Existem ameaças que podem extinguir algumas das 2 mil espécies de pirilampos do planeta. Torna-se urgente travar o declínio mundial destas espécies.
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Os pirilampos, de seu nome científico “Lampyris” ou lanterna em latim, são corriqueiramente conhecidos como vaga-lumes. Existem duas mil espécies de pirilampos em todo o mundo, sendo que 65 se encontram na Europa e 11 vivem entre Portugal e Espanha.
Da larva ao pirilampo
Com semelhança ao desenvolvimento da borboleta, na sua fase de larva, o pirilampo acumula reservas energéticas para se desenvolver. Esta fase dura entre um e três anos, representando a grande parte da vida do animal.
O pirilampo adulto possui o corpo segmentado em cabeça, tórax e abdómen, tem três pares de patas e um par de antenas. Tal como as joaninhas, os escaravelhos, os besouros e os gorgulhos, ostentam dois pares de asas. Um par exterior, rígido, que serve de proteção e, outro, interior e muito mais frágil, que lhes permite efetivamente voar.
As fêmeas pirilampos são geralmente maiores do que os machos, mas possuem olhos mais pequenos e apenas um segmento iluminado. Quer uns como outros, chamam pouco a atenção pelo seu corpo preto ou castanho escuro e, pelos seus anéis esverdeados ao longo do abdómen. Até que se dá a bioluminescência, isto é, até que começam a piscar.
Alimentam-se de presas de tamanho bastante superior ao seu, que imobilizam através de um veneno, tal como fazem as aranhas.
O piscar dos pirilampos
A bioluminescência é um fenómeno que se traduz pela emissão de luz visível aos nossos olhos, por parte de um organismo vivo. Esta característica deve-se a um processo biológico complexo em que participam várias substâncias. A química explica que resulta energia sob a forma de luz em 90% e, calor, em 10%.
A luz dos pirilampos é fria e altamente eficiente. Serve de defesa em relação a predadores, ou como sinal de perturbação, associando-se também a rituais de acasalamento.
As fêmeas piscam com um padrão próprio da sua espécie para atrair os machos corretos. Os machos piscam como mensagem de aproximação. Após o acasalamento, as fêmeas deixam de piscar. Existem espécies que comunicam ao crepúsculo, outras durante a escuridão da noite. Nem todos os pirilampos emitem luz, porque acasalam durante o dia.
A luz emitida pelo pirilampo-ibérico (Lampyris iberica), descrito em 2008, e pelo pirilampo-lusitânico (Luciola lusitanica), descrito em 1825, é esverdeada, intermitente nos machos e fixa nas fêmeas.
Os pirilampos estão a desaparecer
Uma equipa de biólogos da Universidade de Tufts, em Massachusetts (Estados Unidos), contou com a participação da União Internacional para a Conservação da Natureza, publicando um estudo na revista Bioscience, cujos resultados refletem as ameaças à existência de pirilampos.
São várias as causas que estão a levar ao desaparecimento das espécies de pirilampos. A poluição luminosa, química e a perda de habitat são algumas delas. É necessário e urgente parar e observar as causas da interferência humana que conduziram ao risco de extinção.
Poluição luminosa
O excesso de luz artificial dificulta a comunicação entre os pirilampos e a sua reprodução. A lanterna dos insetos bioluminescentes não consegue competir com a luz emitida pelas lâmpadas criadas pelo ser humano. O excesso de luz artificial vai inibir a produção da luz entre si.
Poluição química
Os pesticidas matam caracóis e lesmas, as presas das quais os pirilampos se alimentam. Podemos, inclusive, utilizar os pirilampos como bioindicadores, ou seja, a sua presença num determinado ambiente dá-nos informação sobre o estado desse mesmo habitat, no que respeita à sua qualidade quanto aos níveis de poluição química.
Perda de habitat
A extinção deve-se, também, à destruição dos campos e ribeiras onde vivem. A diminuição de pântanos, mangais, parques, florestas, campos agrícolas ou pastagens é um dos fatores. A degradação do seu habitat, que pela urbanização dos terrenos, a industrialização e a intensificação da agricultura, é o principal fator para o seu desaparecimento.
Estratégias de conservação
As estratégias são escassas devido às lacunas de informação sobre a distribuição dos pirilampos, a ecologia e os fatores de ameaça, para além do próprio inventário não concluído. Contudo, é importante cuidar da conservação dos pirilampos, quer pela preservação dos seus habitats, quer pela retenção da poluição luminosa e um maior controlo no recurso a pesticidas.
Em 2018 foi criado o Grupo de Peritos em Pirilampos da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) para avaliar o estatuto de conservação e o risco de extinção destes insetos a nível mundial. O grupo tem como responsáveis Sara Lewis e Sonny Won, da Sociedade Malaia da Natureza. O mesmo prevê publicar a revisão mundial das ameaças à extinção dos pirilampos.
Assista a um espetáculo de pirilampos
Das 11 espécies de pirilampos que existem em Portugal, duas delas, o pirilampo-lusitânico (Luciola lusitânica) e o pirilampo-mediterrânico (Nyctophila reichii) podiam, até ao ano de 2017, ser observadas na Quinta de Alcube, situada no Parque Natural da Arrábida, no evento 'As Noites de Estrelas e Pirilampos' que era organizado a cada mês de junho, pela Ocean Alive.
No Norte também era possível assistir à 'Noite dos Pirilampos', normalmente em junho, organizada pelo Parque Biológico de Gaia. Aqui encontram-se as espécies pirilampo-grande-de-lunetas (Lamprohiza paulionoi) e o pirilampo-lusitânico (Luciola lusitanica). Para este ano está previsto o Simpósio Internacional sobre Pirilampos, a decorrer de 17 a 19 de junho de 2020 em Gaia, cujo foco de interesse está dedicado a este grupo de insetos no âmbito da biologia, de estudos do comportamento, da sistemática e da conservação da natureza.
Se tiver a oportunidade de assistir a um espetáculo de pirilampos, pedimos-lhe que observe os seus padrões de cintilação sem qualquer tipo de interferência. Os locais mais adequados para observar pirilampos são as zonas húmidas, longe de pesticidas e luzes intensas.
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