quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Anselmo Borges: Ética ecológica

É significativo que, até pela via etimológica, ética e ecologia estão relacionadas. De facto, ética vem do grego êthos, que significa costumes e morada; ecologia provém de duas palavras gregas (oikos, casa, e lógos, razão, discurso) e significa tratado da casa, também em conexão com economia (oikos e nómos, lei), a lei da casa.
[...]
Logo pela etimologia se vê a importância decisiva do tema, pois é da nossa casa e do cuidado por ela que se trata. O debate tem-se tornado premente por causa da crise ecológica: alterações climáticas, contaminação do ar, do solo e da água, desertificação, extinção de espécies.
Figura eminente do biocentrismo foi Albert Schweitzer, filósofo, teólogo, médico, músico, missionário fundador do hospital de Lambarene, no Gabão, Prémio Nobel da Paz. Para ele, a vida é algo de sagrado, despertando veneração e respeito. O seu princípio fundamental é: "Eu sou vida que quer viver no meio de vida que quer viver."

Frente ao antropocentrismo, afirma-se o fisiocentrismo (do grego physis, natureza), que, contra a concepção moderna objectivante e físico-matemática da natureza, a afirma como organismo vivo e subjectividade autocriadora, no quadro de uma cosmovisão de cariz panteizante e reivindicando, assim, uma dimensão ética para toda a natureza. Contra o dualismo homem-natureza, vê o Homem integrado na natureza, numa unidade de co-pertença, que exige o paradigma da colaboração, contra o paradigma da objectivação e da exploração pelo Homem.

Face a estas concepções, é necessário superar um duplo radicalismo: o antropocentrismo que tudo objectiva e o naturalismo panteizante. Para isso, impõe-se estar atento ao lugar do Homem na evolução: se, por um lado, ele não é desvinculável da natureza, por outro, não é idêntico à natureza, pois tem características que o tornam qualitativamente diferente: é natureza humana.

Neste contexto, a distinção entre agente moral, status reservado ao Homem enquanto ser racional e livre, e paciente moral, qualidade atribuível a todos os seres naturais, proposta por Gómez-Heras e outros, ajuda a iluminar o problema. Ao Homem compete a construção de um mundo moral, pelo conhecimento, reflexão e decisão. E faz-se justiça à natureza, "reconhecendo os valores de que é portadora" e assumindo-os como fonte de respeito e obrigação moral.


Todo o artigo aqui

Sem comentários: