Livrar-se do Estado não é um gesto repentino, mas um processo contínuo de desobediência, consciência e construção coletiva. O Estado não é apenas um governo, é uma estrutura mental, econômica e cultural que transforma pessoas em peças úteis a um sistema que vive da obediência. Ele se infiltra na educação, ensinando a submissão; na economia, criando a dependência; na cultura, padronizando os desejos; e na moral, domesticando a rebeldia. O Estado existe para impedir que pensemos e ajamos por conta própria. Por isso, ser anarquista é aprender a desaprender o Estado (romper com as amarras que ele nos impõe e reconstruir a vida com base na liberdade e na solidariedade).
Um anarquista não espera revoluções decretadas por partidos, nem acredita em líderes que prometem o que só o povo pode criar. Ele começa onde está, com o que tem, e com quem quer somar. A juventude que busca a liberdade precisa entender que autonomia não se conquista pedindo direitos, mas tomando o controle da própria existência. Isso começa pela autogestão do tempo, da mente e das relações. Aprender um ofício, cultivar alimentos, criar coletivos independentes, compartilhar saberes e ferramentas, tudo isso são sementes de uma sociedade sem Estado.
A autogestão de espaços livres nasce da afinidade entre pessoas dispostas a viver e decidir juntas, sem hierarquias. São oficinas, ocupações, comunidades, redes de partilha que funcionam fora da lógica da propriedade e do lucro. Nesses espaços, o trabalho deixa de ser exploração e se torna expressão; o aprendizado deixa de ser disciplina e se torna descoberta; a vida deixa de ser sobrevivência e se torna criação.
O Estado tenta impedir isso de todas as formas: criminalizando os pobres, militarizando territórios, privatizando a terra, monopolizando a informação e sequestrando o tempo das pessoas com jornadas exaustivas. Mas a livre iniciativa libertária não depende da permissão de ninguém. Quando nos unimos em associações voluntárias, cooperativas e comunas, quando compartilhamos meios de produção e conhecimento, estamos minando a base do poder estatal.
A liberdade não é um ideal distante, é uma prática diária. Ela cresce quando nos ajudamos mutuamente, quando desafiamos a autoridade com coragem e quando criamos alternativas reais à dependência. O Estado é forte enquanto acreditamos que ele é necessário. No momento em que cada um de nós decidir viver como se ele não existisse (e agir com outros que pensam o mesmo), ele começa a ruir.
A verdadeira revolução começa no instante em que paramos de pedir permissão para sermos livres.
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