sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Variedades regionais estão em perigo e têm de ser vistas num contexto alargado


Só na Coleção de Variedades Regionais de Fruteiras da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima existem 108 variedades de macieiras. Raúl Rodrigues é o responsável por este trabalho e num AgroMeeting promovido pela Espaço Visual abordou algumas das ameaças que este património genético enfrenta.

Com vasto e reconhecido trabalho na preservação das variedades regionais de fruteiras do Alto Minho, Raúl Rodrigues, Professor da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima foi convidado de José Martino para mais um AgroMeeting organizado pela Espaço Visual.

Responsável pela Coleção de Variedades Regionais de Fruteiras da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima, onde existem 108 variedades de macieiras, Raúl Rodrigues conhece como ninguém este património, que também é feito de “história e tradições”.

Portugal caracteriza-se por uma grande variedade frutícola e a macieira é aquela que apresenta maior número de variedades regionais de norte a sul do país, existindo uma forte simbologia associada a este fruto, muito presente nas tradições regionais do Alto Minho, onde com frequência se encontram maçãs ‘Porta-da-Loja’, ‘Sangue-de-Boi’, ‘Malápio-Fino’ e ‘Pipo-de-Basto’, entre muitas outras.

Mas não só de maçãs vive o Minho, também há as peras, como a ‘Pera-de-Codorno’, da zona de Cabeceiras de Basto, os ‘Pericos-de-Fontoura’ (Valença do Minho) tal como a ‘Laranja do Ermelo’ (Arcos de Valdevez) e a ‘Laranja de Amares’.

Todavia, segundo o docente, há uma tendência de declínio que é urgente reverter. De acordo com os dados que apresentou, sustentando-se na FAO, “75% da variedade genética perdeu-se desde o século passado e 25% do restante, provavelmente estará extinta até 2050 a não ser que se tomem medidas”. E isto, entende o investigador, “constitui uma ameaça à segurança alimentar” face também a situações recorrentes como os incêndios florestais e o abandono dos terrenos agrícolas (…). Ou seja, “é eminente que se tomem medidas e se preserve esta diversidade genética porque há variedades das quais apenas existem árvores e se nada for feito em breve irão desaparecer”.

O agricultor planta de acordo com o rendimento que tem e estas variedades não são conhecidas do mercado

Raúl Rodrigues abordou vários projetos que têm utilizado estas variedades e avançado para outros patamares como a sidra, gin, pão, pastelaria (…) e com sucesso. É portanto legítima a questão colocada pelo público do AgroMeeting, porque é que não se plantam mais hectares destas variedades regionais? A resposta é que “o agricultor planta de acordo com o rendimento que tem e estas variedades não são conhecidas do mercado”.

Então, há que fazer um trabalho de promoção associado à nossa tradição e cultura, “porque estamos a falar de produtos únicos. Se se pensar na cultura isolada pode não ser rentável, mas é preciso pensar no conjunto, na paisagem, nos turistas que vistam as aldeias e vilas”.

Para terminar o docente deixou um alerta: “é responsabilidade dos países com direitos soberanos sobre os seus recursos genéticos, garantir estruturas adequadas e recursos financeiros dedicados à sua conservação”.

Artigo completo publicado na edição de março 2021.

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