domingo, 17 de maio de 2020

Crise dita do coronavirus : o porquê da apologia do « plano Marshall»

Fonte: aqui

24 de Abril de 2020 Oeil de faucon
Por Gérard Bad
                        

Há bastante tempo que vocês constatam que a comunicação social não cessa de pedir um plano Marshall : para a agricultura, para os hospitais, para o SNCF (companhia francesa de comboios – o correspondente da portuguesa CP), a habitação, o desporto…

Mesmo a presidente da Comissão Europeia defende um « plano Marshall » para passar uma esponja por cima dos danos causados pelo coronavirus…

Porquê então este entusiasmo súbito das elites por um ou vários novos « planos Marsall », que levou a que no dia 15 de Abril de 2020 tivesse mesmo sido difundido sobre os bastidores da história que o plano Marshall havia salvo a América.

Um filme interessante que pela primeira vez revela porque é que a América queria salvar a Europa da miséria em 1945 ; na realidade, movimentos sociais de que os soviéticos poderiam utilizar.

Então, voltemos ao que realmente era o plano Marshall e tentemos entender por que hoje, depois da "guerra dos coronavírus", os estados estão novamente a servir-nos esse prato americano reaquecido. Plano que levou o mundo ocidental a um novo ciclo económico com alta produtividade industrial.

Observemos de passagem, que a produção em massa foi estimulada pela produção de guerra destinada a fornecer armas à guerra na Europa. Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos não conseguiram manter a produção industrial gerada pelo conflito mundial. O Plano Marshall terá como objectivo manter esse nível de produção endividando os países da Europa Ocidental; empréstimos usados ​​principalmente para comprar bens e armamentos americanos prevendo a Guerra Fria.

A pergunta que é necessário colocar nos dias de hoje é a de se um novo ciclo industrial está a preparar-se à escala global; ciclo que encontraria ainda recursos de produtividade.

Visivelmente, a França de Macron conta com essa renovação económica baseada na tecnologia digital e sua destruição inovadora, o seu plano "Acção Pública 2022" já está em marcha, os balcões físicos dos correios, estações de comboios ... estão a encerrar um após outro. A epidemia de coronavírus é uma bênção para testar e desenvolver a "economia digital" que a Internet permite com toda a cadeia de NTCI até à actual batalha pela supremacia do 5G. Tudo no contexto da ideologia ecológica do aquecimento global, o osso para roer deve fazer-nos esquecer a luta contra a energia nuclear.

O todo digital, inclui a necessária penetração de satélites no mundo a tal ponto que recentemente (04/02 2020) mais de 1.500 astrónomos em todo o mundo estão a pedir uma suspensão urgente do lançamento de satélites 5G. Num artigo de Abril de 2018 "GAFA e a lei do valor" (ver Nota do Tradutor no final do artigo), mostrámos como a "silicolonização" do planeta estava a suceder. Tudo isso é confirmado hoje pela empresa americana SpaceX que já colocou 180 pequenos satélites Starlink e planeia impulsionar 42.000 em vários níveis. Outros também estão no jogo: a britânica OneWeb, a canadense Telesat, os americanos Amazon, Lynk e Facebook, a russa Roscosmos e a chinesa Corporação da Indústria e Ciência Aeroespacial, poderiam haver mais de 50.000 pequenos satélites ao redor da Terra (em diferentes altitudes) para vários fins de telecomunicações, mas principalmente para transmitir Internet.

O confinamento mais ou menos generalizado, terá permitido testar em larga escala as reais possibilidades de uma gestão do mundo através dos "GAFA" americanos e chineses. Para a UE, que neste momento não está na corrida, mas com um plano Marshall "rotativa de dinheiro" (dinheiro caído do céu, dinheiro de helicóptero – Nota do Tradutor), todas as esperanças são permitidas e o coronavírus terá tido o mesmo efeito na UE que Pearl Harbor para os americanos, ele abriu os bolsos. Não é por acaso que, em 3 de Abril de 2020, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tomou as rédeas nas mãos: "Eu acho que é essencial confiar hoje num orçamento europeu que seja uma forte resposta ao coronavírus e uma espécie de plano Marshall para garantir o nosso futuro ", explicou ela no programa Europa 1. E como na época de Roosevelt, que fez votar os votos de guerra pelo Congresso, a seguir a Pearl Harbor, a UE dos 27 votou um plano financeiro de 100 biliões de euros para financiar o "desemprego parcial", após o coronavírus, a solidariedade europeia finalmente encontrada. Quanto ao Banco Central Europeu, ela liberta 750 biliões de euros.

O coronavírus serviu como um teste a nível mundial para verificar a aplicação a médio prazo do 20/80 da conferência de São Francisco de 1995, onde mais de 500 personalidades do mundo se reuniram (Mikhaïl Gorbatchev, George Bush, Margaret Thatcher , Vaclav Havel, Bill Gates, Ted Turner, etc.). Eles chegaram à conclusão de que 20% da população mundial será suficiente para apoiar todo o aparelho económico do planeta. Os 80% da população revelam-se supérfluos, não disporão de trabalho, o que a teoria marxista classifica como supranumerária. Para conter qualquer movimento social, o famoso Z. Brzezinski preconizava o Tittytainment. Um cocktail de diversão e de embrutecimento, de alimentação suficiente que permitisse, segundo dizia, manter o bom humor da população frustrada do planeta. Como podemos constatar o mundo vai nessa direcção e cada vez mais os NTCI e a robótica englobam agora toda a sociedade, ela não se detém às portas das empresas. Um artigo de Matthieu Amiech (1) fez esta observação muito criteriosa;

"Tornou-se um reflexo, a única maneira que achamos que podemos manter o contacto, conversar entre nós, tomar iniciativas colectivas: conversas pelo Skype, grupos do Whatsapp, plataformas, etc. Num contexto em que as relações directas e físicas são proibidas fora de casa, tudo existe para fortalecer o controle digital das nossas vidas. A Internet como ela existe suportará esse aumento do consumo? Isso não favorecerá os projectos de ampliação da largura de banda e da rápida instalação do 5G2? Em Itália, antes da epidemia, houve o início de uma delimitação contra o 5G; hoje, essas palavras são dificilmente audíveis muito difíceis, especialmente porque a Huawei se chega à frente para ajudar o país a recuperar. "
Os assalariados não devem ter ilusões sobre as promessas que visam o hospital público; se forem libertados fundos, eles serão libertados para "O recurso maciço às tecnologias médicas, sejam robôs cirúrgicos, aplicativos de saúde, ferramentas para tele-medicina, imagiologia médica ou simplesmente recursos informáticos que deverão permitir ao médico delegar a técnicos, enfermeiros, mas também aos próprios pacientes, numerosas tarefas que lhes incumbiam até agora ”(3).

Mesmo o apelo ao Tele-trabalho não é neutro, ele permite que o governo faça um balanço e determine como estender o seu uso, uma primeira revisão foi feita em 2018 pelo Obergo, o Observatório do Tele-trabalho. O que não é dito sobre o Tele-trabalho é que ele cresce para o estatuto de auto-empreendedor. Veja o artigo COMO PASSAMOS DO ASSALARIADO PARA O CONTRATANTE: O EXEMPLO DOS CORRECTORES

G.Bad 20 de Abril de 2020


NOTAS


1. Matthieu Amiech é um dos animadores das edições La Lenteur. Ele é um dos autores de La Liberté dans la coma (A liberdade durante o coma – NdT), um ensaio sobre a identificação electrónica e as razões para se opor a ela (La Lenteur, réed. 2019) e participa nas actividades do colectivo Écran Total, que junta resistências à informatização do trabalho e da vida quotidiana.

2. O confinamento serviu de pretexto para as operadoras de telefone obterem "procedimentos aplicáveis ​​para garantir a continuidade do funcionamento dos serviços e dessas redes". Claramente: adicionar largura de banda onde a web satura sem precisar das permissões usuais.

3. Guy Vallancien, é cirurgião e universitário francês, membro da Academia nacional de medicina e do Gabinete Parlamentar de Avaliação das Escolhas Científicas e Tecnológicas (OPECST).

Nota do Tradutor - GAFA é o acrónimo de "Google Amazon Facebook Apple", e refere-se a quatro das maiores companhias da Internet, mas pode referir-se também aos gigantes da tecnologia em geral. O GAFA - Google, Amazon, Facebook e Apple - valia em Novembro de 2017 cerca de 2,6 triliões de dólares.

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