e na luz de oiro azul esqueço já quanto li.
Dizia o jornalista que a guerra suja algures no Cáucaso o indigna,
lá onde assassinatos, torturas, gente para sempre desaparecida,
é o que a todas as horas acontece.
Porém, a ilusão da guerra limpa, a guerra cumpridora
das civilizadas convenções, o massacre legitimado, cordato, legal,
quem poderá ainda suportá-la?
Entrando pelos olhos dentro o horror da guerra,
a sua definitiva barbárie mesmo quando promana
das grandes civilizações,
nada mais restou: as nações declararam proscrevê-la,
apontando nela finalmente a maldição. Fatal porém
a timidez com que o fizeram:
distinguindo entre defesa e agressão e permitindo a primeira
contra a segunda,
como de justiça parece,
abriram a porta a todas as falsidades.
Disfarçar de defesa a agressão tornou-se um jogo de principiantes,
e sempre de grande efeito.
E os corpos esfacelados explodindo, as cabeças decepadas
à bomba servidas em bandeja,
as mais científicas e fisiológicas torturas,
livremente proliferam.
E enquanto o mundo se revolta com a revelação das crueldades
que só os ingénuos,
e são multidão,
suporiam os senhores do império incapazes de cometer,
e ocupam as pantalhas e as primeiras dos jornais,
o legalíssimo exército avança e massacra sobre as cidades
para outros santas,
e para o invasor apenas uma vulgar posição a tomar.
E o mundo, justamente clamando o seu horror pelo horror civilizado
e pelo bárbaro terror,
placidamente consente entretanto o legalíssimo massacre,
aquele que impõe a implacável lógica do poder e da conquista.
Resta apenas banir toda a guerra,
a legal e a ilegal,
a civilizada e a barbárica,
a de defesa e a de agressão,
que como hidra surgem de quem produz e detém armas
em sete cabeças sempre renascidas,
banir a inútil tralha antes de tudo o mais,
tornar impossível a agressão
e inútil a defesa.
Tudo mais vento e perseguição de vento.
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