Há riscos acrescidos para as crianças que estão a fazer uma alimentação vegana?
Não me parece, desde que a programação seja feita com critério e bom senso. O que importa não é se se come carne, peixe, mas se se ingerem os ingredientes em termos de qualidade e quantidades, de modo que o que for absorvido corresponda aos requisitos necessários ao crescimento e à atividade desenvolvida pela criança. Tudo depende de ser uma coisa programada ou feita sem sentido e ao sabor da corrente.
Da parte dos pais, nota o acompanhamento nutricional para que nada falte de essencial?
Sim. Estou em crer que hoje, na vasta maioria dos casos, o veganismo, tal como o vegetarianismo, não é “uma maluqueira de hippies”, mas uma opção alimentar consciente, que preza a saúde, preza o ambiente e preza os deveres para com os animais. Poderemos discordar, sim, mas ridicularizar e declarar que são práticas não-saudáveis é patético, quando se pensa no enorme consumo de carne, de gorduras saturadas, de alimentos oxidantes, de calorias, que estão na base de problemas cardiovasculares, obesidade, doenças renais e hepáticas. As crianças veganas e vegetarianas poupam mais os seus órgãos, aumentando a sua esperança média de vida.
A alimentação dita tradicional tem alimentos pouco saudáveis?
Exato. A opção vegana ou vegetariana não é, como muita gente depreciativamente afirma, uma moda, mas algo que é fundamentado cientificamente. As chamadas doenças de sobrecarga, que representam a enormíssima fatia de problemas de saúde pública e de consumo de orçamentos da saúde, como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, renais, hepáticas, hipertensão, têm origem nos hábitos alimentares ditos tradicionais, que têm pouco de tradição (a dieta mediterrânica é que é tradicional), e eles, sim, são impostos pela sociedade de consumo e com absoluto desrespeito pela natureza e pelos deveres que temos para com os animais. A pegada de carbono não é uma mentira e está relacionada com a alimentação dita ocidental.
É possível adaptar uma alimentação vegana a qualquer criança ou família?
Pode. Porque não? Desde que haja vontade, desde que não existam preconceitos e desde que se expliquem os “quês e porquês” científicos e ambientais e se apoiem os pais no sentido de o que dar, quando, como e que suplementos poderão ser necessários.
Tendo os miúdos dificuldade em aceitar alguns alimentos, não poderá ser este um problema a acrescentar a outros?
Não creio. Se o vegetarianismo ou o veganismo for instituído desde o início, não vejo que cause rejeição. As escolas já têm opções vegetarianas. As crianças estão cada vez mais sensíveis às questões da natureza, têm empatia com o sofrimento animal, têm consciência dos deveres dos humanos relativamente aos outros congéneres do reino animal e das questões de degradação do ambiente, relacionando já, ao contrário de muitos adultos, os gases emitidos pelas vacas com o aquecimento global. As crianças sabem que está tudo relacionado. Infelizmente, alguns adultos acham que existe um planeta B e que os animais existem apenas para nosso gozo e deleite.
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