segunda-feira, 10 de maio de 2021

BES, falência e um fundo abutre. Resort Zmar “deve 60 milhões de euros ao Estado”


Os proprietários das casas privadas do empreendimento turístico Zmar, na Zambujeira do Mar, em Odemira, continuam a protestar contra o alojamento de imigrantes por causa da covid-19. Isto numa altura em que se revela que os donos do resort devem 60 milhões de euros ao Estado.

A história do Zmar cruza-se com o descalabro do BES e pesa também nas contas do Novo Banco.

O projecto nasceu como um sonho de Francisco Espírito Santo de Mello Breyner – e não, o nome não é só coincidência, faz parte da família Espírito Santo que também deu nome ao BES.

O empreendimento turístico foi inaugurado em Junho de 2009 depois de um investimento superior a 30 milhões de euros que contou com fundos públicos.

O projecto arrancou durante o Governo de José Sócrates como tendo Potencial Interesse Nacional (PIN), factor que motivou um investimento público, incluindo fundos comunitários, de mais de 7 milhões de euros.

A classificação como PIN acelerou os processos de licenciamento, mesmo que “o empreendimento se localizasse numa área natural considerada “sensível”“, como repara a revista Sábado.

A zona do Zmar integrará área pertencente à Reserva Agrícola Nacional e à Reserva Ecológica Nacional. Isto inviabilizaria qualquer construção naquela área.

A publicação repara ainda que o resort protagonizou “um dos maiores investimentos turísticos concretizados em Portugal em plena crise financeira internacional do subprime e na antecâmara do pedido de resgate internacional às contas públicas portuguesas, em 2011″.

Créditos tóxicos do Novo Banco
O projecto também obteve financiamento do BES, mas acabou a integrar os créditos tóxicos do Novo Banco após a falência da empresa que detinha o resort, a Cravex.

Foi então que o fundo norte-americano KKR comprou uma carteira de crédito malparado ao Novo Banco por mais de 2 mil milhões de euros. Esse pacote incluía a dívida de 7,3 milhões de euros da Cravex que detinha 56,6% da Multiparques a Céu Aberto, Campismo e Caravanismo em Parques, a empresa dona do Zmar.

O KKR é um dos grandes fundos-abutre internacionais, detendo uma das maiores carteiras de crédito malparado do mundo.

A Ares Lusitani, empresa detida pela HipoGes, uma sociedade do grupo KKR, acabou por comprar a maioria do capital da Multiparques.

Francisco Espírito Santo de Mello Breyner, que detinha 100% da Multiparques, ficou com apenas 43,4% da empresa.

Mas, em Março deste ano, foi a vez da Multiparques entrar em insolvência a pedido da Ares Lusitani, como reportou o Jornal de Negócios.

Entre os credores da empresa estão a AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), o Turismo de Portugal, o Novo Banco, a Iberdola e a plataforma a Booking.com, segundo a publicação.

Licenciado como parque de campismo
A líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, assegura que o empreendimento turístico deve “cerca de 60 milhões de euros ao Estado”, conforme declarações à TVI24.

O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, já tinha dito que o Zmar é “um parque de campismo em situação de insolvência em que o Estado é o maior credor“.

Cabrita também vincou que o resort está “licenciado como parque de campismo” e que, portanto, “dispõe de capacidade que não tem a ver com estruturas ocupadas por pessoas com direitos de permanência”.

O espaço tem cerca de 260 casas individuais, sendo que 100 pertencem ao resort e 160 são detidas por privados.

Os advogados de cerca de 120 proprietários continuam a contestar a requisição civil do Governo que pretende alojar no Zmar trabalhadores agrícolas do concelho, na sua maioria imigrantes, em isolamento profilático por causa da covid-19.

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