terça-feira, 12 de maio de 2020

Poema da semana - Concavidade, por António Ramos Rosa


Precisamos de ser côncavos
para o mistério natural que nos impele
à vacuidade silenciosa.
Fragmentos obscuros buscam a transparência
na novidade da brisa que acaria a luz.
O atalho onde estamos pronuncia uma pedra.
É ainda a ausência com o celeiro das sombras.
Podemos abrigar-nos sob as grandes árvores
das redondas colinas. Abundância de murmúrios
na delícia do ar. Crescemos lentamente
sob as umbrosas ramagens, germinamos
na lentidão de um barco. O intacto demora.
A casa é sossegada com sua carga de frutos.
Nenhuma inquietação no pleno entardecer
de uma serena abundância silenciosa.
Na oscilante leveza vegetal
somos unânimes, côncavos e ardentes.

António Ramos Rosa, Facilidade do Ar

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