Não sou um fã em particular dos Amor Electro, mas reconheço que cantam sempre em Português e que misturam música rock (com alguns elementos eletrónicos) com música tradicional portuguesa, usando alguns instrumentos típicos como o acordeão e a guitarra portuguesa. Também revisitam temas da década de 1980 e da década de 1990 do pop/rock português, tocando versões de músicas de Sétima Legião, GNR, Ornatos Violeta e outras bandas, além das suas próprias músicas originais. Nesta canção, realmente a Marisa Liz superou todas as minha expectativas. Um excelente tributo ao visionário António Variações. E um tema novamente actual.
Já esqueceram o cantar e o sorriso
Já não são homens de boa vontade
A loucura está a vencer o juízo
O ódio, a amizade
Estão-se a despir de toda a humanidade
Vou protestar
Denunciar, vou alertar
Querem fazer a guerra nuclear
Vou protestar
Denunciar, estou-me a alarmar
Que culpa tenho eu se eles se querem suicidar
O tratado de paz foi rasgado
Já começam a fazer ameaças
O poder já está descontrolado
Estão-se a embriagar
De bombas
E os dedos já querem apertar
Vou protestar
Denunciar, vou alertar
Querem fazer a guerra nuclear
Vou protestar
Denunciar, estou-me a alarmar
Que culpa tenho eu se eles se querem suicidar
Vou protestar
Estou-me a alarmar
Vou implorar
Ao Deus da vida pra os neutralizar, vou suplicar
Vou-me queixar
Estou-me a alarmar
Vou suplicar
Ao Deus da vida pra os neutralizar
Vou implorar
Vou implorar
A caixa de sapatos onde se armazenaram as badaladas cassetes de gravações rudimentares de António Variações continua a render inéditos. Com o aval dos herdeiros do cantor, Marisa Liz é a mais recente beneficiária das suas sobras de luxo, depois do supergrupo Humanos ou mesmo de Lena D’Água terem interpretado e revelado (em décadas anteriores) temas desconhecidos de Variações, cujos esqueletos estavam escancarados nas tais fitas domésticas.
Era de Lena D’Água e da sua Banda Atlântida um dos muitos temas anti-nucleares que se lançaram no início dos anos 80, durante um dos períodos mais tensos da Guerra Fria, entre as superpotências dos Estados Unidos e da União Soviética. A canção em causa, composta por João Pedro Fonseca, intitulava-se 'Nuclear, Não Obrigado', publicada em 1982, no mesmo ano de 'Celebration' dos U2 (o primeiro dos muitos temas politizados da banda de Bono), um ano depois de 'Ronnie Talk To Russia' de Prince (a vã e bem intencionada tentativa de mediação entre a Casa Branca e o Kremlin) e dois anos depois de outros temas anti-nucleares como 'Breathing' de Kate Bush (sobre o bebé apavorado que quer regressar à barriga da mãe) e o célebre 'Enola Gay' dos Orchestral Manoeuvres in the Dark (que alerta para uma repetição da história, lembrando as bombas atómicas de Agosto de 1945 atiradas contra o Japão).
Sem sabermos, António Variações também se preocupou com o assunto nuclear durante a Guerra Fria, no início dos anos 80. E deixou gravado e escrito numa das cassetes o tema Guerra Nuclear. “A loucura está a vencer o juízo / O ódio, a amizade / Estão-se a despir de toda a humanidade”, escreveu e cantou.
Sem comentários:
Enviar um comentário