sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Passadiços do Mondego, Tua e Oleiros

Vale do Tua, Murça- Portugal

O que eu desunhei para obter esta foto. O wilderness / selvagem puro no nosso País está um caos. Dantes eram as eólicas e eu evitava as fotos que incluíam eólicas. Agora é a praga dos passadiços. Estão por todo o lado. Imaginem no coração da Beira Baixa, em pleno Geoparque Naturtejo, esconde-se mais um passadiço que veio aumentar a já longa lista de percursos deste género em Portugal: os passadiços do Orvalho, no concelho de Oleiros. Já fiz esta região sem passadiços. É dura, bela, longa e fantástica. Para quê "passadiços"? Até em Murça!!

E a moda dos passadiços não para; agora foi a própria Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, que foi inaugurar os 4 milhões de euros e doze quilómetros dos passadiços do Mondego, equipamento que, segundo o autarca da Guarda, “vai dar a conhecer a serra da Estrela como os visitantes “nunca a viram” (deve-se referir à serra depois de queimada...) e vai dinamizar a economia local da região Centro, até porque estamos perante um projeto de interesse turístico internacional” que incluí “três pontes suspensas de cortar a respiração”... (Em Morbi, na Índia, uma ponte suspensa, objeto de obras de recuperação, reaberta ao público cinco dias antes, desabou no mês passado e cortou, a 137 pessoas, muito mais que a respiração, cortou a vida... longe vá o agoiro).

Qual o interesse internacional deste percurso, numa Europa cheia de percursos pedonais, bem projetados, marcados e sinalizados, mas aproveitando caminhos antigos e não caminhos de tábuas de pinho que apodrecem em dez anos! Que é que isto tem a ver com “coesão territorial”?

É “coesão territorial” devassar e degradar o território? Se calhar é, pois como a maioria do país já está degradado, degradar o que ainda não está dá coesão ao território! Mas, pasme-se, estes passadiços foram cofinanciados a 80% pelo FEDER, ignorando o princípio comunitário do “Do No Significant Harm” (Não Prejudicar Significativamente o ambiente, que determina que os projetos ao abrigo do financiamento europeu não devem causar danos significativos a nenhum dos seis objetivos ambientais definidos no Regulamento de Taxonomia da UE.).

Na Áustria onde estive há pouco tempo, só me chocou uma paisagem plana cortada por enormes torres eólicas. Mas passadiços, não vi. 

Shafelberg - Austria

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