A toponímia portuense está muito ligada ao antigo coberto vegetal duma cidade que evoluiu, lentamente, desde tempos pré-históricos. Porto, Gaia e Portugal estão, igualmente, ligados à existência da Gália, uma planta palustre em vias de extinção, nas turfeiras e zonas húmidas do litoral. Por hoje, gostaríamos de analisar uma grande quantidade de topónimos, que conotam Carvalhos ou os lugares onde eles predominavam. Os espaços que hoje chamamos de parques eram designados, nas Terras do Norte de Bouças, com origem no adj. lat. baltea, pl., que significa várias coisas: «terreno que produz lenha, chamiços, guiços, e mato para a cama do gado, com vista à correcção das terras fundas, especialmente tojo, urzes, carqueja, arbustos; e árvores, normalmente pinheiros, eucaliptos e carvalhos». A designação nortenha de Bouça oscila entre bouzas, balça, bauzas, bustelos, etc. A sua verdadeira origem é, de certeza, pré-latina, isto é, celta.
O actual Concelho de Matosinhos fora chamado de Bouças! Na toponímia portuense, temos a Viela da Bouça, a Bouça do Canastreiro, o lugar da Bouça do Ribas, a Rua das Bouças, a travessa da Bouça. Estas designações urbanas, praticamente em desuso, provam que os Carvalhos tinham muitos espaços na Cidade. Seguindo, agora, pelo caminho dos chaparros, tão queridos dos Alentejanos, vamos encontrar a Rua das Azinheiras, como prova que, por estas terras do Baixo-Douro também havia burros e Azinheiras, ou seja Quercus ilex L. Toponímia dos Carvalhos Ligada mais directamente à existência de Carvalhos Robles, Q. robur L., intramuros, encontrámos um número importante de nomes que conotam o Carvalho comum dos tempos primitivos: Carvalheiras, Carvalhido, Carvalho, Carvalhosa, com referência e ruas, travessas, vielas e uma freguesia, que é o Carvalhido.
Começando por um espaço que deve ser dos mais antigos, referimos os Carvalhos do Largo do Priorado, ali mesmo junto da Igreja Românica de Cedofeita, muito perto da antiga Rua e lugar da Carvalhosa, hoje Rua de Aníbal Cunha. A existência destes Carvalhos junto da Igreja prova do apreço que as civilizações pré-cristãs tinham pelos Carvalhos sagrados.
Em termos de topónimos nacionais, os Carvalhos fornecem um enorme leque de nomes de lugares, freguesias, vilas, povos, etc. É interessante verificar como os povos distinguiam entre Carvalhinhos, Chaparros, Carvalheiras e Carvalhos. As Carvalheiras são nomes que os Minhotos atribuem às árvores mais velhas, geralmente muito fecundas em frutos (bolotas ou glandes).
A designação de chaparro é, de preferência, extensiva aos juvenis dos Sobreiros, Azinheiras e Carrascos. Esta última designação também se reporta a plantas jovens. Gostaríamos, agora, de confrontar o nome genérico do Carvalho, Quercus, com outros nomes que conotam Carvalhos, mormente: Cerca, Cerquido, Cerquinho, Cercal, Cercado e Carvalhido.
É, realmente. muito difícil demonstrar que Carvalho e Quercus têm origem e raiz comuns. José Pedro Machado ajuda-nos a essa compreensão ( 1). Cerca vem do lat. circa, «à volta de, à roda, de todos os lados; nas vizinhanças de». Cercal lat. *cerquale, de *cerquu- por quercuu- / *kuerkuu > Quercuu-, com o sentido de «Carvalho». Paul Aerbischer diz que *Quercus provém duma forma dissimilada, no Latim de Espanha e Itália: * Cerquus > Quercus ( * Kuerkus ), equivalente ao Celta Carbalium. A forma Carvalhido provém do colectivo medieval *Carballietum ( de *Karballiu), que evolui foneticamente para Carvalhido: Karballium > *Karballetum > * Karballetu > * Karballedo > *Karballido > Carvalhido. Como se trata dum nome de origem Celta, devemos ter em atenção e articulação do -CE- latino, que deve pronunciar-se /KE/, afastando-se das pronúncias portuguesa, castelhana e italiana.
Ver a pronúncia restaurado do Latim Clássico.
Assim chegámos ao Q. E. D. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Livros Horizonte, Lisboa., 1997, vol. I, II e III.
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