segunda-feira, 22 de julho de 2019

Crise hídrica. Especialistas alertam para a urgência de novas soluções

Para evitar uma crise hídrica à escala global, é necessário abraçar novas soluções, alertam os especialistas reunidos em Estocolmo até esta sexta-feira (2018) para a Semana Mundial da Água. A escassez de água, as alterações climáticas e o rápido aumento da população têm ameaçado os ecossistemas. No entanto, o potencial das infraestruturas verdes não tem sido explorado.


Segundo a Organização das Nações Unidas, quase metade da população mundial, 3.600 mil milhões de pessoas já vivem em áreas com potencial escassez de água pelo menos um mês por ano. As estimativas apontam que estes números podem aumentar entre 4.800 e 5.700 mil milhões de pessoas até 2050. 

Até esta sexta-feira, mais de 3.300 representantes de organizações e empresas vão debater ecossistemas, água e boa gestão destes recursos para o desenvolvimento humano.

"A água é a principal causa de conflitos, a migração, a degradação ambiental, a desigualdade e a crise económica", disse Amina Mohammed , secretário-geral adjunto da Organização das Nações Unidas, citado pelo El País, na cerimónia de abertura da cimeira, organizada pelo Stockholm International Water Institute (Siwi). 

"A tragédia do Boko Haram está intimamente ligado à má gestão da água. Uma solução para o conflito tem de ter em conta esse fator", insistiu Mohammed. No entanto, o secretário-geral adjunto da ONU continua convencido de que "a água também é o motor da paz, segurança, prosperidade e igualdade". 

Carin Jämtin, diretor geral da Agência Sueca para o Desenvolvimento e Cooperação Internacional, aproveitou a oportunidade para lembrar que as infraestruturas de água e saneamento são alvos de ataques durante os conflitos, através da negação do acesso à água potável em muitas partes do mundo.

A água pode tornar-se o ponto de partida para abordar os outros Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas para construir um mundo mais justo, divulgados em 2015.Escassez da água: “o novo normal”

A Diretora Executiva Adjunta da ONU Mulheres, Åsa Regnér, destacou como esta situação afeta sobretudo mulheres e meninas, obrigadas a despender um elevado número de horas a recolher água. Ambas são forçadas a abandonar os estudos e estão mais expostas a doenças, violência e assédio.

"Só na África Subsaariana, são gastas 40.000 milhões de horas todos os anos para coletar água, o equivalente a um ano de trabalho para toda a força de trabalho da França”, sublinhou ao El País Regnér.

Em 2017, quase 22 milhões de pessoas ficaram sem água na região de São Paulo. No Brasil. A mesma dificuldade foi registada em La Paz e na Cidade do Panamá.

As alterações climáticas têm afetado o ciclo global da água. A procura por água continua a crescer a uma taxa de cerca de 1% ao ano, especialmente em países com desenvolvimento ou economias emergentes, de acordo com o mais recente relatório sobre o Desenvolvimento Mundial da Água da Organização das Nações Unidas. No entanto, a taxa está destinada a aumentar. 

Um dos objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU é garantir água segura e saneamento adequado para todos.

“A crescente procura por água, juntamente com a má gestão da água, aumentou o stresse hídrico em muitas partes do mundo. A mudança climática está a aumentar a pressão - e está acontecer mais rápido do que previamos”, disse o Secretário-Geral da ONU António Guterres. 

No entanto, “temos as ferramentas necessárias para obter acesso a água e saneamento para todos”, notificou Miroslav Lajčák, Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Potencial das infraestruturas verdes

A infraestrutura baseada na natureza pode ajudar a encontrar soluções sustentáveis, com custos mais baixos em comparação com as alternativas tradicionais. Este tipo de infraestrutura usa ou imita processos naturais para melhorar a disponibilidade e qualidade da água, reduzindo os riscos associados a desastres naturais.

"As Infraestruturas tradicionais já não respondem como esperado às mudanças climáticas", assegura ao El País Sergio I. Campos G., chefe da Divisão de Água e Saneamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento

"Deveríamos ter confiado mais em soluções naturais, combinando-as com as chamadas infraestruturas cinza. Temos que repensar o que achamos que é correto. Fomos para o outro extremo", acrescentou. 

No entanto, admite que existe um certo receio, na medida em que as infraestruturas verdes muitas vezes são consideradas ineficazes ou muito caras.

Uma perspetiva que não corresponde à realidade, alerta Alvar Closas. "As infraestruturas verdes podem fornecer serviços muito valiosos", argumenta o especialista do International Water Management Institute. 

"No entanto, é inútil ter essas soluções se o assunto das águas subterrâneas não for adequadamente administrado. Tem sido colocado em segundo plano, porque é mais difícil de administrar, apesar da importância crucial", acrescentou.

Os exemplos de infraestruturas verdes apresentados pelo International Water Management Institute na cimeira de Estocolmo mostram que é possível aplicar soluções baseadas na natureza, adaptando-as a diferentes contextos.

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