domingo, 8 de outubro de 2023

Música do BioTerra: A Garota Não com Xullaji - Não sei o que é que fica

A Garota Não representa uma inovação na canção de protesto portuguesa. Ela é clara nas posições que toma, mas, ao mesmo o tempo, recusa ser agressiva com o ouvinte ou o espetador - o protesto, a denúncia, a indignação estão lá, mas estão subordinados à sensibilidade, ao humanismo, à dignidade, à ternura e à liberdade com que quase todos nós, naturalmente, nos identificamos.


Então voltamos ao mesmo assunto
somos tão bons pró resto do mundo
na nossa casa o espeto é de pau
a prata é a fome do lobo mau
 
welcome monsieur, a casa é vossa
o mal dos outros não nos faz mossa
quem não aguenta a subida encosta
habitação é fractura exposta
 
e eu que só vinha pra falar de amor
deitar neste beat um poema em flor
mas na porta ao lado há mais um despejo
cai uma família, fica o azulejo
 
começam as obras, que casa bonita!
começam os guests,  fome é infinita
mais um AL, orgulho nacional
corrida sem lei, onde vais Portugal?
 
Não sei o que é que fica se corrermos mais [4X]
 
O kê ke fica
Komé ke fica/
Quem é ke fica/
Como é que a gente fica/
Quando essa gente rica/
Gentrifica
 
Quando ha uma gente k fica/
Com cada metro quadrado
Da nossa vida, memória
Onde é que a gente fica/
 
Quando nem se identifica
Com essa calçada refeita
Com essa fachada que foi feita
Para dar uma cara de outrora
A um fascismo de agora
Que só quer saber da receita
Na sede excêntrica
 
Quem vem de Paris é na hora
Quem tava aqui é pa fora/
Quem vem de cruzeiro vá bora/
Quem vem no barco que demora
Que vá morrer borda fora/
Que o estado quer o IMI
E o banco quer é penhora/
 
Voulez vous parlais
Parlais vous français/
Do you speak anglais/
Entre si vous plais/
Excepto se é cale
Excepto se vem de Calais/
E dizem que o mal é
Culpa de pobres, mas afinal
Qual é/
coisa qual é ela/
Quem tem tanta gente sem casa, e tanta casa sem gente,
E um camon à janela/
Qual é coisa qual é ela/
Que Desaloja e aloja

O camon e a loja
Da sardinha do Pastel
Ê o hostel, pa quem foge à
Geada do Norte,
E o sul despoja/
Desalojamento local
Pra alojamento local
No mínimo é paradoxal

E agora este local, igual
A qualquer outra capital/
Senhor Presidente não ando feliz
eu quero ser sonhos e não quem maldiz
calem-se os fachos que ardam bandeiras
aqui o assunto não são as fronteiras
 
é sempre bem vindo quem venha por bem
problema é haver um casa pra cem
salários tão baixos amarga a batuta
que felicidade interna tão bruta

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