quarta-feira, 1 de março de 2023

Mapa europeu das substâncias químicas “eternas” revela contaminação em Portugal

Consórcio de investigação e jornalismo divulgou esta quinta-feira os resultados de um projecto de mapeamento que assinala múltiplos locais na Europa contaminados por substâncias persistentes.


Um mapa europeu sobre as pegadas da contaminação por substâncias perfluoroalquiladas​ —​ conhecidas como PFAS ou, mais informalmente, como “produtos químicos eternos” — foi divulgado, esta quinta-feira, por um consórcio de investigação e jornalismo que juntou vários meios de comunicação numa denúncia comum. O trabalho revela que estas substâncias tóxicas, que ainda são usadas em vários produtos, foram encontradas em águas, solos e sedimentos de vários países da união Europeia e do Reino Unido. Portugal surge neste documento com oito pontos de contaminação.

"Poluentes conhecidos como 'produtos químicos eternos', que não se decompõem no ambiente, se acumulam no corpo e podem ser tóxicos, foram encontrados a níveis elevados em milhares de locais em todo o Reino Unido e na Europa", avisa a notícia publicada, esta quinta-feira, pelo The Guardian.

O mapa assinala os nove pontos, entre as amostras recolhidas em Portugal, onde foi identificada uma contaminação igual ou superior a 10 nanogramas por litro de água (n/l): ​​Bravães (Ponte da Barca, 190 ng/l); Praia Pontilhão da Valeta (Arcos de Valdevez, 160 ng/l); ​Penide/Areias de Vilar (Barcelos, 350 ng/l); Albufeira de Crestuma-Lever (Vila Nova de Gaia, 460 ng/l); Montemor-o-Velho (240 ng/l); Muge (Salvaterra de Magos, 3200 ng/l); Ribeira Vale do Morto (Elvas; 10 ng/l); Monte da Vinha (Elvas; 750 ng/l) e Ermidas do Sado (Santiago do Cacém, 450 ng/l).

O alerta com as conclusões da investigação foi divulgado ao mesmo tempo em vários meios de comunicação social europeus. O consórcio de investigação e jornalismo envolve as seguintes organizações ou meios de comunicação: Watershed Investigations, Le Monde (França), NDR, WDR, Süddeutsche Zeitung (Alemanha), RADAR Magazine e Le Scienze (Itália), The Investigative Desk e NRC (Holanda), Journalismfund.eu e Investigative Journalism for Europe.

A revelação do mapa da contaminação com as substâncias persistentes ocorre poucos dias depois de a União Europeia anunciar a intenção de proibir as PFAS a partir de 2026, ou no ano seguinte. As PFAS constituem uma classe com mais de nove mil substâncias químicas valorizadas pelas suas propriedades antiaderentes e detergentes. É por isso que são usadas em inúmeros produtos, das embalagens alimentares aos utensílios de cozinha, passando por têxteis, tintas, espumas de combate a incêndios e produtos médicos.

Estas substâncias são informalmente referidas como “produtos químicos eternos” porque não se degradam com facilidade, persistindo na natureza e acumulando-se nos organismos vivos. O mapa agora divulgado mostra que estes produtos persistentes têm sido encontrados em cerca de 17 000 locais em todo o Reino Unido e na Europa. Desse total, as PFAS foram detectadas em concentrações elevadas de mais de mil nanogramas (ng) por um um litro de água em cerca de 640 zonas, e acima de dez mil ng/l em 300 outras localidades.

Consequências para a saúde
Duas PFAS têm estado particularmente ligadas a vários problemas de saúde: a PFOA tem sido relacionada ao cancro renal e testicular, doença da tiróide, colite ulcerativa, colesterol elevado e hipertensão induzida pela gravidez; enquanto a PFOS tem estado associada a doenças reprodutivas, do desenvolvimento, do fígado, dos rins e da tiróide. As PFAS têm ainda sido associados à imunotoxicidade.

"Estes tipos de concentrações suscitam preocupações", disse Crispin Halsall, professor da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, especializado em química ambiental, citado pelo Guardian. "Há o risco de o gado ter acesso a essas águas e [, nesse caso, as PFAS entram] na rede alimentar humana".

O especialista recorda ainda que as PFAS nas águas subterrâneas constituem "um grande problema", uma vez que estas reservas são frequentemente captadas para a agricultura ou, pior ainda, para consumo humano.

Já Ian Cousins, cientista ambiental da Universidade de Estocolmo, refere que os locais com leituras superiores a mil nanogramas por quilo deveriam ser "urgentemente avaliados" para que possam ser remediados.

"Em sítios [altamente] contaminados, as autoridades locais deveriam considerar a possibilidade de testar para garantir que os níveis de PFAS são seguros nos produtos locais. Isto ajudaria a determinar se são necessários conselhos de saúde locais e campanhas de publicação para desencorajar o consumo regular de peixes selvagens, mariscos, ovos [produzidos por galinhas] ao ar livre", acrescentou ao Guardian.

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