Basta ir ao terreno e ver como as matas se encontram cheias de eucaliptos e matos, que formam um oceano de combustível. E quanto aos eucaliptos, estes não só brotaram espontaneamente após os incêndios, como foram realizadas inúmeras plantações novas, quando a política seria a da diminuição da área desta espécie.
Estes senhores da floresta são os que gostariam de ver todo o país como uma máquina de produção a enriquecer as fileiras das celuloses; os que se encontram nos gabinetes governativos a pactuarem com os senhores anteriores ou a optarem pela ausência de políticas e verbas para o Interior; os que estão na gestão de institutos públicos, cuja função seria a da conservação da natureza e do ambiente, e favorecem projectos que degradam o nosso património natural; os que estão nos bancos a financiar negócios insustentáveis e os que estão nas nossas escolas e universidades a ensinar que a natureza é uma máquina a ser explorada, formando indivíduos competitivos e alienados da realidade, que a única coisa que pretendem é entrar para esta elite poderosa, perpetuando a colonização do espaço humano e natural do país.
Ora, a natureza é um sistema vivo ao qual pertencemos. Os problemas ambientais, climáticos e florestais são fruto da forma como uma elite da nossa sociedade e a sua economia tem agido sobre a natureza. A única forma de resolvermos estas questões é acordarmos colectivamente para a maneira com esta elite de senhores comanda o nosso património natural, chamando para nós o controlo das florestas e do país, e começarmos a olhar para a natureza como ela é na realidade — a nossa essência colectiva, indispensável ao nosso bem-estar físico, mental e espiritual, e respeitando-a como tal.
Segundo Aldo Leopold isto é possível quando começarmos a ver a terra como uma comunidade à qual pertencemos. Esta perspectiva vai ao encontro das conclusões da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas das Nações Unidas (IPBES), que no seu relatório de 2019, expressa a necessidade de uma ‘mudança transformadora’ da sociedade capaz de reorganizar todo o sistema, incluindo paradigmas, metas e valores, para responder ao declínio dramático da biodiversidade, restaurar a natureza e salvar a humanidade.
Se queremos salvar a floresta precisamos de colocar a economia ao serviço da humanidade e da natureza, co-criar um mosaico florestal mais autóctone, que é biodiverso, resiliente, belo, rico em serviços de ecossistema, importante para combater as alterações climáticas e menos perigoso relativamente aos fogos florestais. Haja vontade.
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