segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Oxfam: dados publicados pelo Banco Mundial sobre clima não são fiáveis



Cerca de 7 mil milhões de dólares (40%) dos 17,2 mil milhões que o Banco Mundial (BM) afirma no seu relatório do ano fiscal de 2020 como tendo sido destinados a ajudar os países em desenvolvimento a reduzirem os efeitos das alterações climáticas, podem nunca ter tido essa finalidade, conclui uma auditoria realizada pela organização Oxfam, revelada hoje, dia 3 de outubro.

“É alarmante”, afirmou Nafkote Dabi, responsável pela área das alterações climáticas da Oxfam, que “num momento em que a crise climática causa tantos danos, tanta pobreza e tanta fome em todo o mundo encontremos tão pouca clareza sobre a qualidade e quantidade desses fluxos financeiros”. Recorde-se que o BM é responsável por mais de 56 por cento de toda a ajuda financeira propiciada pelos bancos multilaterais aos países em desenvolvimento para combaterem os efeitos das alterações climáticas.

A gravidade da ausência de informação capaz por parte do BM é particularmente significativa, pois a maioria das outras instituições financeiras segue os procedimentos do BM, levando a que “as partes interessadas, como os governos dos países em desenvolvimento, não tenham acesso a informação correta e auditada que lhes permita responsabilizar os bancos e os governos dos países ricos”. “Tudo isto”, conclui Dabi, “introduz um défice significativo de confiança nas negociações climáticas da ONU”.

No Acordo de Paris sobre o clima (2015), as nações mais ricas comprometeram-se a investir todos os anos 100 mil milhões de dólares no apoio ao esforço de mitigação e adaptação dos países mais pobres resultantes do aquecimento global para o qual estes nada, pouco ou muito pouco contribuem. Tal montante nunca foi atingido e em 2020, segundo a Oxfam, 70 por cento dos 83,3 mil milhões investido foram-no sob a forma de empréstimos que terão de ser pagos pelos destinatários.

Esta não é a primeira vez que os fluxos financeiros contabilizados pelo Banco Mundial são alvo de críticas e descrédito. Já em dezembro de 2021 o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, afirmou numa conferência do Financial Times que o Banco Mundial estava “ausente da luta contra o aquecimento global” e que era “necessária uma nova liderança”. Hoje a liderança é a mesma e a desconfiança tem vindo a aumentar, o que não augura nada de bom em termos dos resultados da próxima conferência sobre o clima, que se realiza em Sharm el-Sheikh, no Egito, a partir de 6 de novembro.

Até ao início da noite de segunda-feira o Banco Mundial não divulgou nenhuma reação ao relatório da Oxfam.

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Working at the World Bank, I can see how it is failing humanity on the climate crisis

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