Elena Russo é uma italiana da Toscana, de uma pequena aldeia perto de Florença. Tem 33 anos e está em Portugal há três meses. Recebeu rápido um título de residência, um processo mais facilitado para os cidadãos da UE e que representam uma boa fatia dos 109 mil novos residentes no país. Está encantada com Lisboa e é um dos 5307 italianos que passou a viver em Portugal no ano passado, os comunitários mais representados nos novos vistos. Seguem-se os franceses e os alemães.
"Estou a fazer uma espécie de digressão pela Europa. Vivi no Reino Unido, Holanda, Espanha, agora, em Portugal. Comecei por trabalhar num call center, mas não gostei e vim para este restaurante. Gosto do contacto com os clientes e trabalho no centro de Lisboa, posso ver como vivem os portugueses, também tenho muitos colegas italianos", justifica Elena Russo.
É empregada de mesa na pizzaria Valdo Gatti , no Bairro Alto, e que, na última sexta-feira estava cheia apesar de ser uma noite calma. Portugueses e estrangeiros à mesa, italianos na cozinha e no atendimento. Elena vai ficar para já por Lisboa, argumenta: "Gosto de tudo em Portugal, da comida, das pessoas, do clima, tem muito bom ambiente. As pessoas são muito mais alegres." Se tivesse que escolher um país para viver a longo prazo seriam Portugal ou a Escócia. O salário mais reduzido em comparação com Itália não é obstáculo, porque diz ser compensado pelo custo de vida mais baixo.
Em 2021, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) concedeu 109 mil novos títulos de residência, totalizando 771 mil estrangeiros no país, segundo os dados provisórios a que o DN teve acesso. Entre estes, 27 318 foram para cidadãos comunitários, maioritariamente oriundos de Itália ( 5 307) , França (4 750) e Alemanha (3 937). Já em 2020, houve uma grande entrada de italianos, mas destacaram-se mais os britânicos que estão fora da UE desde 2020.
E, sem falar dos turistas, parecem ser os estrangeiros residentes a dominar a noite de Lisboa.
Os franceses Cullet Mathis, 31 anos, e Abde Chebab, 42, o primeiro de Marselha e o segundo de Paris, conheceram-se na primeira empresa para onde vieram trabalhar e que, entretanto, deixaram.
"Vim visitar uma amiga e gostei muito. Regressei a Paris mas, como não havia grande coisa para fazer, decidi procurar trabalho em Portugal. A vida é mais tranquila, há menos agressividade, a comida, a paisagem, as mulheres. Tem-se uma vida muito boa", conta Cullet. É formado em Direito, trabalha na área de gestão da Uber e sublinha que os estrangeiros que aqui vivem têm salários superiores aos portugueses. Além de que são as empresas que recrutam a fazer todo o processo de instalação no país, o que diz facilitar muito o processo.
Bebe um copo com Abde Chebab que explica como para Portugal: "Na época, havia muitas reportagens em França sobre o país, referindo que tinha qualidade de vida, pareceu-me que tinha um ambiente parecido com Marselha, praias, e resolvi arriscar". Há um ano que trabalha num webinar (curso online para eventos).
Está cá há três anos, faltando-lhe dois para ter uma autorização de residência permanente. Já visitou de norte a sul do país. Desde 2018 que assiste à chegada de muitos jovens estrangeiros, entre eles inúmeros franceses. "Vêm por dois a três anos e os mais velhos acabam por ficar. Eu quero ficar", diz Abde.
O Relatório da Imigração Fronteira e Asilo de 2020 já destacava "o crescimento sustentado dos estrangeiros oriundos dos países da UE". Sublinhava: "Confirmam o particular impacto dos fatores de atratividade apontados em anos, como a perceção de Portugal como país seguro, bem como as vantagens fiscais decorrentes do regime para o residente não habitual".
Os 109 mil novos títulos de residência atribuídos em 2021 estão divididos maioritariamente em três tipos de vistos e com pouca diferença numérica entre eles, ao contrário de 2020, em que se destacavam os cidadãos da UE e os familiares de imigrantes. Surgem em primeiro lugar os do reagrupamento familiar (29 473), os imigrantes que vem ao encontro de familiares. Inclui os de países da UE, mas estão em maior número os oriundos do Brasil, Angola, Índia, Cabo Verde e Guiné-Bissau. Seguem-se os de países extracomunitários, para trabalhar, artigo 89 .º ( 28 544), mais do Brasil (13 027), da Índia (5685) e do Nepal (1876). Em terceiro, estão os da UE, de Itália, França e Alemanha. Os que justificaram a entrada em 2021 para estudar, são 15 405, também aqui maioritariamente de países de língua portuguesa: Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola e São Tomé e Príncipe.
Fonte: aqui
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