Estreado a 25 de outubro de 1984, foi um dos maiores êxitos de bilheteira do cinema português, ultrapassando os 300 mil espetadores.
Sinopse
Álvaro Serpa, jornalista de trinta anos, sai de casa duma amiga, pelas seis horas da manhã. Decide tomar a marginal, e estacionar a sua viatura junto ao mar. Adormece. Subitamente é acordado por vozes à distância. Volta-se, e vê um homem e a sua amante, que discutem e se agridem. Ela foge e refugia-se no carro de Álvaro. O vestido dela, sob o casaco de peles, está roto. A mulher roga-lhe: "Leve-me daqui!". Partem. Mas, bruscamente pede-lhe que regressem ao local, onde encontram o companheiro morto... A misteriosa mulher, ao ver o homem morto, desaparece. Inicia-se uma investigação policial ao suicídio de Álvaro Allen. Quando Álvaro Serpa, jornalista, é chamado a depor, omite deliberadamente a presença da amante no momento do acidente, motivado pela curiosidade em descobrir quem era aquela mulher enigmática que tanto o fascinara. O jornalista descobre que o seu nome é Ana Mónica e começa então a procurá-la para desvendar o caso.
Produção e desenvolvimento
José Luís Vasconcelos, irmão do realizador, assume a produção de O Lugar do Morto, que contou com um patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian. As gravações de exteriores decorreram acima de tudo em Lisboa. Algumas das cenas mais emblemáticas do filme, como as da marginal junto ao mar, foram rodadas no município da Parede. Ainda assim, três curtas cenas foram filmadas no Porto, junto ao Grande Hotel do Porto, à ponte Maria Pia e na discoteca Swing. Sobre a sua abordagem ao argumento, Vasconcelos admitiu que o protagonista, Álvaro, se poderia considerar um alter ego seu: "Lembrei-me do Álvaro por causa da ideia da paternidade e de como ela é vivida. (...) Corresponde a uma fase da minha vida." Por isso se justifica, em parte, que Diogo Vasconcelos, filho de António-Pedro Vasconcelos, interprete o papel de João, o filho mais novo de Álvaro Serpa.
O Lugar do Morto surge numa altura em que o cinema português despertava para uma nova época na qual os cineastas se encontravam na ressaca dos limites da ditadura. Nesse sentido, a longa-metragem enquadra-se na tentativa de romper com o passado, quebrar barreiras e instaurar uma lufada de ar fresco, por utilizar uma estrutura de um policial clássico e de thriller policial americano (com influências do cinema noir). De facto, Vasconcelos e Carlos Saboga utilizam o enredo usual das películas do cinema norte-americano e desenvolvem-no com ferramentas típicas da cultura portuguesa, quer a nível visual quer a nível de argumento.
O filme é uma história de ficção, com elementos de sedução fatal e de deriva de sentimentos, que versa o desmoronamento da instituição familiar e a consequente redistribuição de lugares a que isso força. Sobre esta ideia, Jorge Leitão Ramos escreve que O Lugar do Morto é "uma ficção sobre o estilhaço da instituição familiar e a redistribuição de lugares que isso opera, um filme em torno de um quotidiano febril onde os gostos são todos fátuos"
Premiações
Em 1984, a longa-metragem arrecadou quatro prémios da Federação Portuguesa de Autores (para melhor filme português, melhor banda sonora, melhores diálogos e melhor ator masculino). O Lugar do Morto foi também premiado internacionalmente, no Festival de Huelva (Espanha) e no de Moscow (Rússia).
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