Por São José Almeida
Mais uma vez, a ministra de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros, Mariana Vieira da Silva, comunicou ao país as regras destinadas a tentar conter o crescendo de contaminações por covid-19 e assumir que recuavam nas medidas mais 16 concelhos que se juntaram a Albufeira, Lisboa e Sesimbra em situação de risco muito elevado por terem ultrapassado a incidência de 240 novos casos por cem mil habitantes nos últimos 14 dias. Destes dezasseis concelhos, onze integram a Área Metropolitana de Lisboa: Almada, Amadora, Barreiro, Cascais, Loures, Mafra, Moita, Odivelas, Oeiras, Seixal e Sintra.
Soube-se também que em situação de risco elevado, ou seja, com uma incidência superior a 120 novos casos, há 26 concelhos entre os quais Alcochete, Montijo, Palmela, Setúbal e Vila Franca de Xira, na Área Metropolitana de Lisboa, além do Porto, Braga e vários concelhos no Algarve. Esta região do país representava, esta semana, 10% dos casos a nível nacional. Isto quando os novos casos de covid-19 ultrapassam esta semana os dois mil por dia.
É certo que, graças ao avanço na vacinação em Portugal, há um número muito menor de mortos por covid-19, ainda que os internamentos estejam a aumentar, de tal forma que esta semana foi conhecido o aumento “explosivo e muito preocupante” de recursos ao serviço de urgência do Hospital de São João, no Porto, por casos de covid-19.
Mas é já conhecido que a variante Delta do vírus SARS-CoV-2 está em crescimento, será dominante em Portugal e que é 60% mais transmissível do que as estirpes anteriores. E ainda que, como sublinhou a ministra Mariana Vieira da Silva, na conferência de imprensa do Conselho de Ministros, a vacinação integral das pessoas com mais de 60 anos que aguardam a segunda dose da vacina da AstraZeneca deva estar terminada a 11 de Julho, isso não basta.
Ficou já claro que para atingir a imunidade de grupo em relação à covid-19, perante a rapidez de contágio da variante Delta, a vacinação tem de abranger 85% da população, ou seja, incluir os jovens e as crianças, como explicou ao PÚBLICO o epidemiologista Manuel Carmo Gomes.
Isso mesmo foi assumido pela ministra da Saúde, Marta Temido, na terça-feira, ao declarar que “as informações sobre quando será atingida a imunidade de grupo têm de ser revistas e actualizadas face àquilo que é a própria dinâmica da transmissão da infecção e a emergência de novas variantes”. Alertando mesmo para que a existência de “mais casos” irá levar a que mais pessoas precisem de ser internadas em hospitais e suba também o número dos internados em unidades de cuidados intensivos, bem como aumentem os que terão “um desfecho fatal”.
Perante este quadro, na quarta-feira, o Presidente da República insistiu na ideia de que a situação actual não deve levar as pessoas a um “discurso alarmista fundamentalista”, uma vez que há menos vítimas mortais por covid-19. E pede que a Direcção-Geral da Saúde explique por que razão o primeiro-ministro está em confinamento por ter contactado com um membro do seu gabinete que estava contaminado, apesar de estar integralmente vacinado há mês e meio.
Acredito que Marcelo Rebelo de Sousa levantou esta questão para que se fizesse pedagogia sobre a necessidade de as pessoas integralmente vacinadas manterem o respeito por todas as regras sanitária anticovid-19. Parece-me evidente que o Presidente sabe que o facto de se estar integralmente vacinado não evita que quem contraia o vírus o transmita, mesmo que não contraia a doença. Parafraseando, aliás, o primeiro-ministro, numa frase que repetiu à exaustão no início da pandemia: “O vírus não anda sozinho. Somos nós que o levamos. Se nós não formos, ele não vai.”
Para fazer face ao aumento de contaminações, que neste momento cresce entre pessoas mais novas, o Governo apenas acrescenta uma medida de restrição ao quadro anterior para os concelhos em situação de risco, a proibição de circulação na via pública a partir das 23h até às 5h da manhã seguinte. Mantendo a proibição de saídas e entradas da Área Metropolitana de Lisboa a quem não tem certificado digital covid-19. E alargando aos novos concelhos em risco elevado as restrições, já aplicadas desde a semana passada, de obrigatoriedade de fecho da restauração às 15h30 aos fins-de-semana e feriados, assim como do comércio em geral, e às 19h as lojas de venda a retalho de bens alimentares.
No fundo, a displicência reactiva do Governo mostra que este continua a sobrevalorizar a economia e a retoma económica. E opta por uma política de pequenos passos. De passo a passo, a caminho dos próximos recuos.
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