quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Pesquisadores encontram a árvore mais alta da Amazónia

Um Angelim vermelho de 88,5 metros, na Floresta Estadual do Paru, no Amapá.
A seguir, assista ao vídeo gravado que revela o momento do encontro do Angelim vermelho, a árvore mais alta da Amazônia, já catalogada.



O encontro com a maior árvore da Amazônia – um Angelim vermelho (Dinizia excelsa Ducke) -, só foi possível graças a cinco expedições cientificas realizadas durante quatro anos pelo grupo de pesquisadores que integra o Projeto Árvores Gigantes da Amazônia, liderado pelo Instituto Federal do Amapá (Ifap).

A árvore majestosa, que tem 88,5 metros de altura (similar a um edifício de 30 andares!) e 9,9 metros de circunferência, foi identificada por satélite em 2019, e está localizada no sul do Amapá, na Floresta Estadual do Paru (fronteira entre Pará e Amapá).

Sua idade foi estimada pelos pesquisadores em cerca de 400 anos a partir de cálculos matemáticos realizados com base na dendrocronologia, técnica que analisa os anéis de crescimento das árvores. Mas ainda falta comprovar esse dado.

A gigante faz parte de um santuário de árvores de grande porte (cinco exemplares com mais de 80 metros de altura; a média no bioma é de 40 a 60 metros) localizado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Iratapuru, onde vivem populações tradicionais que exploram a castanha de forma sustentável.

Em 2019, os cientistas foram ao encalço dessa gigante, mas, quando faltavam apenas três quilômetros para chegar ao local exato, tiveram que desistir da viagem por falta de alimentação, combustível e tempo suficientes.

Em outubro de 2020, após sete meses de pausa devido à pandemia da covid-19, uma nova expedição percorreu a região e fez o registro da mais alta castanheira (Berthollhetia excelsa) – 66,66 metros – já mapeada na reserva do Rio Iratapuru.

No ano passado, em setembro, em nova incursão pela floresta, os cientistas se depararam com a segunda maior árvore da espécie Angelim vermelho, com 85,44 metros de altura e circunferência de 9,45 metros, em Porto Alegre, na região do rio Cupixi. Sua idade foi estimada em 500 anos.

E, finalmente, este ano, durante a expedição realizada de 11 a 22 de setembro, os pesquisadores brasileiros ficaram diante da maior árvore da Amazônia.

Eles partiram da região do Laranjal do Jari, a 275 Km de Macapá, acompanhados por guias amapaenses. Durante oito dias de viagem: durante quatro, percorreram 250 Km pelo rio Jari, enfrentando corredeiras, e mais quatro para vencer 40 km de caminhadas pela floresta nativa.

“Olha só a emoção da equipe toda! Olha só o tamanho dessa gigante, desta rainha da Amazônia! Nossa, é linda, é linda!”, declarou João Matos, engenheiro florestal da Promotoria do Meio Ambiente de Macapá, que registrou o encontro com o magnífico angelim em vídeo, que você pode assistir no final deste post. “Muita emoção! Valeu todo o sacrifício!”, completou.

O projeto

Para criar um mapa da biomassa florestal na Amazônia Legal, o professor Eric Gorgens, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), trabalhou em parceria com um grupo de pesquisa do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que realizou mais de 800 sobrevoos na Amazônia.

As informações obtidas por eles foram cruzadas com dados de 594 ‘coleções de árvores’ espalhadas por toda a Amazônia brasileira, analisados por pesquisadores de universidades do Brasil, da Finlândia e do Reino Unido. Esses dados foram obtidos por meio de sensoriamento remoto e identificaram sete áreas com árvores muito altas, que ultrapassam 80 metros.

Seis dessas regiões estavam próximas do Rio Jari, no sul do Amapá, incluindo a área na qual foi encontrada o angelim vermelho mais alto do bioma, em setembro último (para compreender a dimensão dessa descoberta, vale lembrar que as sequoias-gigantes – consideradas as árvores mais altas do mundo – medem entre 85 e 110 metros e são naturais do hemisfério norte).

A partir desse levantamento foi criado o Projeto Árvores Gigantes da Amazônia – coordenado por Gorgens e por Diego Armando, professor do Instituto Federal do Amapá, Campus Laranjal do Jari -, cuja missão é potencializar o uso sustentável dos recursos naturais de forma a aprimorar atividades e práticas como o extrativismo, a produção artesanal, o cooperativismo e o turismo ecológico, favorecendo todos que vivem na região, em especial o povo ribeirinho.

O projeto conta com financiamento da Fundação Jari, da Universidade de Swansea (Reino Unido), do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), além da empresa de energia North Solar.

Por que tão gigantes?

Com o Projeto Árvores Gigantes da Amazônia foi possível descobrir uma região de floresta – próxima do Rio Jari – que se destaca por concentrar as espécies mais altas do bioma, incluindo o Angelim vermelho de quase 90 metros.

As pesquisas identificaram que, por crescer entre vales, essa espécie se beneficia da pouca incidência de ventos, o que favorece seu crescimento e a busca por sol para a realização da fotossíntese. Além disso, as chuvas caem com regularidade e o solo é profundo e bem estruturado. Talvez isso justifique seu crescimento ‘exagerado’.

Mas, além dessas peculiaridades, Erik Gorgens destacou à reportagem do G1 que, por estarem situadas numa unidade de conservação as espécies gigantes estão protegidas contra a ação predatória do homem. O que não significa que a criação de leis que garantam proteção integral seja dispensável já que a devastação na Amazônia é cada vez mais constante.

Nesse aspecto, a adesão do Ministério Público do estado do Amapá como parceiro do projeto Árvores Gigantes da Amazônia, em 2021, foi bastante acertada: a instituição assumiu compromissos para incentivar e articular a criação de um projeto de lei voltado para a proteção das espécies gigantes, além de apoio logístico para a continuidade das pesquisas.

E Erik acrescentou: “A espécie não está em risco humano, mas ainda estamos estudando para entender o quão raras são as gigantes da Amazônia. Aliado a isso, percebemos a importância, por exemplo, da captação do estoque de carbono que essas florestas guardam, especialmente neste momento de mudanças climáticas”.

É bem provável que o angelim vermelho tenha maior capacidade de absorção de gás carbônico, visto que, as pesquisas apontam que 60% de sua biomassa é composta por ele. Mas Erik destaca que ainda é cedo para afirmar que as alterações do clima interferem no desenvolvimento da espécie ou se o avanço do desmatamento ainda poderá impactá-la. Afinal, de acordo com o Inpe, somente este ano foram derrubadas cerca de 1.752.296 árvores por dia!

“Ainda não dá pra detectar uma tendência de prejuízo. Mas o aquecimento global, por exemplo, faz com que se reduza a quantidade de nuvens, que protegem os Angelins. Com isso, ela pode sofrer maior incidência solar e ter seu desenvolvimento prejudicado. Todos os extremos climáticos podem gerar risco”.

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