Por vezes nem um excelente artigo científico cruzando dados ou simulando modificações num ecossistema ou pareceres técnicos cinzentos permite encontrar ainda o travão ajustado à destruição e à extinção antropogénica. Acho que a POESIA mais nobre ou textos filosóficos podem trazer uma ajuda essencial. Porque estou convencido de que a compreensão da unidade humana com todas as formas de vida é a chave do segredo de um possível êxito nos esforços de conservação,fica aqui um trecho de Hölderlin (1770-1843), o enorme poeta alemão, em Hipérion ou o eremita da Grécia.
(Fala de Hipérion a Belarmino)
Mas tu brilhas ainda, sol do céu! Tu ainda verdejas, sagrada terra! Os rios ainda vão dar ao mar e as árvores frondosas dão sombra ao meio-dia. O prazenteiro canto da primavera abarca os meus mortais pensamentos. A plenitude do mundo infinitamente vivo nutre e sacia com embrieguez o meu indigente ser.
Feliz natureza! Não sei o que se passa comigo quando elevo os olhos perante a tua beleza, mas nas lágrimas que choro perante ti, a bem amada das bem amadas, está toda a alegria do céu.
Todo o meu ser cala e escuta quando as doces ondas do ar brincam à volta do meu peito. Perdido no imenso azul, levanto frequentemente os olhos ao Éter e inclino-os para o sagrado mar, e é como se um espírito familiar me abrisse os braços, como se se dissolvesse a dor da sociedade na vida da divindade.
Estar unido a tudo, essa é a vida da divindade, esse é o céu do homem.
Estar unido com tudo o que vive, voltar, num feliz esquecimento de si mesmo, ao todo da Natureza, este é o cume dos pensamentos e das alegrias, este é o sagrado cume da montanha, o lugar do repouso eterno onde a melodia perde o seu calor sufocante e o trono a sua voz, e o fervente mar se assemelha aos trigais ondulantes.
Estar unido com tudo o que vive!
(Fala de Hipérion a Belarmino)
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