quinta-feira, 3 de setembro de 2020

O mistério das sementes: o que são, quais os riscos e o que deve fazer se as receber


Portugal juntou-se à lista de países que estão a receber pacotes de sementes asiáticas de forma suspeita. A SIC falou com a DGAV para tentar perceber a dimensão do fenómeno.

Entram no território português sem os requisitos necessários e são falsamente declaradas: o Ministério da Agricultura já emitiu um alerta para as sementes asiáticas que estão a chegar a casa de cidadãos que nunca as solicitaram. Mas que tipo de risco acarretam estas sementes? O que se deve fazer com os pacotes? Que espécies de sementes estão a ser enviadas?

A Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), entidade responsável por este tipo de situações em Portugal, refere que o fenómeno é ainda muito recente no país e que faltam muitas peças para resolver este mistério.

A Comissão Europeia está a trabalhar em cooperação com os ministérios da Agricultura de vários países europeus, no sentido de monitorizar a chegada de pacotes de sementes e trocar informações.
O que diz o pacote e o que se sabe dos destinatários

De acordo com Paula Carvalho, sub-diretora da DGAV, em entrevista à SIC Notícias, os destinatários têm sido pessoas privadas sem qualquer ligação à agricultura que começaram a receber amostras, reportadas como relógios ou jóias. Em causa pode estar um esquema de fraude, visto que as encomendas são falsamente declaradas e acabam por passar no controlo alfandegário.

Estas encomendas não são solicitadas, isto é, são enviadas sem que o destinatário tivesse procedido a uma encomenda. Quem as recebe não as deve semear, nem deitar no lixo. Se recebeu uma encomenda com estas caraterísticas, eis o que deve fazer:

  • Contactar por via eletrónica a DGAV;
  • Entregar o pacote num serviço regional da DGAV ou numa Direção Regional de Agricultura e Pescas;
  • Enviar para a DGAV não só as sementes, como também o pacote, para que a entidade consiga apurar os países de origem.
Em Portugal, a DGAV revela que só hoje começou a receber contactos de cidadãos que receberam este tipo de pacotes. Esperam agora que as encomendas cheguem às suas instalações, para procederem a 
análises.

As embalagens também não são acompanhadas por um certificado fitossanitário que ateste as exigências do país, acarretando assim riscos do ponto de vista da saúde vegetal.

Em relação às zonas do país onde estão a chegar as sementes, nada se sabe. Nos contactos feitos com a DGAV, a maioria dos cidadãos não identificou a zona de residência e, por isso, não se sabe até ao momento se algum local está a ter maior incidência de casos.

De onde vêm e para onde vão

Neste momento, as encomendas estão a ser enviadas a partir de vários países asiáticos, nomeadamente, China, Singapura, Malásia, Taiwan e Vanuatu - um país na Oceânia.

O primeiro país a reportar casos foi os Estados Unidos, que começou a receber as sementes no mês de julho. No continente europeu, sabe-se que Reino Unido, França, Holanda, Alemanha, Irlanda e Portugal reportaram a existência destes pacotes.

As espécies de sementes e os riscos

Alguns países já identificaram as espécies de sementes que vêm nos pacotes, sendo que algumas são exóticas e constituem um problema ambiental.

"A Irlanda já identificou uma série de espécies, espécies que não utilizamos na produção agrícola, espécies que não conhecemos, que são novas a nível da Europa", afirmou Paula Carvalho.

Até ao momento, sabe-se que há sementes de vários tipos de couves e até de jacinto-de-água, uma espécie de planta aquática altamente invasora e prejudicial para as linhas de água. Alguns pacotes têm várias espécies de sementes misturadas.

Este não é um problema de saúde pública, refere a sub-diretora da DGAV, porque não acarreta risco para a saúde das pessoas, mas envolve um risco potencial para a saúde das plantas - um risco que pode colocar em causa produções agrícolas e também a subsistência de espécies autóctones.

Podemos falar de bioterrorismo?

As autoridades norte-americanas, que foram as primeiras a fazer face a esta situação, realizaram investigações que não identificaram, à partida, tratar-se de um caso de bioterrorismo, revela a sub-diretora da DGAV.

Mas então, qual é o objetivo do envio destes pacotes?

Tanto quanto se sabe, o objetivo é puramente comercial. Quem recebe os pacotes são pessoas que, provavelmente, já fizeram compras online. A situação está a ser vista como uma estratégia de marketing. São enviados pacotes como sendo ofertas, para que as empresas de venda online consigam aumentar as classificações online.
O que está a ser feito pelas autoridades

O Governo lançou, na terça-feira, um alerta para o envio postal de pacotes de sementes de países asiáticos, que não foram solicitados, e explicou aos cidadãos o que devem fazer com estes pacotes.

O Ministério da Agricultura vai também informar as empresas de transportes e os serviços postais para a possibilidade de conseguirem evitar a entrada deste tipo de encomendas em Portugal, bem como a autoridade alfandegária.


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