terça-feira, 3 de outubro de 2023

Música do BioTerra: Garota não - 422


A roleta nem andou à roda
Mas é que ser excêntrico é moda
Combustível é mais do que império
É calar quem está no ministério

É calar quem cumpre cada dia
É calar toda a democracia
É fazer de tudo um argumento
Até nos toldar o pensamento

422 milhões
Do planeta fome eu sou
Que país tão bom pra tubarões
Do planeta fome eu sou
422 milhões
Do planeta fome eu sou
Somos accionistas sem ações

Se não for a guerra e a pandemia
Será porque alguém disse poesia
Será por passar um barco à vela
Sеrá porque alguém veio à janela

A subida é prato do dia
Tanto imposto barriga vazia
E еsta raiva que juntos calamos
Faz crescer a mão dos soberanos

422 milhões
No final de cada semestre a comunicação social traz-nos a boa nova: as gasolineiras continuam a conseguir crescer nos lucros. Sorrimos, temos feito um bom trabalho como accionistas destes cartéis. Contam-se aos milhões. E nós sempre a entregar. Pagamos o custo do petróleo e da importação, o custo da transformação do petróleo em gasolina e gasóleo e a margem de ganância de cada posto. E depois pagamos também impostos ao nosso país: há o IVA, o Imposto sobre Produtos Petrolíferos, as taxas sobre emissões de dióxido de carbono e a contribuição do serviço rodoviário. Todos sabemos disto!...
Não, claro que não sabemos. Que sabemos nós… a não ser que tudo isto é redundante?
E pelo meio fala-se em sustentabilidade e políticas verdes. Anunciam-se metas e valores de investimento. Fala-se em transportes alternativos. Mas andar de bicicleta nas nossas cidades é penoso - não há ciclovias nem preparação para a cidadania e as bermas das estradas são corridas de obstáculos. Fala-se de transportes coletivos. Mas acontece que são insuficientes e não fazem muitas vezes a leitura do fluxo das deslocações nos territórios - e por isso não chegam a ser uma resposta real para quem quer deixar o carro em casa.
A Elza Soares uma vez respondeu a um apresentador: eu vim do Planeta Fome. Eu também, e se calhar por isso é que os relatórios das gasolineiras me sabem tão mal.
Obrigada aos amigos que me ajudaram a dar corpo a esta canção:
Sérgio Miendes no baixo e co-produção
Renato Sousa Musico na guitarra maravilha
Diogo Sousa na bateria
Abraço.

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