Não parecem existir mais dúvidas relativamente ao facto de o glifosato ser considerado um supressor do sistema imunológico.
Um novo trabalho de investigação publicado a 4 de dezembro de 2020 na revista “Fish & Shellfish Immunology” procurou avaliar uma possível protecção imunológica para peixes através de uma dieta rica em semente de Nigella sativa (N. sativa).
A aquacultura sustentável enfrenta muitos desafios, como a exposição destes animais em cultura a água contaminada por pesticidas. Os pesticidas usados na agricultura podem atingir os sistemas de aquacultura directamente (por práticas de agricultura integradas) ou indirectamente (através da lixiviação dos solos) e provocar uma série de efeitos ecotoxicológicos em peixes e crustáceos em cultura. Este trabalho teve como objectivo estudar o efeito do glifosato sobre vários parâmetros: hematológicos, bioquímicos e imunológicos em alevinos de carpa comum (Cyprinus carpio), a quarta espécie de peixe mais cultivada em todo o mundo. Para além disso, foi igualmente avaliado o potencial de suplementação da dieta com sementes pretas de Nigella sativa (nas concentrações de 0,25; 0,5 e 1%) com vista a diminuir a toxicidade associada ao glifosato.
Os resultados demonstraram que a exposição a concentrações subletais de glifosato, durante 14 dias, de alevinos de carpa aumentou o stress oxidativo, diminuiu as defesas antioxidantes, e afectou várias vias metabólicas que induziram a depressão imunológica. Acresce que, os peixes alimentados com dietas enriquecidas com N. sativa nas concentrações de 0,25; 0,5 e 1% durante 60 dias lidaram melhor com a exposição ao glifosato, do que os peixes controlo e exibiram níveis mais estáveis nos parâmetros bioquímicos séricos (proteína total, albumina, triglicerídeos, LDL, colesterol e HDL), níveis mais elevados de defesas imunológicas (lisozima e imunoglobulina) e enzimas antioxidantes mais elevadas (superóxido dismutase, glutationa peroxidase) do que os peixes controlo. Os peixes alimentados com dietas enriquecidas por N. sativa também exibiram níveis de peroxidação lipídica, enzimas metabólicas mais baixas (alanina aminotransferase, aspartato aminotransferase e fosfatase alcalina) e níveis mais baixos de cortisol do que os peixes controlo. Em conjunto os resultados demonstraram que a inclusão dietética de sementes de N. sativa pode ser usada como uma estratégia de biorremediação sustentável, mitigando muitos dos efeitos negativos da exposição de peixes ao glifosato.
Tradução por Ana Paula Pacheco
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