terça-feira, 18 de abril de 2023

A falácia do fogo controlado


Relatório - Efeitos do fogo controlado num eucaliptal na Austrália

"Ecological effects of repeated low-intensity fire in a mixed eucalypt foothill forest in south-eastern Australia" (1984–1999)

Na sequência da discussão que tem ocorrido sobre fogo controlado, partilho um relatório sobre potenciais impactos negativos nos solos com efeito cumulativo.

O relatório apresenta os resultados da monitorização de 15 anos de tratamentos repetidos com fogo controlado aplicado em condições ótimas de queima de baixa intensidade, com intervalos de 3 anos entre queimas.

O estudo revela que as conclusões de experiências similares no curto prazo podem ser enganosas, ignorando tendências subjacentes de longo prazo, nomeadamente no que diz respeito a um declínio significativo de carbono e nitrogénio nos solos superficiais.

No longo prazo, o relatório aponta para que o recurso a técnicas de fogo controlado em intervalos de três anos podem conduzir a um declínio na matéria orgânica do solo e na fertilidade do solo.
O estudo conclui que a queima de baixa intensidade com intervalos de 3 a 5 anos durante um longo período de tempo, resultará provavelmente em mudanças irreversíveis na estrutura, fertilidade e abundância relativa de espécies de fauna e flora.

No longo prazo, conclui-se que incêndios de baixa intensidade em zonas mistas de eucaliptal em sopé de montanha com menos de dez anos de frequência levem a um declínio na matéria orgânica do solo e da fertilidade do solo.

Nas frequências de incêndios de 3-5 anos não foram observadas perdas de espécies de fauna ou flora, mas foi observada uma mudança significativa na abundância relativa de cada espécie.
O relatório conclui que fogos prescritos nessa frequência de 3-5 anos são insustentáveis ​​como estratégia de gestão de longo prazo em àreas florestais com características similares.

O estudo recomenda que queimadas prescritas em florestas mistas de eucalipto sejam realizadas em intervalos de pelo menos dez anos, de modo a mitigar os seus impactos negativos na vulnerabilidade e produtividade do solo.

O estudo conclui sobre a necessidade de melhor compreensão das mudanças de longo prazo nos processos do solo afetados por incêndios de baixa intensidade.

O estudo citado recomenda a utilização de indicadores que permitam comparar as condições de partida do experimento nas áreas submetidas a ações de fogo controlado e áreas marginais à intervenção nomeadamente sobre índices de hidrorepelência e variabilidade em carbono, nitrogênio e fósforo em resposta aos tratamentos com fogo.

O presente relatório foi intencionalmente escolhido por ter sido elaborado há já vinte anos, assinalando os primeiros passos mais consistentes de um exercício reflexivo em torno destas práticas e que ainda está a dar os seus primeiros passos. Curiosamente, a procura nos motores do documento revelou difícil acesso através do uso de palavras-chave na Google, Elsevier ou Sci-Hub, verificando-se que este relatório foi desmembrado por tópicos, nos quais os seus resultados são apresentados em bruto, não permitindo deste modo aceder facilmente à sua discussão e conclusões aqui partilhadas através desta ligação.

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