terça-feira, 10 de novembro de 2020

Telemóveis esquecidos na casa dos portugueses ‘escondem’ €31 milhões em metais preciosos

Existem, em Portugal, 12,2 milhões de aparelhos que foram descartados sem lhes ser dado um novo uso e que, igualmente, não entraram na cadeia de reciclagem, segundo um estudo que analisa 27 países.


Há 36,5 milhões de dólares (cerca de 31 milhões de euros, ao câmbio atual) em ouro, prata, (o raro) paládio, platina e cobre ‘guardados’ na casa dos portugueses, sem que lhes seja atribuído qualquer valor.

Estes metais preciosos estão ‘escondidos’ nos 12,2 milhões de telemóveis que já não usamos e acabaram enfiados (e esquecidos) numa gaveta ou numa caixa, sem lhes ser dada uma segunda oportunidade e que também não foram reciclados.

A conclusão pertence ao estudo ‘2020 Mobile Fone E-Waste Index’, realizado pela ReBuy, uma plataforma digital de comércio de produtos eletrónicos em segunda mão, fundada em 2009 em Berlim – tem 550 empregados e está presente, além da Alemanha, na Áustria, França, Holanda, Itália e Espanha.

A análise, feita pela primeira vez, contemplou 27 países (para os quais estão disponíveis dados comparáveis), dos quais 24 europeus, a que a ReBuy juntou o Canadá, os EUA e a Nova Zelândia “para ter um contexto global”. O foco são os telemóveis porque “apesar do lixo eletrónico ser muito variado, estes dispositivos são uma das tecnologias mais populares, bem como uma das mais descartáveis”, indica o relatório.

Além disso, a ReBuy faz notar que esta realidade tende a aumentar (e a ser mais alarmante no que diz respeito ao meio ambiente). É que, no passado, a maior parte do lixo eletrónico eram aparelhos estragados ou que estavam obsoletos, mas agora com o surgimento constante de novas tendências e a consequente pressão para ter (na mão) a última novidade tecnológica, sobretudo, no que toca a telemóveis, significa que, hoje, o desperdício é, sobretudo, feito de aparelhos que ficaram ‘fora de moda’ e não por terem deixado de funcionar, faz notar o estudo.

Esta análise surge próxima “do período de maior consumismo do ano” com o objetivo, indica a ReBuy, de chamar a atenção para o fenómeno do lixo eletrónico, sinalizando que muitos aparelhos usados têm valor e podem ser vendidos e reutilizados, além de reciclados. À poupança na carteira, somam-se importantes ganhos ambientais.

Portugal ocupa a sexta posição do ranking no que toca ao número per capita de telemóveis postos de lado, sem lhes ser dado um segundo uso ou terem sido reciclados, com 1,19 aparelhos descartados por habitante, uma realidade idêntica à da Dinamarca. A liderar esta tabela surge a Suécia com 1,31 telemóveis fora de uso por cada habitante no país.

E.U.A. acumulam mais de 223 milhões de telemóveis fora de uso

Para o total dos 27 países analisados, a ReBuy apurou que os metais preciosos contidos nos vários milhões de telemóveis inutilizados valem 1,87 mil milhões de dólares (1,56 mil milhões de euros). Outra conclusão, sem grandes surpresas, é que nesta lista os EUA apresentam o maior número de telemóveis usados e esquecidos pelos proprietários, num total de 223,1 milhões de unidades, seguindo-se a Alemanha, com 84,7 milhões, e o Reino Unido, com 83,1 milhões.

As consequências ambientais deste lixo eletrónico também foram contabilizadas. Assim, fabricar os mesmos 12,2 milhões de telemóveis que estão fora de circuito em Portugal implica emitir 11,2 toneladas de CO2, um impacto ambiental evitável caso se opte por dar uma nova vida ao aparelho descartado. Já no que se refere a produtos tóxicos, como chumbo, arsénico e mercúrio, usados na produção de telemóveis e que podem contaminar os solos quando os aparelhos não são devidamente reciclados, estão em causa quase 4,2 toneladas.

De acordo com o estudo, apenas 30% dos portugueses vendem ou oferecem os seus telemóveis usados, o que coloca Portugal praticamente no fim da tabela, a par com o Reino Unido e antecedido apenas pela Letónia (28%) e pela Nova Zelândia (23%). Neste aspeto, a Dinamarca lidera com 49% dos proprietários a seguirem uma destas vias.

Em termos de reciclagem ou reutilização dos aparelhos ‘antigos’, Portugal figura em 12º lugar, com uma taxa de 81%, igual à da Dinamarca e oito pontos percentuais abaixo da Finlândia que lidera o grupo dos 27 países neste indicador.

O estudo da ReBuy foi feito com base em estatísticas disponíveis sobre o número de telemóveis em uso, bem como relativas aos aparelhos que já não são utilizados mas que não foram reaproveitados, nem reciclados (disponíveis, por exemplo, em ‘Waste over time’ do gabinete de estatísticas holandês CBS, que compilou informação sobre o lixo eletrónico nos estados-membros da União Europeia), complementadas com um pequeno inquérito junto de alguns lares, além de outros dados, incluindo da OCDE sobre as taxas nacionais de reciclagem.

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