quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Seca: Climatólogo Carlos da Câmara diz que vão ser necessárias paciência e imaginação



Algures sobre o Mediterrâneo paira a razão para a seca que Portugal atravessa e que, para o climatólogo Carlos da Câmara, vai exigir paciência e imaginação, porque faz parte do futuro.

“Nós vamos ter que nos preparar para mais anos como este, de seca, porque os cenários das alterações climáticas dizem de uma forma inquestionável que a probabilidade de haver anos secos como este, ou mais secos, é maior”, disse à Lusa o professor do Departamento e Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Embora reconheça que o clima mediterrânico em que Portugal se insere tem “grande variabilidade”, Carlos da Câmara referiu que só com sorte é que 2022 poderá ainda não vir a ser um dos anos mais secos.

“Em Portugal, a chuva que mais conta é a de dezembro, janeiro e fevereiro. Quando essa falha, talvez se possa colmatar o problema, mas eu não acredito que se possa recuperar. Pode acontecer, mas eu diria que é preciso que a sorte esteja do nosso lado”, comentou o climatólogo.

A “culpa” da falta de chuva está algures por cima do Mar Mediterrâneo, chama-se anticiclone de bloqueio e foi o tema de doutoramento de Carlos da Câmara na universidade norte-americana de Missouri-Columbia. O investigador descreve-o com “uma espécie de rotunda do Marquês de Pombal” que está constantemente a desviar pelos flancos os ventos que poderiam trazer chuva a Portugal.

“Estas estruturas são extremamente robustas e podem estar 10, 15, 20 dias mais ou menos no mesmo sítio, provocando ausência de precipitação e temperaturas muito superiores ao que é habitual. Não têm a ver só com fatores em Portugal, mas com um regime de eventos à escala mundial. São estruturas (climatéricas) muito condicionadas pela temperatura da água na superfície do mar e são compatíveis com o cenário de alterações climáticas, porque sabemos que com o modo como estamos a forçar a atmosfera, este tipo de fenómenos nos climas mediterrânicos e na região do Mediterrâneo em particular vai ser mais habitual”, disse.

Apoiando-se num estudo realizado pela sua faculdade e que abrange os anos entre 1901 e 2016, o também ex-vice-presidente do Instituto de Meteorologia disse que os cinco anos mais secos em mais de um século aconteceram todos entre 2005 e 2016.

“Em 116 anos de secas, os cinco primeiros lugares são 2005, ano de uma seca muito grande de que toda a gente volta agora a falar, em segundo lugar 2012, em terceiro 2009, em quarto 2015 e em quinto 2016. Só em sexto lugar é que aparece a também célebre seca de 1945”, indicou.

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