‘Amazônia Sociedade Anônima’ surgiu após a série homônima desenvolvida pelo diretor Estêvão Ciavatta para o programa Fantástico, da TV Globo, entre 2014 e 2015, que teve um dos episódios dedicado à grilagem e ao comércio ilegal de madeira. Ao longo de cinco anos, a narrativa do documentário foi se desenvolvendo a medida que os acontecimentos históricos se davam. A fotografia é um dos destaques de ‘Amazônia Sociedade Anônima’, que ora revela a harmonia dos povos indígenas com a floresta, ora surpreende com imagens desconcertantes do desmatamento ilegal.
De 2014 a 2018, o diretor e sua produção acompanharam ações de órgãos oficiais federais no combate ao roubo de terras públicas. Nesse período eles presenciaram as duas maiores ações do IBAMA junto ao Ministério Público e a Polícia Federal para combater o roubo de terras públicas no Sudoeste do Pará: as operações Castanheira e Rios Voadores. Ignorando os limites da lei, essas organizações criminosas começaram a avançar sobre regiões de florestas intocadas, chegando cada vez mais perto das terras dos Munduruku. Com o passar dos anos, a produção notou que as ações do IBAMA não estavam sendo suficientes para combater essas máfias de extração ilegal de madeira e roubo de terras.
A proximidade com a comunidade indígena Munduruku surgiu junto com a auto-demarcação, e com as primeiras filmagens que fizeram com o grupo indígena em 2014. Já em 2017, o diretor doou uma câmera, um tripé e um microfone ao Coletivo Audiovisual Munduruku, composto em sua maioria por mulheres, para que elas continuassem registando seus desafios na defesa de suas terras. Quando a produção recebeu as filmagens e o acervo do coletivo passou a fazer parte do filme, o diretor decidiu colocar a entidade como coprodutora do documentário.
Para Estêvão, uma câmera nas mãos dessas mulheres é a melhor forma de defesa das terras. “Nos dias de hoje o audiovisual é uma forma delas contarem sua própria história e ao empunharem as câmeras nos momentos de monitoramento e vigilância do território, elas se tornam guerreiras tão ou mais importantes que os outros guerreiros. A câmera de filmar se tornou, então, um poderoso instrumento de defesa de suas vidas e da floresta. Tudo o que acontece está sendo registrado. O filme se torna, então, estratégico para que esta realidade seja conhecida e dialogue com o mundo, abrindo novas perspectivas para o futuro da Amazônia. ”, pondera ele.
Estêvão Ciavatta reforça a relevância desse tema ser discutido através do documentário nos tempos atuais.
“Quando falamos a primeira vez sobre o assunto, em 2015, estava claro para mim a importância do tema para o futuro da Amazônia e do Brasil. Ainda em 2017, quando aprofundei o tema com entrevistas para o filme, vi que o assunto das terras públicas desprotegidas ainda estava invisível. Isso me deu mais certeza de que estava no caminho certo. Hoje, apesar da triste realidade, vejo que fiz a escolha certa. Nós temos que conhecer a realidade amazônica e respeitar 14 mil anos de história dos povos indígenas na região”.
Sobre filmar na Amazônia, o diretor destaca as dificuldades enfrentadas. “Qualquer trabalho na Amazônia é um desafio, seja por suas dimensões continentais, seja pelos contratempos de produção. Mas a disposição e a vontade venceram todas as barreiras. Posso dizer que a maior dificuldade foi a convivência com os micuins, carrapatos minúsculos que vivem na floresta”, finaliza Estêvão.
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