As lojas a granel estão de volta e são uma opção que permite lutar contra o desperdício alimentar e evitar o uso desnecessário de embalagens descartáveis de plástico.
O UniPlanet falou com os criadores da Casa a Granel de Lisboa que nos apresentaram este projeto.
UniPlanet (UP): Como nasceu a Casa a Granel?
Desde cedo, os dois sócios fundadores (marido e mulher) dedicaram parte do seu tempo e formação ao estudo de como conciliar dois vetores:
- a paixão pela comida saudável, por um lado;
- a sustentabilidade económica, social e ambiental, por outro lado.Não sendo a venda a granel um conceito novo, os sócios viajaram e analisaram o que de melhor se faz na Europa e pelo Mundo neste campo. Depois de bastante estudo, planeamento e aplicando as melhores práticas, nasce em 2015 a Casa a Granel, aplicação que consideramos a melhor resposta para a conjugação dos 2 fatores supra referidos.
UP: Que tipo de produtos podemos comprar na Casa a Granel?
A Casa a Granel assume-se sem qualquer constrangimento como uma verdadeira Mercearia de Antigamente, mas com o toque de modernidade e cumprimento de todas as regras de segurança e higiene atuais.
Como tal, tem desde leguminosas secas, frutos secos, diferentes tipos de sal, massas, grãos de cereais e farinhas, até especiarias, cereais de pequeno-almoço (artesanais), bolachas (artesanais), chocolates, frutas desidratadas, chás, ervas medicinais e superalimentos.
UP: É também uma loja de bairro, não é verdade?
É essencialmente uma loja de bairro com todo o bairrismo em que isso se traduz. A Casa a Granel prima pela proximidade e por, de forma natural, converter a relação comprador-vendedor numa relação de partilha de vivências, numa relação de amizade.
UP: Dão importância à proximidade e à origem dos produtos?
A Casa a Granel desde o início da sua abertura (há cerca de 3 anos) privilegia a produção nacional de qualidade. Desde a abertura da loja que a Casa a Granel tem produtos de vários “cantos” deste nosso Portugal.
Sob o mesmo critério – a qualidade do produto -, a origem natural dos produtos é fundamental na escolha do parceiro. Ou seja, se o mirtilo se dá naturalmente na zona de Sever do Vouga, o nosso mirtilo desidratado é de Sever do Vouga; se o pistacho reputado como sendo de melhor qualidade é do Irão (por deter as condições de solo e de clima naturalmente propícias aos seu crescimento), os nossos 5 tipos de pistacho são do Irão; se não existe pinhão comparável ao pinhão nacional, pois o nosso pinhão (com a categoria de 1ª qualidade) é de Alcácer do Sal; outro exemplo de que nos orgulhamos é a nossa farinha de alfarroba: é 100% alfarroba e 100% nacional, do Algarve.
A sazonalidade é importante e a proximidade com o produtor (para conhecimento do seu projeto) é igualmente importante. Todavia, apesar de defendermos e apoiarmos a produção nacional naquilo que somos fortes (caso do pinhão, amêndoa, frutas) também valorizamos o que de melhor se produz internacionalmente de forma natural e sustentável. Para melhor explicar e desmistificar este ponto, exemplificamos: não vamos encontrar uma verdadeira banana da madeira produzida na Inglaterra, assim como não vamos encontrar uma verdadeira castanha do Brasil produzida em Portugal. Se houver a produção da banana da Madeira em Inglaterra, certamente o produto não terá a mesma qualidade pois foi produzido num ambiente não natural sendo necessário recorrer a artifícios qualquer que seja o método produtivo – ainda que em modo de produção biológica.
Adicionalmente, a Casa a Granel orgulha-se de ter parceiros que promovem e participam no Comércio Justo, projeto que temos vindo a acompanhar de perto com responsabilidade, empenho e determinação.
UP: Está a decorrer o desafio “julho sem plástico”. Que conselhos daria a quem quer participar, mas não sabe por onde começar?
Consideramos existirem dois pontos essenciais no problema do plástico:
- a utilização desnecessária, por um lado;
- a resposta a dar ao plástico que já temos, por outro lado.A Casa a Granel segue uma máxima neste campo:
- »Simplificar: Um problema não se resolve criando novos problemas.
O que significa isto? Sensibilizando para o problema, convidamos as pessoas a adotarem o compromisso pessoal e social de se preocuparem com a saúde do meio ambiente como sendo um problema seu, um problema familiar, e não apenas como sendo um problema político, económico ou futuro. Convidamos as pessoas a começarem por gestos simples: a utilização de sacos reutilizáveis no transporte de compras é um bom início. Existem imensas soluções no mercado, bastante acessíveis e de vários tamanhos, o que faz com que seja fácil trazê-los consigo.
Para a compra de produtos, a venda a granel é uma excelente solução: o consumidor pode levar os seus frascos ou embalagens de casa e evita a colocação de novo plástico em circulação. Caso não tenha as suas embalagens consigo, pode optar por sacos de papel para o transporte – chegando a casa, pode passar para as suas embalagens e garantir uma melhor conservação.
Para produtos embalados, já existem algumas alternativas plastic free, como os tradicionais frascos, embalagens de cartão, ou plástico vegetal compostável.
Se tiver muitas embalagens de plástico (toda a gente tem), não entre em histerias – tente reutilizá-las ao máximo. Não vale a pena ir a correr para descartar tudo o que tem em casa. Vá trocando aos poucos o que der para trocar ou o que já não der para reutilizar. Acima de tudo, privilegiamos a reutilização das embalagens que já causaram pegada ecológica; ao reutilizar-se essas embalagens está-se já a dar um passo fundamental na redução ou menorização da pegada ecológica.
Neste ponto é interessante ver como muitos dos nossos clientes chegam mesmo a reutilizar os próprios sacos de papel. Lembre-se que ser amigo do ambiente não deve significar um encargo para si, mas sim uma poupança para todos. É errado quando o negócio se sobrepõe ao conceito.
Por fim, quando descartar um plástico, garanta que o faz de forma correta, enviando-o para reciclagem. O maior problema do plástico está na forma como é descartado sendo que grande parte fica nos solos ou vai parar aos recursos hídricos de todos nós!
UP: Que produtos estão proibidos por lei de serem vendidos a granel em Portugal?
A venda a granel é bastante abrangente. No campo de produtos alimentares secos, destacamos os seguintes:
- Farinhas de cereais;
- Arroz para alimentação humana da classificação Oryza sativa (engloba a maioria dos arrozes comuns em Portugal).
A Casa a Granel respeita e cumpre as regras existentes, pelo que não vende qualquer desses produtos a granel.
Informamos cada um dos nossos clientes quanto a este ponto – isto é, o porquê de não termos esse tipo de produtos à venda no nosso estabelecimento -, dessa forma também lhes garantindo que a Casa a Granel prima pelo escrupuloso cumprimento da legislação existente.
Consideramos que não concordar com algumas das leis revistas recentemente não nos confere qualquer direito de violar as mesmas.
Respeitamos a legislação existente e respeitamos os nossos clientes, assim legitimando a confiança dos mesmos quanto a tudo o que se faz no nosso estabelecimento.
Ou seja, a Casa a Granel não sobrepõe o interesse comercial ao (in)cumprimento das obrigações legais.
Sem embargo, porque se considera um interveniente ativo na área, a Casa a Granel tem vindo a diligenciar esforços no sentido de sensibilizar a classe política para a descontextualização de muita da legislação existente nesta matéria, desta forma expectando que o legislador abra os olhos para o que deve ser alterado em consonância com a própria Europa.
UP: Que regras seguem para salvaguardar a segurança e higiene alimentar?
A Casa a Granel tem implementado o sistema de HACCP auditado por uma empresa Autorizada e Certificada. Anualmente são efetuadas várias auditorias nos dois campos: segurança e higiene alimentar. A Casa a Granel orgulha-se de cumprir todos os requisitos legais bem como recomendações e boas práticas sugeridas pelos auditores, sugestões essas que vão além do que é exigido legalmente.
UP: Que tipo de embalagens levam os clientes para adquirirem os vossos produtos?
As embalagens mais comuns trazidas pelos nossos clientes são frascos de vidro e sacos de pano. Alguns trazem embalagens de plástico, garantindo a sua reutilização enquanto der. Caso não tragam embalagem, temos as tradicionais saquetas de papel na loja.
UP: Para terminar, onde podemos encontrar mais informação sobre a Casa a Granel?
A Casa a Granel tem Facebook e Instagram usados como meios de partilha de conhecimento, sugestões e experiências com os produtos.
Tendo aparecido em várias publicações e reportagens, a Casa a Granel assume-se como mercearia de proximidade e orgulha-se de receber clientes de várias zonas que procuram produtos de qualidade a preços competitivos.
Destacamos a nomeação para os Prémios Mercúrio 2017 na categoria Comércio Alimentar e a participação na reportagem “Contas Poupança”.
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