terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Os carros a gasóleo vão mesmo desvalorizar nos próximos 4 anos?

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Vendedores e ambientalistas dividem-se quanto ao valor dos motores a diesel. Governo deu mais de 2,6 milhões de euros em incentivos para a compra de carros elétricos em 2018.


As palavras do ministro do Ambiente sobre a desvalorização dos carros a gasóleo caíram mal a quem vende automóveis e causaram alguma inquietação em quem já tem ou encomendou este tipo de viaturas. "Quem comprar carros a diesel não terá valor na troca daqui a quatro anos", disse Matos Fernandes numa entrevista ao Jornal de Negócios.

Quer isto dizer que a desvalorização dos motores diesel será galopante? A ACAP, a associação que representa os vendedores em Portugal, foi a primeira a reagir dizendo que"o ministro tem que ter cuidado com as palavras". Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP disse ao DN que o governante se está a intrometer nos mercados. E lembra que se os carros a gasóleo fossem acabar nos próximos tempos, a União Europeia não publicaria diretivas que se aplicam aos motores diesel, sempre no sentido de reduzir as emissões de gases.

Comprar ou manter carros movidos a diesel ainda é viável do ponto de vista do consumidor? Hélder Pedro entende que a questão da morte destes carros não se colocará na próxima década - "este carros vão manter-se no mercado".

Francisco Ferreira tem outra opinião. O ambientalista da Zero lembra que está muitas vezes em desacordo com o ministro, mas não nesta matéria. E argumenta com os estudos segundo os quais daqui a quatro ou cinco anos os carros elétricos vão ser mais baratos que os carros a gasóleo ou a gasolina. Aliás, faz mesmo questão, de referir que para as empresas já é assim - pagam menos impostos.

A questão dos custos é também esgrimida pelo Ministério do Ambiente e Transição Energética (MATE). "Em 2030 os veículos a diesel já não serão competitivos face aos veículos elétricos". Para isso, muito contribuirá a previsível evolução tecnológica dos veículos elétricos, com a autonomia das baterias cada vez mais extensa e o custo cada vez menor. Várias fontes apontam que, até 2025, se atingirá a paridade de custos de aquisição entre os veículos elétricos e os convencionais, adianta o ministério.

A grande questão com os carros a diesel, sublinha Francisco Ferreira, é que a indústria conseguiu reduzir a emissão de dióxido de carbono, mas não conseguiu diminuir o óxido de azoto.
Motores a diesel vendem-se cada vez menos

Com as notícias de que várias cidades europeias estão a proibir a circulação de motores a gasóleo por questões ambientais e o preço deste combustível estar praticamente equiparado ao da gasolina, a venda carros diesel caiu bruscamente, para valores só comparáveis a 2003. Segundo a ACAP, apesar de continuarem a ser os mais procurados pelos portugueses, a tendência é de descida - o ano passado o diesel representou 53, 2% da quota de mercado, quando em 2017 era de 61%.

Mas isto não quer dizer que a escolha recaia sobre os elétricos, híbridos ou movidos a gás natural, que só representaram 7,45 das vendas. Os maiores beneficiados foram os os motores a gasolina - em 2018 subiram 18,1% (39,3% da quota de mercado, a mais alta desde 2004).

Tendo Portugal um parque automóvel com uma idade avançada, a ACAP propõe que o governo crie incentivos com vista à sua renovação e que o abate possa ser incentivado. Uma proposta que foi feita para integrar o Orçamento de Estado para 2019 mas para a qual, diz Hélder Pedro, não houve resposta. Os subsídios que existem, de 2 250 euros, são para a compra de carros elétricos.

Este ano, o governo vai manter os apoios para a compra das viaturas elétricas. Em 2018, foram pagos mais de 2,6 milhões de euros em incentivos a 1170 candidatos - dados do MATE.
Interdições europeias à circulação de carros a gasóleo

Em Portugal não está estabelecido um calendário para o fim da circulação dos carros a diesel, embora haja a intenção de em 2040 os carros terem zero emissões ou emissões muito baixas. "A nível europeu foram aprovados limites de emissão de dióxido de carbono para veículos ligeiros, que promovem uma maior penetração de veículos elétricos. Para 2025, as emissões das frotas de veículos novos devem reduzir-se 15% e, em 2030, 37,5% face aos valores de 2021. Por outro lado, a fiscalidade automóvel tem em consideração as emissões de dióxido de carbono, pelo que veículos mais poluidores pagam mais impostos", respondeu o MATE ao DN.

Noutros países, nomeadamente em cidades europeias como Paris, Madrid, já está em marcha a proibição da circulação de carros a gasóleo a partir de 2025 com vista à redução da emissão de gases para a atmosfera - a capital francesa vai mais longe e pretende acabar com a circulação total de carros a combustão, ou seja, também os de motor a gasolina, em 2030.

Em Estugarda, cidade que é sede da Mercedes e da Porsche, a interdição aplica-se já a partir deste mês para os motores diesel anteriores a 2009, os que não têm filtro de partículas.


Em Lisboa, as interdições aplicam-se aos carros antigos - são as zonas de emissões reduzidas (ZER). Uma resposta às regras europeias, com vista à diminuição das emissões poluentes em Lisboa.

A primeira ZER avançou em 2011 e abrangem o eixo Avenida da Liberdade - Baixa (limitado a norte pela Rua Alexandre Herculano e a sul pela Praça do Comércio), onde não podem circular automóveis com matrículas anteriores a 2000, entre as 7 e as 21 horas, nos dias úteis.

Um ano depois, foi criada outra ZER - abrange o eixo formado pelas avenidas de Ceuta, das Forças Armadas, dos Estados Unidos da América, Marechal António Spínola, Infante D. Henrique e pelo Eixo Norte-Sul. Aqui as regras dizem que só podem andar os veículos ligeiros com matrícula posterior a janeiro de 1996 e os pesados posteriores a outubro do mesmo ano.

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