quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Fritjof Capra: pandemia evidencia urgência em frear desigualdade social e agressão ao ambiente



A humanidade está colhendo, com a pandemia, frutos plantados por décadas de mau crescimento econômico e descontrole populacional. Palestrante na noite desta quarta-feira (18) em conferência online do Fronteiras do Pensamento, o físico teórico Fritjof Capra explicou por que, em sua visão, a propagação do coronavírus deixa claro que é preciso inverter a lógica da busca ilimitada pelo lucro por um modelo que priorize a igualdade social e a preservação do ambiente.

A covid-19 pode ter chegado para salvar da extinção boa parte da vida na Terra — resumiu o austríaco.

Capra pensa que a pandemia não pode ser analisada como fenómeno individual, resultado do imponderável. Sua opinião é de que o contágio — como todas as coisas — deva ser estudado sob a ótica sistêmica. Ou seja, a ponta mais visível de uma ilha de desequilíbrios sociais, avanço econômico desmedido e falta de controle da superpopulação.

A pandemia é uma resposta biológica do planeta à emergência ecológica e social que o ser humano causou a si mesmo — afirmou.

Esse desbalanço seria resultado do apetite desmedido de empresas por crescimento e lucro, incentivando o consumismo (e o descarte), a produção fabril em áreas de preservação e a poluição. Outra consequência desse modelo é ampliação da distância entre riscos e pobres. Essa soma de fatores retirou de seus habitats naturais hospedeiros de vírus desconhecidos do ser humano e ainda os aproximou de zonas superpovoadas.

O vírus não conhece limites económicos e políticos, não distingue ricos de pobres. Ele representa o triunfo da biologia sobre a economia e a política — reforçou.

Assim como a pandemia não deve ser vista como infortúnio ou fato isolado, sua resolução também precisa se conectar com mais desenvolvimento social, avanço económico responsável, cuidado ambiental e controle da densidade populacional — modelo que ele chama de crescimento qualitativo, e não meramente quantitativo.

Ao levar ao isolamento e ao fechamento de fábricas, o vírus eliminou mais poluição do que qualquer política pública já colocada em curso pelo homem havia conseguido. Isso mostra o que podemos fazer quando a vida está em jogo, individual e coletivamente — exemplificou.

Capra analisa que alguns países já demonstram aprendizado com o avanço da doença, o que é positivo para a civilização. A Espanha passou a nacionalizar hospitais particulares, como forma de oferecer igualdade de tratamento para ricos e pobres. O Estado americano da Califórnia ampliou a oferta de moradias à população de rua. São movimentos que tanto podem trazer um mundo melhor imediatamente quanto evitar — ou pelo menos adiar — uma nova pandemia.

 A questão é o quanto teremos de sabedoria e vontade política para aplicar em escala global essas lições  provocou.

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