade e o longo prazo. É difícil competir com um mundo onde o valor está em “ter”, e não em “ser” ou “pertencer”. A educação ambiental exige tempo, reflexão e ação, tudo o que a lógica apressada do consumismo não incentiva.

Também não podemos ignorar o desconhecimento ou cepticismo de muitos diante da gravidade da crise ambiental. Há quem acredite que tudo será resolvido pela tecnologia, ou pior, que tudo é exagero. Essa visão conforta, mas é perigosa. Sem consciência ambiental, as soluções que a ciência propõe não encontram solo fértil na sociedade.

O que falta, portanto, é valorizar a educação ambiental como prática transformadora, conectada à realidade local, ao território, ao quotidiano das pessoas. Quando ela é vivida na prática — em projetos escolares, ações comunitárias, hortas urbanas, defesa de rios e matas — ela deixa de ser abstrata e torna-se urgente, palpável, viva.

Reconhecer o papel da educação ambiental é mais do que uma escolha pedagógica: é um acto político, ético e existencial. Quem não a reconhece, talvez ainda não tenha entendido que não haverá futuro viável sem ela.

Bons exemplos
1. A resiliência de Idanha-a-Nova. Idanha-a-Nova integrou o primeiro geoparque português, da rede geoparques reconhecidos pela UNESCO. Foi a primeira Reserva da Biosfera em Portugal. Sendo uma vila, foi a primeira Cidade Criativa portuguesa, igualmente com a chancela da UNESCO, para a área da Música. Em 2018, tornou-se na primeira Bio-região portuguesa. E em 2013 a UE elegeu-a como a melhor Bio-região da Europa. Eis como a periferia se tornou centro.

2. 90% dos portugueses ‘desconfia’ da sustentabilidade das marcas. 90% dos consumidores portugueses acreditam que as marcas afirmam ser sustentáveis apenas para fins promocionais, concluiu o 3º Relatório Global de Consumo MARCO 2024, promovido pela MARCO em parceria com a Cint, empresa de investigação tecnológica.

Depois de Portugal, segue-se a África do Sul com 86% e o México com 85%, indica a análise.

De acordo com o estudo, este sentimento é particularmente significativo nos países ocidentais, onde existe uma tendência para exigir maior transparência e responsabilidade por parte das marcas. A análise revelou que a grande maioria dos consumidores a nível global (81%) suspeita que as empresas estão a utilizar as suas credenciais de sustentabilidade como instrumentos de marketing, em vez de demonstrarem um compromisso genuíno com a responsabilidade ambiental e social. 

O relatório revelou também que os consumidores estão cada vez mais motivados a fazer escolhas sustentáveis no dia a dia, com mais de metade dos inquiridos portugueses (58%, valor semelhante à média global) a revelarem comprar produtos em segunda mão para promover práticas de consumo mais sustentáveis; 95% assume a importância da reciclagem para poupar recursos naturais, contra 90% a nível global; e 66% consideram positiva a utilização de automóveis elétricos para proteger o ambiente, em linha com a média global de 67%. 

Além disso, 44% dos portugueses assumiu que consideraria deixar de andar de avião por questões de consciência ambiental, um valor que contrasta com a média global de 53%.

“Estas conclusões sublinham a importância da transparência e da responsabilidade nas iniciativas de sustentabilidade das empresas. À medida que os consumidores se tornam mais exigentes e esperam provas de um compromisso genuíno, as empresas devem navegar cuidadosamente neste novo cenário. Uma comunicação eficaz e ações tangíveis são mais cruciais do que nunca para criar e manter a confiança dos consumidores”, referiu Diana Castilho, Head of Portugal da MARCO.

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