Lobo-ibérico - Terras de Bouro |
O crescente número de cães errantes, que não estão confinados e circulam livremente, pode estar a colocar problemas à conservação do lobo-ibérico a sul do Rio Douro, onde se localiza a subpopulação lupina em maior risco de extinção em Portugal.
A conclusão é apresentada num artigo divulgado recentemente na revista ‘European Journal of Wildlife Research’, da autoria de um grupo de investigadores das universidades de Aveiro e de Lisboa e das organizações conservacionistas Rewilding Portugal e Zoo Logical.
Para perceberem a dieta de cães errantes e de lobos que ocorrem nessa região, os cientistas estudaram 107 amostras de excrementos de lobos e 95 de cães, usando técnicas de análise genética para confirmar as espécies a que pertenciam.
E concluíram que, na região oeste, nas Serras da Freita e Arada e em Montemuro, duas Zonas Especiais de Conservação da rede europeia de áreas protegidas Natura 2000, as cabras são a presa mais consumida pelos cães, seguidas pelos coelhos e lebres, por outros pequenos mamíferos e, por fim, por javalis. Sendo o javali e a cabra as principais presas dos lobos na zona oeste da área de estudo, os cientistas argumentam que se pode estar a assistir a uma sobreposição das dietas dos lobos e dos cães errantes, havendo, assim, “um elevado potencial para competição por recursos”, diz a Rewilding em comunicado.
Na região central, a dieta dos lobos é mais diversa, alimentando-se sobretudo de aves e coelhos e lebres, ao passo que a dos cães errantes é principalmente composta por cabras e pequenos mamíferos. Na região mais oriental do estudo, só foi analisada uma amostra de excrementos de lobo que apontava para animais de gado como a principal presa, enquanto os cães errantes continuam a demonstrar preferência pelas cabras, seguidas pelos javalis.
“O lobo é muitas vezes presumido como autor dos ataques por defeito”
Este estudo debruçou-se também sobre ataques a animais de gado nessas áreas a sul do Douro. Dos 40 incidentes analisados, os investigadores concluíram, através de análises genéticas aos vestígios deixados pelos atacantes, que 62% deles foram causados exclusivamente por cães.
Descrevendo essa descoberta como “surpreendente”, a Rewilding diz que “revela o papel altamente influente que [os cães errantes] poderão ter no agudizar de conflitos entre comunidades locais e o lobo-ibérico, uma vez que o lobo é muitas vezes presumido como autor dos ataques por defeito”.
“Esperamos que os nossos resultados aumentem a consciência acerca do papel dos cães como predadores de gado e, possivelmente, também de espécies selvagens”, escrevem os cientistas no artigo. Para eles, “há uma necessidade urgente para uma melhor aplicação da lei de detenção de cães por parte das autoridades para reduzir o número de cães errantes com dono, bem como abordagens alternativas para recolha, realojamento e, em última instância, controlo da população de cães de rua”.
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