Chapim-real / Great Tit (Parus major) macho / male |
A primeira sessão do CineEco ocorreu em Seia em 1995, três anos depois de Severn Cullis-Suzuki em 1992 ter discursado na cimeira Rio-92, a conferência da ONU sobre o desenvolvimento sustentável, apelando, em nome das gerações vindouras e de todos os animais e seres que povoam o planeta Terra, à mudança de paradigma e reclamando um direito fundamental para essas gerações: a vida. Mais de 3 décadas passaram e é inevitável que nos questionemos sobre o que aconteceu neste tempo, o que (não) mudou e porquê, e o que podemos fazer? O discurso está alinhado com o conhecimento que se tem da gravidade da situação, mas as ações não: nem as dos estados, nem as das suas instituições, nem das empresas ou dos indivíduos. Aparentemente não é suficiente saber e conhecer, é preciso mais do que isso para mudar o curso da ação para que sejam possíveis mudanças transformadoras. Articular diferentes perspetivas e diferentes saberes, envolver diferentes atores em ações concertadas. Hoje, quero sublinhar o papel das Artes, nomeadamente do cinema, no combate à crise socioecológica cujo expoente máximo são as Alterações Climáticas e a perda de biodiversidade, dando voz às preocupações sociais, culturais e ambientais locais. O CineEco constitui-se como um desafio à transformação dos modos de vida e das formas de organização social em torno dos problemas socioecológicos globais, e constitui-se como uma estratégia para dar visibilidade à interioridade, dar voz aos territórios do interior despovoados e abandonados.
O CineEco traduz um movimento socio-cultural-ecológico único no país, atraindo anualmente filmes-documentários que refletem múltiplas culturas, que veiculam múltiplas narrativas e soluções para a construção de futuros socioecológicos mais sustentáveis, mais justos e menos desiguais. O cinema tem a potencialidade de convocar múltiplos agentes individuais e coletivos, múltiplos setores e múltiplas disciplinas, múltiplos saberes para o diálogo e a articulação de posições. A mudança social passa necessariamente por esta capacidade de articulações múltiplas e simultâneas, ao proporcionar uma análise reflexiva sobre os limites dos modelos de organização social vigentes e sobre as suas alternativas. O cinema tem essa possibilidade de apresentar a vida e a morte vistas de outras formas, implicando-nos nas narrativas pelas emoções, pelas poéticas da vida, pela imagem, o imaginário, a criatividade, e, como diria o Prof. Agostinho da Silva, abrindo-nos à possibilidade da utopia, de fazer o que ainda não foi feito.
A ficção cinematográfica ambiental, que é cada vez mais realista e nem tem de criar cenários improváveis para nos desafiar a pensar para além das fronteiras do possível, a meu ver é um instrumento privilegiado de mediação e de conexão emocional através do qual é possível conectar diferentes visões, diferentes saberes e diferentes poderes num diálogo maior em torno da multiplicidade e complexidade de formas que assume a relação da humanidade com a natureza.
Os 26 anos de CineEco permitiram a aproximação dos Senenses de todas as idades, em particular das escolas que estão envolvidas, às múltiplas questões ecológicas centrais para a região e para o mundo, através da democratização do conhecimento científico, da articulação de saberes, traduzido na tela pelas emoções que desencadeiam. Esta é a via de aprofundar diálogos e articular poderes e saberes na transformação da organização social insustentável que vivemos abrindo assim a possibilidade de construir futuros socio-ecológicos mais sustentáveis e de vidas melhores.
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