segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Curta-metragem: Life after fire (Vida após incêndios)


Animated short of the article "What is the value of biotic seed dispersal in post-fire forest regeneration?", published in Conservation Letters.  
This research results from work developed with the "Life After Fire" project, which was created after the 2017 fires in Portugal with the aim of understanding the importance of seed dispersal in the recovery of forests after a fire.

sábado, 14 de setembro de 2024

Malditas Conyza


Os agricultores detestam as Conyza ... e os botânicos também. São tão variáveis, as correlações de caracteres tão frágeis que a Flora Ibérica arrumou tudo em duas espécies, quando outros autores reconhecem 5 e mais.
A C. canadensis não levanta dúvidas (capítulos glabros, pequeninos). Bem, a C. bonariensis sensu FI é um saco de gatos. A planta em anexo cumpre os critérios de C. bonariensis s.str. (plantas ramificadas desde a base, de crescimento simpodial, folhas estreitas, capítulos granditos, brácteas involucrais tintas de vermelho na extremidade distal estreitando para a base, e papilho branco). Sim, a entidade C. sumatrensis existe – são plantas bem grandes, frequentemente unicaules, de folhas mais largas (na base e no caule), monopodiais (com uma panícula de flores na extremidade), capítulos mais pequenos que os de C. bonariensis, brácteas involucrais verdes, papilho cor de palha, e brácteas mais largas no terço basal. O problema é quando as sumatrenses são cortadas e se ramificam ... ou os papilhos das bonarienses se enchem de pó e ficam amarelados. Enquanto a C. canadensis e a C. bonariensis abundam em ambiente urbano (entulhos, passeios mal-tratados, terrenos de construção, muito cão e muito gato), a C. sumatrensis entra em ambientes menos ruderalizados, em força nos campos de cultura.
E são resistentes ao glifosato. Virtude ou defeito?

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Documentário: História da Permacultura


After compiling a little film about Bill Mollison, there was a large call to expand on it and the origins of permaculture, giving some other pioneers their dues. So, here I have focused on some of the people who influenced me heavily when I first became interested in permaculture. It includes clips from David Holmgren, Masanobu Fukuoka, Sepp Holzer, Robert Hart, Emilia Hazelip, Allan Savory, Vandana Shiva, Dr. Elaine Ingham and Geoff Lawton. I realise that there are many more who could be listed but due to the nature of this being a video, I focused mostly on people who had amassed a large library of footage to choose from.

domingo, 8 de setembro de 2024

"Resta" por Rubem Alves


Lembro-me da festa de aniversário para o meu pai, quando ele completou 60. Pelas aparências ele estava feliz: ele comia, bebia, ria, falava. Em silêncio eu o observava e pensava: “Como está velho…” Vieram-me à memória os versos de T. S. Eliot: “E eles dirão: ‘Seu cabelo, como está ralo!’ Meu casaco distinto, meu colarinho impecável, minha gravata elegante e discreta, confirmada por um alfinete solitário – mas eles dirão: ‘Seu braços e pernas, que finos que estão!'” Compreenderei se pessoas olharem para mim e pensarem pensamentos parecidos aos que pensei ao olhar o meu pai.
Comovo-me ao recordar-me do poema do Vinícius “O Haver”. É um poema crepuscular. Ele contempla o horizonte avermelhado, volta-se para trás e faz um inventário do que sobrou. Fiquei com vontade de fazer algo parecido, sabendo que não sou Vinícius, não sou poeta, nada sei sobre métrica e rimas. E eu começaria cada parágrafo com a mesma palavra com que ele começou suas estrofes: Resta…
Resta a luz do crepúsculo, essa mistura dilacerante de beleza e tristeza. Antes que ele comece ao fim do dia o crepúsculo começa na gente. O Miguelim menino já sentia assim: “O tempo não cabia. De manhã já era noite…” Assim eu me sinto, um ser crepuscular. Um verso de Rilke me conta a verdade sobre a vida: “Quem foi que assim nos fascinou para que tivéssemos um ar de despedida em tudo o que fazemos?”
Restam os amigos. Quando tudo foi perdido, os amigos permanecem. Lembro-me da antiga canção de Carole King “You got a friend”: “Se você está triste, no fundo do abismo e tudo está dando errado, precisando de alguém que o ajude – feche os olhos e pense em mim. Logo logo estarei ao seu lado para iluminar a noite escura. Basta que você chame o meu nome… Você sabe que eu virei correndo pra ver você de novo. Inverno, primavera, verão ou outono, basta chamar que eu estarei ao seu lado. Você tem um amigo…” Eu tenho muitos amigos que continuam a gostar de mim a despeito de me conhecerem. E tenho também muitos amigos que nunca vi.
Resta a experiência de um tempo que passa cada vez mais depressa. “Tempus Fugit”. “Quando se vê já são seis horas. Quando se vê já é sexta-feira. Quando se vê já é Natal. Quando se vê já terminou o ano. Quando se vê não sabemos por onde andam nossos amigos. Quando se vê já passaram cinqüenta anos… ( Mario Quintana)
Resta um amor por nossa Terra, nossa morada, tão maltratada por pessoas que não a amam. Meu deus mora nas fontes, nos rios, nos mares, nas matas. Mora nos bichos grandes e nos bichos pequenos. Mora no vento, nas nuvens, na chuva. Eu poderia ter sido um jardineiro… Como não fui, tento fazer jardinagem como educador, ensinando às crianças, minhas amigas. o encanto pela natureza.
Resta um Rubem por vezes áspero, com quem luto permanentemente e que, freqüentemente, burlando a minha guarda, aflora no meu rosto e nas minhas palavras, machucando aqueles que amo.
Resta uma catedral em ruínas onde outrora moravam meus deuses. Agora ela está vazia. Meus deuses morreram. Suas cinzas, então, voaram ao vento.
Resta, na catedral vazia, a luz dos vitrais coloridos, o silêncio, o repicar dos sinos, o Canto Gregoriano, a música de Bach, de Beethoven, de Brahms, de Rachmaninoff, de Faure, de Ravel…
Resta ainda, nos pátios da catedral arruinada, a música do Jobim, do Chico, de Piazzola…
Resta uma pergunta para a qual não tenho resposta. Perguntaram-me se acredito em Deus. Respondi com versos do Chico: “Saudade é o revés do parto. É arrumar o quarto para o filho que já morreu.” Qual é a mãe que mais ama? A que arruma o quarto para o filho que vai voltar Ou a que arruma o quarto para o filho que não vai voltar? Sou um construtor de altares. É o meu jeito de arrumar o quarto. Construo meus altares à beira de um abismo escuro e silencioso. Eu os construo com poesia e música. Os fogos que neles acendo iluminam o meu rosto e me aquecem. Mas o abismo permanece escuro e silencioso.”
Resta uma criança que mora nesse corpo de velho e procura companheiros para brincar. De que é que a alma tem sede? “De qualquer coisa como tudo que foi a nossa infância. Dos brinquedos mortos, das tias idas. Essas coisas é que são a realidade, embora já morressem. Não há império que valha que por ele se parta uma boneca de criança” ( Bernardo Soares )
Resta um palhaço… Na véspera de minha volta ao Brasil a jovem ruiva sardenda entrou na minha sala e me disse: “Sonhei com você. Sonhei que você era um palhaço”. E sorriu. Tenho prazer em fazer os outros rirem com minhas palhacices. O que escrevo, freqüentemente, é um espetáculo de circo. Pois a vida não é um circo?
Resta uma ternura por tudo o que é fraco, do pássaro ao velho. Fui um adolescente fraco e amedrontado. Apanhei sem reagir. Cresceu então dentro de mim uma fera que dorme. Mas toda vez que vejo uma pessoa humilde e indefesa sendo humilhada por uma pessoa enfatuada, que se julga grande coisa, a fera acorda e ruge. Tenho medo dela.
Resta a minha fidelidade às minhas opiniões que teimo em tornar públicas, o que me tem valido muitas tristezas e sucessivos exílios. Mas sei que minhas opiniões, todas as opiniões, não passam de opiniões. Não são a verdade. Ninguém sabe o que é a verdade. Meu passado está cheio de certezas absolutas que ruíram com os meus deuses. Todas as pessoas que se julgam possuidoras da verdade se tornam inquisidoras. Por isso é preciso tolerância.
Resta uma tristeza de morrer. A vida é tão bonita. Não é medo. É tristeza mesmo. Lembro-me dos versos da Cecília que sentia a mesma coisa. “E fico a meditar se depois de muito navegar a algum lugar enfim de chegar. O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas e nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias. De longe o horizonte avisto, aproxima e sem recurso. Que pena a vida ser só isso…”
Resta um medo do morrer – aquelas coisas que vêm antes que ela chegue. Eu acho que as pessoas deveriam ter o direito, se quisessem, de dizer: “É hora de partir…” E partissem. Se Deus existe e se Deus é bondade não posso crer que Ele ( ou Ela ) nos tenha condenado ao sofrimento, como última frase da nossa sonata. A última frase deve ser bela.
Resta, quanto tempo? Não sei. O relógio da vida não tem ponteiros. Só se ouve o tic-tac… Só posso dizer: “Carpe Diem” – colha o dia como um fruto saboroso. É o que tento fazer.

Rubem Alves, "Pimentas: para provocar um incêndio não é preciso fogo"

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Seja produtor de sementes para o Parque Natural da Serra da Estrela

A associação Guardiões da Serra da Estrela , com o nosso apoio, procura proprietários/as no território da serra da Estrela dispostos a dar o seu contributo, para a reflorestação e reconversão da paisagem da área protegida.

👉 Interessa que tenham nas suas propriedades, árvores da lista (abaixo), e das quais se possam obter sementes, para a certificação exigida por lei e necessária à plantação em área protegida:

✅ Amieiro (Alnus glutinosa Gaertn)
✅ Bidoeiro (Betula pubescens e Betula pubescens subsp. celtiberica)
✅ Castanheiro (Castanea sativa Mill.)
✅ Freixo-nacional (Fraxinus angustifolia Vahl.)
✅ Pinheiro-manso (Pinus pinea L.)
✅ Pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris L.)
✅ Cerejeira-brava (Prunus avium L.)
✅ Azinheira (Quercus ilex ou Quercus rotundifolia L.)
✅ Carvalho-alvarinho (Quercus robur L.)
✅ Sobreiro (Quercus suber L.)

🔗Informe-se sobre requisitos adicionais e inscreva-se para ser contactado/a: https://forms.gle/1VwpGz41xmxU6cqg6

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

O Reino Unido é o maior facilitador mundial de abusos fiscais transfronteiriços


Juntamente com a sua rede de dependências da coroa e territórios ultramarinos, o Reino Unido é o maior facilitador mundial de abusos fiscais transfronteiriços. Na verdade, a "teia de aranha" do Reino Unido, como é frequentemente conhecida, foi desenvolvida como um sistema global de extração económica durante a retirada do seu império colonial formal. Um novo documento entregue ao Comité para a Eliminação da Discriminação Racial expõe os impactos profundamente racializados desta injustiça, que prejudica os países maioritariamente não brancos do Sul Global, e o papel pernicioso que o Reino Unido está a desempenhar na tentativa de impedir os esforços de uma reforma significativa. O Reino Unido emergiu como um dos principais bloqueadores nas negociações sobre uma nova Convenção-Quadro sobre Cooperação Fiscal Internacional nas Nações Unidas, uma iniciativa apresentada pelo Grupo de África num esforço para resolver a pilhagem histórica e contínua das suas economias devido aos níveis maciços de abuso fiscal internacional. Fonte

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Captura de gases libertados por inaladores exige plantar 1,3 milhões de árvores em Portugal


Um artigo hoje divulgado estima que seria necessário plantar anualmente em Portugal mais de 1,3 milhões de árvores para capturar os gases libertados na atmosfera pelos inaladores pressurizados, usados no tratamento de doenças respiratórias como a asma.

O artigo, com coassinatura do Conselho Português para a Saúde e Ambiente, é divulgado na Acta Médica Portuguesa, publicação da Ordem dos Médicos, e refere que "com o aumento do volume de vendas dos inaladores pressurizados tradicionais", que utilizam gases fluorados com efeito de estufa, responsáveis pelo aquecimento global, "aumenta também o seu impacto ambiental".

Segundo o artigo, que tem como referência dados de 2022, a pegada carbónica dos inaladores pressurizados tradicionais prescritos em Portugal foi estimada em 30.236 toneladas de dióxido de carbono (CO2), o equivalente a cerca de 0,84% das emissões totais do setor da saúde no país e a aproximadamente 95% do total de emissões dos inaladores.

"O impacto carbónico destes dispositivos equivale à pegada de 150 viagens transatlânticas entre Londres e Nova Iorque, e seria necessário plantar anualmente mais de 1,3 milhões de árvores para capturar estes gases da atmosfera", salienta o texto.

Por definição, a pegada carbónica corresponde ao volume total de gases com efeito estufa gerado pelas atividades económicas e quotidianas, sendo expressa em toneladas de CO2 emitidas para a atmosfera.

No artigo, o Conselho Português para a Saúde e Ambiente e várias sociedades médicas listam uma série de recomendações para reduzir o impacto ambiental dos inaladores em Portugal, incluindo a prescrição de inaladores de pó seco, a aplicação de estratégias de incentivo à devolução de dispositivos usados nas farmácias e ao seu reaproveitamento e a introdução nas plataformas de prescrição de um mecanismo de alerta sobre a pegada ecológica de cada inalador, com um sistema de cores.
A lista de recomendações engloba também a promoção da literacia ecológica de doentes e público em geral, a divulgação de boas práticas de sustentabilidade ambiental na saúde e a aplicação de critérios de emissões líquidas de gases com efeito de estufa tendencialmente nulas nas compras, contratações e adjudicações públicas.

Um inquérito realizado para este artigo a 348 médicos revelou que mais de 70% não têm em conta os aspetos ambientais no ato da prescrição de inaladores, embora metade assuma conhecer a pegada ambiental dos dispositivos.

O texto sublinha, a este propósito, que "os profissionais de saúde têm o dever ético de participar ativamente na luta contra as alterações climáticas e a degradação ambiental, e pela redução da pegada ecológica do setor da saúde, não só como cuidadores, mas também como 'defensores' dos doentes".

O artigo teve o contributo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, da Sociedade Portuguesa de Pediatria, da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar e da associação de doentes Respira.

Criado em 2022, o Conselho Português para a Saúde e Ambiente é uma organização não-governamental que visa, nomeadamente, "defender a necessidade do setor da saúde de reduzir a sua pegada ecológica".

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

O suficiente para uma vida digna


Quase todos os dias assistimos ao drama associado à migração de pessoas em busca de melhores condições de vida. Bem perto de nós, sucedem-se os naufrágios no Mediterrâneo, e apesar de interpelados pela tragédia e pelo desespero de homens, mulheres e crianças, não conseguimos pôr termo a tanto sofrimento e consensualizar uma solução. Por outro lado, numa contradição em que a humanidade parece ser pródiga, nunca a economia mundial gerou tanta riqueza, mas a sua distribuição não é uniforme e a desigualdade continua a prosperar. De acordo com a informação publicada por organismos internacionais dedicados, cerca de metade da riqueza mundial está na posse de cerca de 1.1% dos mais ricos, enquanto os 55% mais pobres do mundo – mais de 4 mil milhões de pessoas – detêm apenas 1,3% da riqueza global. Esta disparidade não seria tão chocante se aqueles que ficam com uma pequena parte tivessem o suficiente para viver uma vida digna. Infelizmente, sabemos que não é assim; cerca de 10% da população mundial vive em condições de extrema pobreza. 

À pobreza e carência de recursos que esta condição significa, acrescenta-se a falta de poder e influência. Invariavelmente e à escala universal, as taxas de pobreza são mais elevadas entre os jovens ou idosos, não brancos, mulheres, e aqueles que têm níveis mais baixos de educação. Por outro lado, muita riqueza garante a influência sobre a maioria das decisões, o que se traduz numa situação em que, por exemplo, os principais partidos políticos de um país são financiados pelos mais ricos e pelas empresas que existem para gerar lucros para distribuir por indivíduos maioritariamente ricos. 

É neste contexto de profunda desigualdade económica e social, que o mundo enfrenta agora uma crise planetária, destacando-se o impacto das alterações climáticas, da desflorestação, da perda de biodiversidade ou da escassez de água doce. A crise social agrava a crise planetária. Quando analisamos a problemática das alterações climáticas, verificamos que 10% das economias mais ricas emitem cerca de 50% das emissões de gases com efeito de estufa, enquanto os 50% mais pobres geram apenas 7% das emissões. Ou seja, os países mais afetados pelas alterações climáticas são os que menos fizeram para as causar. Importa ter consciência que as alterações climáticas estão já a matar pessoas, desde logo, pelo impacto na saúde e pela perda da produtividade agrícola e menor acesso a bens alimentares. 

É tempo de afrontar um sistema económico absurdo e injusto, baseado no crescimento medido em Produto Interno Bruto (PIB). Quando nos concentramos no PIB, omitimos o essencial: a construção de uma economia que funciona para as pessoas e para o planeta. Como Robert F. Kennedy muito bem expressou em 1968, o PIB “mede tudo (...) exceto o que faz a vida valer a pena”. 

Continuar a fazer crescer a economia através de uma insana delapidação de recursos, esperando que a riqueza verta para os cidadãos mais pobres, não alivia a pobreza e convida ao colapso ambiental. Se estamos a transgredir as fronteiras planetárias agora, como pode o planeta sustentar uma economia que será quatro vezes maior em menos de 5 décadas? Precisamos de uma economia capaz de dar resposta às pessoas e respeitar os limites do planeta, reduzindo a pegada material. Precisamos de abandonar o PIB como a principal medida de prosperidade e começar a medir as coisas que importam, construindo um mundo sem pobreza e sem indústrias nocivas para o planeta e para as pessoas. Para resolver a crise planetária, temos que priorizar as pessoas e criar uma sociedade mais igual e mais justa, e não permitir que o excesso de riqueza resulte num poder absurdo e desproporcionado.