segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Os pretos que há em nós

Uma lição exemplar sobre as nossas origens e mais uma machadada nos preconceitos racistas…

Uma reconstrução da aparência do primeiro ser humano moderno do mundo, de cerca de 160 mil anos atrás (Museu Moesgaard, Dinamarca)
Os primeiros humanos modernos eram pretos, não muito diferentes de algumas etnias africanas actuais, e assim continuaram durante milénios enquanto alguns saiam de África. Chegados à Europa, Ásia e mais tarde América, depararam-se com climas diversos e foram-se adaptando para sobreviver. Alguns chegaram cedo à  Austrália, por volta de 60.000 anos atrás - os aborígenes -, e não mudaram muito. Outros, foram para norte e ocuparam a Eurásia - cro-magnons e denisovianos -, e ficaram mais claros porque a pele clara absorve mais raios UV, essenciais para produzir a vitamina D. A pele escura, surgida nos trópicos para precisamente proteger a pele contra o excesso de radiação solar, tornou-se num problema para as sociedades de caçadores-recolectores eurasiáticos que baseavam essencialmente a sua dieta em carne de mamute e outros animais de grande porte, pobre em vitamina D. Além disso, para se protegerem do frio vestiam roupas de peles dos animais que caçavam e mais tarde de tecido, pelo que a protecção solar contra um sol menos inclemente que nos trópicos tornou-se obsoleta e até contraproducente. Os primeiros habitantes europeus, por exemplo, que conviveram com os neanderthais, eram pretos e só há uns 30.000 anos começaram a mudar a cor da pele, tornando-se uns mais brancos que outros, consoante o clima. Os mais extremos foram os escandinavos, que ficaram mais brancos que a cal. Mas os esquimós, que vivem ainda mais a norte, são um pouco mais escuros que estes, o que parece um contra-senso, mas isso acontece porque vêm de uma linhagem diferente dos escandinavos, provavelmente dos denisovianos, e seguiram a sua própria evolução paralela. Portanto, este micro-promenor da cor da pele, que tem uma importância genética como outro qualquer, mas que serviu para todo o tipo de discriminações e atrocidades, baseia-se apenas numa adaptação climática dos euroasiáticos, que mais tarde também migrariam para as américas. E os europeus e norte-americanos, que tanto gostam (agora menos, felizmente) de apregoar a sua superioridade evolutiva, são uns inadaptados quando vão para os trópicos. Basta ver os camarões escandinavos que assam nas nossas praias - são uns bichos fora do seu habitat. Não fossem as roupas e morreriam das maleitas de pele mais atrozes...

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