O presidente do grupo Portucel-Soporcel disse que o megaprojecto florestal de 2,5 mil milhões de dólares (2,2 mil milhões de euros) em Moçambique podia ter acontecido em Portugal, se não houvesse resistências à plantação de eucaliptos [Fonte: Jornal de Negócios, 08/09/15)]
Vivemos num mundo em que as notícias são cada vez mais "manipuladas", de acordo com os melhores interesses do grande poder económico, interessado em manter o status quo, contra todos os indicadores que o Planeta Terra emite todos os dias, que mostram claramente que urge uma mudança de paradigma, envolvendo necessariamente que muitas indústrias rapidamente desapareçam ou evoluam para modelos de exploração radicalmente distintos dos actuais.
Estes interesses económicos, esgrimindo sempre a sua importância no momento actual para o PIB e outras fórmulas de cálculo e medição do bem estar de todos NÓS e de tudo aquilo que nos rodeia (todas a necessitar urgentemente de se actualizarem, fazendo reflectir de forma honesta a realidade trágica que atravessamos), criam ilusões no público que as consome, também esse tragicamente engordado por "refeições" constantes de informação, perdendo diariamente a capacidade cognitiva para questionar, refutar ou assumir prioridades fundamentais para assegurar o futuro.
A indústria do eucalipto, uma espécie exótica introduzida em Portugal na segunda metade do século XIX, vinda da Austrália, é actualmente muito importante para o PIB português, criando postos de trabalho à custa da exploração de um dos recursos mais frágeis que temos no nosso país, que são os solos.
A sua distribuição pelo território assumiu tal proporção, que é já a maior monocultura contínua desta espécie na Europa. Isto é o mesmo que ter uma gigantesca operação "mineira" montada em todo o território, na qual as empresas de pasta de papel utilizam a tecnologia sofisticada do eucalipto para extrair do solo os minerais e água, como tão bem ele sabe fazer, para rapidamente converter em dinheiro, numa das operações industriais mais poluentes que ocorre no nosso país.
Tudo isto se faz à custa de irreversíveis perdas de biodiversidade, desaparecimento dos padrões da paisagem tradicional, grave erosão do solo, conduzindo à sua desertificação a longo prazo, e aos inevitáveis incêndios, para os quais contribui de forma alarmante.
Mas a Natureza não perdoa este tipo de comportamento viral, tendendo sempre a repor os equilíbrios. E é precisamente neste ponto que esta notícia peca, por não informar correctamente o público...
Os senhores da pasta do papel vão agora plantar eucalipto em Moçambique não porque Portugal é hostil ao seu cultivo, aliás, isso nunca até agora os impediu.
Vão fazê-lo porque cá já não restam muito mais recursos para poderem ser explorados por esta desastrosa indústria, mas vão embora sobretudo porque, a qualquer momento, as diversas pragas e doenças que hoje afectam o eucalipto (sobretudo o gorgulho) podem assumir um carácter de calamidade, como já acontece com o nemátodo do pinheiro, sendo que não existe nenhuma solução economicamente viável para conter esta calamidade. São já milhares de hectares atacados, sobretudo no Norte e Centro do país
Vão-se embora porque finalmente muitos de nós clamamos por solos de qualidade para fazer Agricultura sustentável, para o país e para o Planeta.
Nunca uma monocultura se conseguirá impor por muito tempo e qualquer agrónomo ou engenheiro florestal competentes conhecem esta realidade.
Vão agora estimular a sua produção onde a pobreza das populações e a ausência de formas de viver com dignidade a partir dos seus próprios recursos dão lugar a estas realidades, onde a história se parece repetir, de forma trágica.
Resta saber o que será do território quando o eucalipto desaparecer da paisagem, que estratégias serão implementadas para conter a erosão e quem pagará os elevadíssimos custos de recuperação dos solos...
E quantos postos de trabalho, hoje tão importantes para a fórmula do PIB, restarão... Seremos todos lesados da pasta do papel...
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quinta-feira, 24 de setembro de 2015
Estado da arte do eucaliptal em Portugal e CPLP, por Luís Alves
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