quinta-feira, 9 de setembro de 2004

Uma geração para salvar o mundo

Este texto é muito importante e tenho-o usado nas aulas para sensibilizar os meus alunos para o ambiente, a ecologia, para a necessidade de políticas e acções no âmbito da ecosolidariedade e de uma economia mais justa.



UMA GERAÇÃO PARA SALVAR O MUNDO, AVISA RELATÓRIO

Corpo influente [de cientistas] diz que têm de ser aproveitadas as últimas chances

Paul Brown, correspondente de meio-ambiente
Quinta-feira, 9 de Janeiro de 2003
The Guardian


A espécie humana tem apenas uma ou talvez duas gerações para se salvar, de acordo com o relatório "State of the World" de 2003 do "Worldwatch Institute" baseado em Washington.

Quando mais tempo passar sem que se tomem acções para remendar a situação, maior terá de ser o grau de miséria e empobrecimento biológico que a espécie humana terá de estar preparada para aceitar, diz o instituto no seu 20º relatório anual.

Sobrexploração dos recursos, poluição e a destruição de áreas naturais continuam a ameaçar a vida no planeta. As condições continuam a deteriorar-se rapidamente, afirma o relatório, apesar de haver alguns sinais de esperança de que soluções técnicas para os problemas tenham sido encontradas e - onde há vontade política - adoptadas. Na maioria dos casos, apesar disto, nada está a ser feito.

Entre as piores tendências no mundo inteiro está a de que 420 milhões de pessoas vivem em países que não têm mais área de cultivo suficiente para cultivar a sua própria comida e têm de depender de importações. Cerca de 1.2 mil milhões de pessoas, ou cerca de um quinto da população mundial, vivem na pobreza absoluta - definida como sobrevivendo com o equivalente a menos de $1 dólar, ou 62 "pence", por dia.

Cerca de um quarto da área de cultivo dos países em vias de desenvolvimento está a ser degradada, e a taxa está a aumentar. A maior ameaça não é a falta de terra, diz o relatório, mas a falta de água, com mais de 500 milhões de pessoas a viver em regiões sujeitas a [períodos de] seca crónica.

Em 2025 o número terá provavelmente aumentado pelo menos cinco vezes, para entre 2.4 a 3.4 mil milhões. Um aumento provável da população mundial de 27% durante o mesmo período irá criar instabilidade social e ecológica.

O aquecimento global está a acelerar, e o dióxido de carbono na atmosfera chegou já a 370.9 partes por milhão, o nível mais alto de pelo menos 420,000 anos e provavelmente de 20 milhões de anos.

Químicos tóxicos estão a ser soltos em quantidades cada vez maiores, e a produção global de resíduos perigosos já chegou a mais de 300 milhões de toneladas por ano. Há apenas uma vaga ideia dos danos que isto causa a humanos e sistemas naturais, afirma o relatório.

Outra ameaça é a migração de espécies imensamente invasivas para regiões onde podem representar uma ameaça para as espécies nativas.

O estado do sistema mundial de sustentação da vida natural é talvez o mais preocupante indicador para o futuro, diz o relatório. Cerca de 30% das florestas restantes do mundo estão seriamente fragmentadas ou degradadas, e estão a ser cortadas ao ritmo de 50,000 milhas quadradas por ano, afirma este.

Os terrenos férteis foram reduzidas em 50% durante o último século. Recifes de coral, os sistemas aquáticos mais diversificados do mundo, estão a sofrer os efeitos da pesca extensiva, poluição, doenças epidémicas e aumentos de temperatura.

Um quarto das espécies mamíferas do mundo e 12% dos pássaros estão em perigo de extinção.

Do ponto de vista esperançoso, o relatório afirma que as tecnologias de energia renovável desenvolveram-se já o suficiente para fornecer o mundo. Estas poderiam reduzir significativamente a ameaça que a poluição representa para o mundo - mas há de momento uma falta de vontade política para introduzi-las rapidamente o suficiente.

Outra indústria que provoca destruição em grande-escala, a extração de minerais, poderia ser substituída em grande parte pelo reuso e reciclagem.

A extração de minérios consome 10% da energia mundial, provoca emissões tóxicas e ameaça 40% das florestas ainda não desenvolvidas do mundo, mas estes efeitos poderiam ser drasticamente reduzidos.

Outra crise que o relatório identifica é a nas cidades do mundo, onde mil milhões de pessoas procuram refúgio em bairros-de-lata, muitas vezes nas encostas de montanhas, planícies sujeitas a inundações, em lixeiras sujas ou abaixo na corrente [de rios] relativamente a poluidores industriais.

Os habitantes destas povoações vivem sob a constante ameaça de despejo, assim como também de desastres naturais e doenças. Centros urbanos no [hemisfério] sul dominam agora as tabelas das maiores cidades do mundo.

Habitantes dos "ghettos" estão a organizar-se para [lutar por] mais direitos e melhores vidas, afirma o relatório. Um dos grandes desafios para os governos consiste em ajudar os seus cidadãos mais pobres a sentirem-se seguros nas suas próprias casas, a terem um emprego e a melhorar o seu meio-ambiente.

Nuvens negras, lados positivos

Piores tendências

- A malária reclama 7,000 vidas todos os dias
- Extinções de pássaros a decorrer a 50 vezes o ritmo natural
- A velocidade de derretimento do gelo mais que duplicou desde 1988; os níveis [de altura] da água do mar podem subir 27 cm até 2100
- Novas tecnologias de pesca ajudam a localizar e explorar ainda mais reservas em declínio

Razões para ter esperança

- As populações estabilizaram na Europa e em muito do Sudeste asiático
- A agricultura biológica é o sector em maior crescimento da economia agrícola mundial
- A capacidade geradora da electricidade [proveniente] de vento e fotovoltaica deverá aumentar 30% por ano durante cinco anos (1% para combustíveis fósseis)
- A produção de CFCs que destroem grandes quantidades de ozono caiu 81% nos anos 90, diminuindo o crescimento do buraco do ozono

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