domingo, 30 de novembro de 2025

A silent catastrophe: 600 dead while the world looks away


Did you know that more than 4 million people have been affected by catastrophic floods in Southeast Asia this week and more than 600 have already died?

While much of the Western world went about its normal routines, a climate-charged humanitarian disaster was unfolding across Indonesia, Thailand and Malaysia. According to a recent report from Reuters, over 4 million people have now been directly impacted. Entire communities vanished under water. Families were swept away in the night. Roads crumbled. Landslides buried homes with people still inside. Survivors clung to rooftops as rivers exploded out of their banks and swallowed everything in their path. More than 600 lives lost in a few days and yet Western media attention remains fleeting.

“Research published in 2025 found that global media coverage of natural disasters is heavily skewed toward events in countries with close social or genetic ties to the reporting country meaning that catastrophes in many climate-vulnerable regions are largely ignored.”

A week of unimaginable human suffering
In the hardest-hit areas of Indonesia, the death toll climbed to at least 303. Rescue agencies report many missing, entire villages unreachable because roads and communications infrastructure washed away. In southern Thailand, flooding and landslides pushed fatalities into the high hundreds; in some provinces morgues became overwhelmed. Across the region, tens of thousands have been displaced, homes destroyed beyond repair, farmland submerged or swept away, and local economies devastated. Villages remain cut off inside debris-filled flood zones even as relief efforts struggle to reach them.
Behind every statistic there is a human reality:
⚠️ Children wading through waist-deep muddy water after schools collapsed.
⚠️ Parents carrying their children on their backs through flooded roads, uncertain if home still stands.
⚠️ Families living on damp floors or makeshift shelters, hungry, cold, and terrified as rain continues to fall.
⚠️ Farmers staring at drowned fields, their harvests ruined, livelihoods destroyed, futures uncertain.

This is not a disaster. It is collective trauma. This is not “just monsoon season” — this is climate disruption in real time The scale, intensity, and unpredictability of the flooding are not random. Scientists have long warned that a warming world brings heavier rainfall, more volatile storm systems, and increased risk of extreme floods. Warmer air can hold more moisture; warmer seas feed storms; the result is more frequent and more intense rainfall events. Many experts say that what Southeast Asia is enduring now; unusual, catastrophic floods across multiple countries at once is precisely the kind of climate-driven extreme weather that belongs to the future. Today it is the present. This horrific upheaval should not be dismissed as “just bad luck.” It must be seen as a warning, evidence of a planet growing increasingly unstable under human-induced climate change.

Why the world’s silence is so dangerous
When more than 4 million people are affected and 600+ die in a few days — and yet global attention remains shallow — something fundamental is broken. If tragedies in the Global South are treated as distant background noise. If the suffering of millions remains largely invisible to the world’s richest and most powerful countries.If disasters fueled by climate disruption are not met with sustained global solidarity — then we are not just failing in empathy. We are failing in foresight.

Selective attention kills urgency
And without urgency, we will never mount the global response such a crisis demands. And while Asia drowned, something else happened in London This same week, the UK hosted the first-ever National Emergency Briefing at Westminster Central Hall — gathering more than a thousand politicians, business leaders, media figures, faith and community voices, all briefed by a panel of top scientists, health-, food- and security-experts.

The message delivered behind closed doors was unambiguous: the climate and nature crisis is already a national security threat. The same forces tearing apart lives in Southeast Asia — extreme rainfall, destabilized weather patterns, overwhelmed infrastructure — can strike any country.

What climate-driven disasters trigger there, they can trigger here. The flooding in Asia is not a distant regional catastrophe. It is a front-line preview of what could happen anywhere including countries in the Global North. This is not a regional crisis. This is a national emergency everywhere. The floods decimating lives across Southeast Asia are not “somebody else’s problem.” They are a warning — raw, unfiltered, urgent. If we cannot look at the suffering of 4 million people today.If we cannot grant their lives the dignity of our attention.

Then how will we protect our own tomorrow?
Because geography will not protect us from climate collapse. Borders will not stop rising waters. Storms will not ask permission. The question is not if it will happen here — But when. If we stay asleep, the water will open our eyes but that will be too late. One powerful way to wake up the people in charge is to do what a group of courageous scientists and civil-society leaders just did in the UK: host a National Emergency Briefing and put political leaders directly in front of the facts. Bringing politicians into the same room as independent experts without spin, without filters, without delay, is one of the most effective tools we have to cut through denial and inertia. We Don’t Have Time is proud to be the official media partner for this groundbreaking initiative. On this page, you can rewatch the full briefing, hear from the scientists themselves, and learn how the model works:




Islamismo, cães, gatos, FIFA e legislação sobre alimentação de animais de rua em Portugal


Marrocos estará a considerar o abate de 3 milhões de cães de rua antes do Campeonato do Mundo de Futebol de 2030 para "melhorar" a aparência da cidade. Os activistas dos direitos dos animais estão indignados. Cerca de 300 mil cães são mortos todos os anos, e este número tem aumentado desde que Marrocos foi escolhido como um dos países anfitriões.

A maioria dos muçulmanos acredita que os cães são animais impuros e, inclusive , procuram evitar todo e qualquer contato com eles, principalmente com a saliva do animal.
O engraçado é que essa crença, ao contrário do que muitos deles pensam, não está no Alcorão. O Alcorão (ou seja, Allah) não fala que os cães são impuros. O que acontece é que os muçulmanos seguem, além do Alcorão, suas interpretações: as Sunas e os Hadiths.

Sunas são as tradições e os ensinamentos transmitidos pelo profeta Muhammad (Maomé em português), que é o mais recente e último profeta do Deus de Abraão.

Hadith é um corpo de leis, lendas e histórias sobre a vida do profeta Muhammad. 

No fundo em todas as religiões do mundo há contradições e modificar uma postura incongruente e pouco ética de cada religião, demora o seu tempo.

Não deveria acontecer em parte nenhuma do mundo, infelizmente nuns países pior do que noutros e Portugal, não é exceção. Até há regulamentos municipais em Portugal que proíbem, com coimas, alimentar cães e gatos de rua.

Creches e contacto com a Natureza - só vantagens


Uma creche na Finlândia revitalizou o seu pátio com elementos naturais e as crianças ficaram mais saudáveis: agora todo país está a replicar o mesmo. As crianças podem evitar doenças e alergias ao longo da vida se tiverem permissão para brincar na natureza. Dezenas de estudos comparativos já haviam constatado que crianças que vivem em áreas rurais e têm contato com a natureza apresentam menor probabilidade de contrair doenças resultantes de distúrbios do sistema imunológico e menor risco de desenvolver doença celíaca, alergias, atopia e até diabetes. O contato repetido com elementos naturais cinco vezes por semana diversifica a microbiota intestinal, oferecendo proteção contra doenças transmitidas pelo sistema imunológico. Cada indivíduo humano é, na verdade, um ambiente em si: um hospedeiro de trilhões de microrganismos, incluindo bactérias, vírus e fungos. Estes, coletivamente, superam as nossas próprias células numa proporção de 4 para 1 e estão emergindo como uma das forças mais influentes, senão a mais importante, na saúde e no funcionamento humanos.

Artigos cientifícos 

Saber mais:

sábado, 29 de novembro de 2025

Handel: Un pensiero nemico di pace


“Un pensiero nemico di pace” é uma ária de George Frideric Handel (Händel), parte da obra Il trionfo del Tempo e del Disinganno (1707). O título significa literalmente: “Um pensamento inimigo da paz”

Contexto da obra
A obra é uma alegoria moral na qual personagens simbólicos — Bellezza (Beleza), Piacere (Prazer), Tempo e Disillusione (Desengano) — debatem sobre a fugacidade da beleza, a ilusão dos prazeres e a verdade do tempo.

A ária “Un pensiero nemico di pace” é cantada pela personagem Disinganno (Desengano), que representa a verdade que revela as ilusões do mundo.

Significado da canção
Na ária, o Desengano diz essencialmente:
  1. Há pensamentos inquietos que tiram a paz interior.
  2. Esses pensamentos são como inimigos ocultos que perturbam a tranquilidade da alma.
  3. A mente deve libertar-se dessas ilusões e enganos (especialmente os ligados aos prazeres e vaidades).
Interpretação geral
A música reflete um tema moral típico da época (e da obra):
  1. Os pensamentos ligados ao prazer e à vaidade são perigosos porque perturbam a paz verdadeira.
  2. O caminho para a serenidade é afastar esses “pensamentos inimigos”.

Velas perfumadas emitem tantas toxinas causadoras de cancro quanto fumaça de diesel e cigarros


As pessoas usam velas perfumadas há anos tentando mascarar odores desagradáveis ​​em suas casas. Eles são essenciais quando se tenta relaxar e descontrair após um longo dia de trabalho.

Embora possam parecer seguras, velas perfumadas regulares são na verdade uma importante fonte de poluição do ar em ambientes fechados. A baixa qualidade do ar interno pode contribuir para condições agudas como cancro e asma. (1)

De acordo com Anne Steinemann, especialista em poluentes ambientais, certas velas podem emitir vários tipos de produtos químicos potencialmente perigosos, como benzeno e tolueno ( 2 ). Eles podem perturbar o sistema nervoso, causar danos ao cérebro e pulmões, além de causar problemas no desenvolvimento.

“Ouvi de várias pessoas que têm asma que elas nem podem entrar em uma loja se a loja vender velas perfumadas, mesmo que não estejam sendo queimadas”, disse Steinemann. “Elas emitem tanta fragrância que podem desencadear ataques de asma e até enxaquecas”.

Então, se você está se perguntando, ‘as velas perfumadas são tóxicas?’ você pode marcar essa pergunta com um grande sim.

Por que as velas perfumadas são perigosas?
Você pensaria que o único perigo de queimar uma vela perfumada seria o risco de um incêndio. Embora seja uma razão válida, os perigos mais imediatos incluem:

• Inalação de fumaça de vela
• Inalação de fumos de fragrâncias por derretimento de cera de vela
• Inalação de vapores que compõem a maior parte da vela à medida que ela derrete

Um estudo conduzido por cientistas da Universidade de Copenhague, realizado com ratos, descobriu que a exposição a partículas da queima de velas causa danos maiores do que a mesma dose de fumaça de escapamento de diesel. A inalação da fumaça da vela levou a efeitos na saúde, como inflamação e toxicidade pulmonar, arteriosclerose e efeitos do envelhecimento nos cromossomas nos pulmões e no baço.

Queimar velas em casa leva a um aumento da poluição do ar interior, com velas perfumadas representando um risco ainda maior. Na Dinamarca (onde queimar uma vela é tão comum quanto comer uma refeição), a pesquisa mostrou que 60% das partículas ultrafinas são provenientes da queima de velas.

Embora a fumaça das velas seja prejudicial aos pulmões, é exacerbada ainda mais quando as fragrâncias são adicionadas. A composição estrutural das velas (feitas de parafina ou de outro tipo de cera) também determinará seus níveis de toxicidade.

Um estudo realizado pelo Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Hanyang examinou se a quantidade de toxinas variava com a fragrância, com base em seis aromas diferentes. Velas perfumadas, acesas ou não, contêm compostos orgânicos voláteis (COV), que podem ser incrivelmente tóxicos quando inalados.

Eles descobriram que, quando uma vela era acesa, o formaldeído estava na maior concentração dentre os COV emitidos. Como sabemos, o formaldeído é listado como um composto perigoso e os seus vapores são considerados altamente tóxicos ( 4 ).

Os aromas que emitiram as maiores concentrações de formaldeído foram os seguintes (ppb = partes por bilião):

• Morango: 2098 ppb
• Algodão limpo: 1022 ppb
• Sem formatação: 925 ppb

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) afirmam que “os efeitos agudos e crónicos do formaldeído na saúde variam de acordo com o indivíduo. O limiar típico para o desenvolvimento de sintomas agudos devido ao formaldeído inalado é de 800 ppb; no entanto, indivíduos sensíveis relataram sintomas em níveis de formaldeído em torno de 100 ppb ( 5 ). ”

Outro estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual da Carolina do Sul ( 6 ) testou velas de parafina à base de petróleo e velas à base de vegetais que não eram perfumadas, não pigmentadas e livres de corantes.

As velas à base de vegetais não produziram poluentes nocivos, no entanto, as velas de parafina “lançaram substâncias químicas indesejadas no ar… para uma pessoa que acende uma vela todos os dias durante anos ou apenas as usa com frequência, inalação desses poluentes perigosos que flutuam no ar. O ar pode contribuir para o desenvolvimento de riscos à saúde, como cancro, alergias comuns e até asma ”, disse o professor Ruhollah Massoudi.

Além disso, um estudo divulgado pela EPA em 2001 descobriu que velas com mais fragrância produzem mais fuligem. A agência sugere a escolha de velas sem perfume para reduzir esses restos de detritos.

Advertências sobre formaldeído
O CDC possui avisos e recomendações para a exposição ao formaldeído em casa. Recomenda-se aos proprietários de imóveis que parem a exposição, principalmente quando houver indivíduos com asma, idosos ou crianças pequenas presentes na casa.

A exposição a curto prazo ao formaldeído libertado pelas velas resulta nos seguintes sintomas:
– Olhos lacrimejantes e ardentes
– Queimação na garganta e nariz
– Náusea e / ou vômito
– Sibilos e / ou tosse
– Queima de pele e / ou irritação

A exposição prolongada a produtos químicos encontrados nas velas também pode causar câncer nas passagens nasais e, pior ainda, leucemia. A inalação consistente de produtos químicos encontrados nas velas também pode levar ao comprometimento cognitivo e a certos tipos de demência.

Todas as velas são tóxicas?
Felizmente, nem todas as velas são tóxicas. De facto, existem muitas ótimas alternativas que não envolvem o uso de produtos petrolíferos nocivos.

O maior problema com as velas é a cera tóxica e a fragrância usada em sua formulação.

Velas perfumadas feitas de parafina – um subproduto do petróleo – libertam fuligem cancerígena quando queimadas. A fuligem também pode causar problemas respiratórios e agravar as condições daqueles que já têm problemas de asma, pulmão ou coração.

Velas mais antigas também costumavam ser construídas com pavios feitos de chumbo.

Se você ainda está preocupado, no entanto, existe uma maneira fácil de testar se o pavio contém chumbo. Basta esfregar o pavio de uma vela não queimada em papel branco. Se o pavio deixa uma marca cinza como lápis, há chumbo nele. Se não houver cinza, está tudo bem.

Infelizmente, muitas velas comuns são feitas de parafina porque são mais baratas que outros tipos de cera. A parafina também cria uma fragrância com cheiro mais forte que as ceras naturais.

Mas se você realmente quer uma vela que dure muito e cheira incrível, use cera de abelha!
Embora você precise pesquisar um pouco mais e pagar um pouco mais por uma vela de cera de abelha natural, os benefícios valem a pena!

Parov Stelar -Walking On Clouds


Parov Stelar costuma compor músicas que criam ambientes: mistura batidas modernas com estética vintage para gerar sensações de nostalgia, elegância e liberdade. “Walking On Clouds” encaixa nisso, funcionando como um convite para relaxar e deixar-se levar.
O ritmo elegante e fluido cria uma atmosfera de libertação emocional e despreocupação, convidando quem ouve a entrar num estado mais elevado de espírito.

Rising at Fall - Into The Dark


A banda Rising at Fall é uma banda canadiana, formada por Liam Desrosiers e Jérémy Goyette. A canção “Into The Dark”, lançada em maio de 2025, apresenta uma letra marcada por dor emocional, vulnerabilidade e desejo de fuga. O eu-lírico expressa exaustão, sensação de desaparecer, peso emocional e a necessidade de ser libertado de algo que o prende ao passado. A repetição de pedidos de ajuda e de expressões de sofrimento sugere um mergulho numa crise interna, possivelmente ligada a trauma, depressão ou a um momento de colapso emocional. A frase “let it fade into the dark” aponta para o desejo de deixar as memórias dolorosas desaparecerem na escuridão, enquanto outras partes da letra mostram uma luta entre desistir e procurar salvação. Embora a banda não tenha divulgado um significado oficial, “Into The Dark” pode ser interpretada como um retrato de angústia pessoal e da tentativa de sobreviver emocionalmente, mesmo quando se sente que o tempo e as forças estão a esgotar-se.

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Brian Eno - Garden of Stars


“Garden of Stars”, de Brian Eno, é uma meditação sombria e contemplativa sobre o lugar da humanidade no universo e sobre a fragilidade da vida na Terra. A canção insere-se no contexto do álbum ForeverAndEverNoMore onde Eno expressa preocupação com a crise ecológica e com a possibilidade de estarmos a assistir ao fim de uma era. A metáfora do “jardim de estrelas” sugere simultaneamente beleza e distância: um cosmos vasto, maravilhoso e indiferente, no qual a humanidade aparece como algo pequeno, efémero e vulnerável. Há na música um lamento implícito pela natureza ameaçada e um sentimento de melancolia perante a impermanência da vida. O tom grave e meditativo reforça a ideia de que, apesar da grandiosidade do universo, tudo o que conhecemos é transitório. Assim, a canção funciona como uma espécie de elegia cósmica, onde maravilhamento e tristeza se entrelaçam para refletir sobre mortalidade, fim possível do mundo e a frágil beleza da existência.

A nova mega-fábrica de Leonardo DiCaprio à porta de Portugal: um investimento que promete agitar a Península Ibérica



A poucos quilómetros da fronteira portuguesa, a Extremadura prepara-se para receber um dos maiores projectos tecnológicos da Europa. Trujillo, na província de Cáceres, foi escolhida para acolher uma fábrica de semicondutores de última geração da Diamond Foundry — a empresa norte-americana que tem Leonardo DiCaprio entre os seus investidores mais mediáticos. A dimensão do investimento, a inovação envolvida e o impacto económico esperado estão a transformar este anúncio num dos temas mais relevantes da indústria tecnológica ibérica.

A decisão surge após aprovação do Conselho de Ministros espanhol, que deu luz verde a um plano que prevê 2.350 milhões de euros até 2029. Esta quantia avultada não serve apenas para erguer um complexo industrial de ponta: representa também uma estratégia nacional para posicionar Espanha — e em particular a Extremadura — como um novo pólo europeu na área da microelectrónica. Trata-se de um sector dominado por gigantes asiáticos e norte-americanos, e cuja relevância ficou evidente nos últimos anos, quando a escassez global de chips paralisou indústrias inteiras.

O impacto no emprego será igualmente significativo: cerca de 500 postos directos altamente qualificados e outros 1.600 indirectos, ligados à cadeia logística, à produção auxiliar e aos serviços que inevitavelmente crescerão à volta da fábrica. O envolvimento da SETT — Sociedade Espanhola para a Transformação Tecnológica — reforça a aposta estratégica: o organismo público ficará com 32% do capital, contribuindo com cerca de 752 milhões de euros. As projecções económicas também impressionam: estima-se que, só nos primeiros dez anos de actividade, a fábrica injete 2.150 milhões de euros no PIB espanhol.

Mas o que distingue verdadeiramente este projecto não é o volume de investimento — é a tecnologia. Trujillo será o primeiro local do mundo a produzir semicondutores com diamante monocristalino sintético como substrato. Este material, muito mais resistente que o silício tradicional, oferece vantagens decisivas em aplicações de alta exigência: temperaturas extremas, frequências elevadas, inteligência artificial, defesa, sistemas industriais avançados e automóveis eléctricos de nova geração. Para muitos especialistas, esta tecnologia poderá representar um salto evolutivo comparável ao que o silício significou há várias décadas.

A escolha da Extremadura, uma região historicamente distante dos grandes centros industriais, não é um acaso. Espanha tem vindo a canalizar políticas públicas para desconcentrar a produção tecnológica, aproveitando regiões com espaço, capacidade de expansão e ligação directa a Portugal, cuja proximidade geográfica poderá favorecer projectos conjuntos no futuro. O objectivo é claro: reduzir a dependência externa e criar autonomia num sector onde a Europa tem falhado repetidamente.

Ao mesmo tempo, o facto de Leonardo DiCaprio estar envolvido neste investimento acrescenta-lhe uma curiosidade inevitável — o actor é conhecido pelo seu activismo ambiental, e a Diamond Foundry destaca justamente a sustentabilidade do processo de produção de diamante sintético. No entanto, o que está realmente em jogo é algo muito maior do que uma manchete com um nome famoso: é o aparecimento de um novo centro tecnológico à escala europeia, potencialmente decisivo num mercado cada vez mais competitivo e estratégico.

Para Portugal, a notícia não é indiferente. A poucos quilómetros da fronteira, uma das indústrias mais críticas do futuro está prestes a instalar-se, com potencial para atrair empresas associadas, investigação universitária, mobilidade laboral e oportunidades económicas que poderão atravessar a linha que separa os dois países. A Península Ibérica, tantas vezes vista como periférica em termos tecnológicos, pode estar a ganhar um novo ponto de influência — e este nasce com um brilho muito particular: o de milhões de euros e o dos diamantes.

Outdoor espectacular - a acumulação de riqueza é uma pandemia


Tax wealth — Created by anonymous artist network Brandalism, the action comes ahead of Black Friday, when UK shoppers are expected to spend £6.5 billion as brands run discounted sales of their products.

Activists have hacked 100 advertising sites across London in a coordinated protest against the tax avoidance of big tech companies like Amazon, and the ​“destructive hyper-consumerism” of Black Friday.

Satirical artworks pasted over billboards and Tube ads by the anonymous artist network Brandalism accuse companies of dodging taxes, exploiting workers and fuelling environmental collapse. Ethical Consumer estimates Amazon’s corporation tax avoidance may have cost the UK around £575 million in 2024.

The interventions mark the launch of the ZAP Games – Zone Anti-Publicité – a two-week Europe-wide campaign that repurposes commercial ad spaces. Posters inside Tube carriages compare tech CEOs to parasites, while others criticise the carbon and water intensity of Amazon’s AI-driven data centres.

Brandalism argues Amazon’s advertising dominance shields its practices from scrutiny. ​“Amazon epitomises 21st century destructive hyper-consumerism,” said spokesperson Tona Merriman. ​“It bombards us with advertising in the run up to Black Friday whilst squeezing the pay and conditions of workers, amassing eye-watering profits and then dodging its taxes.”

More than 100 artworks have appeared across the capital. One by artist Michelle Tylicki shows a Monopoly board filled with social goods overshadowed by an encroaching Amazon logo. Another juxtaposes an Amazon data centre with a burning rainforest to highlight ecological damage.

Activists say injury rates in Amazon warehouses spike during Black Friday demand. This year, mass strikes and walk-outs are planned globally by Make Amazon Pay, a coalition backed by more than 400 parliamentarians. Amazon paid UK corporation tax in 2024 for the first time since 2020, but campaigners argue it still avoids far more than it contributes.

Human rights criticisms are also intensifying. UN Special Rapporteur Francesca Albanese has accused Amazon, along with Microsoft and Alphabet Inc. (Google’s parent company), of aiding Israel’s genocide against Palestinians through its cloud services. Israeli military officials have credited Amazon software with enhancing their ability to track and kill targets. More than 67,000 Palestinians have been killed since October 2023.


This is not the only fallout surrounding Black Friday this year. Last week, Zara workers across Europe announced they would stage protests in Spain, Belgium, France, Germany, Italy, Luxembourg and Portugal. Unions are demanding that parent company Inditex reinstate a profit-sharing scheme scrapped after the pandemic.

Rosa Galan of Spain’s CCOO union said Inditex’s growing profits were ​“the result of the work of its staff,” calling for a fairer distribution. Inditex, whose share price has doubled over the past three years, did not respond to requests for comment.

Mais fotos e info aqui

Archive - Look At Us


Warmduscher Remix

A canção “Look At Us” dos Archive fala sobre a dor de perceber que uma relação — amorosa ou emocionalmente íntima — se deteriorou ao ponto de quase já não existir. A expressão “look at us” funciona como um apelo triste, quase desesperado, para observar a distância que cresceu entre duas pessoas que antes estavam unidas. A letra transmite a sensação de que algo importante se perdeu pelo caminho: o diálogo foi desaparecendo, a confiança foi-se quebrando e, quando finalmente se reconhece o estrago, já é tarde demais para voltar atrás. Há um forte sentimento de arrependimento e incompreensão, como se os protagonistas se olhassem e já não se reconhecessem. Ao mesmo tempo, a música transmite fragilidade e vulnerabilidade, reforçadas pela atmosfera melancólica típica do Archive, que sublinha a reflexão sobre o desgaste emocional e a inevitabilidade de que algumas relações simplesmente se afastam, mesmo quando ainda existe dor e afecto.

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Minha homenagem a Pam Hogg


Designer de moda, artista, DJ e música, mas mais do que isso, ícone da cultura visual britânica desde os anos 80, morreu esta quarta-feira a escocesa Pam Hogg, com um percurso marcado pela independência e por uma estética inspirada no punk e pós-punk, que atravessou a moda, a música, a boémia ou as artes visuais. No campo da música, para além de ter sido líder da banda Doll, vestiu imensa gente (de Lady GaGa a Rihanna, de Grace Jones a Beyoncé), tendo uma relação – profissional e pessoal – privilegiada com nomes tão diversos como Siouxsie Sioux, Debbie Harry, Björk, Duran Duran, Peaches, Chicks on Speed, Nick Cave ou Bobby Gillespie, inspirando várias movimentações, do pós-punk aos neo-românticos, passando pelo electroclash. Era também uma ativista. A sua última colecção, de 2024, focava-se nas questões ambientais e na Palestina. “É um mundo injusto e desigual este, por favor, usem a vossa voz, no presente, para o corrigir”, foi uma das suas derradeiras proclamações.

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Site oficial

Lua e Melodias

"Na quietude da noite,
a Lua respira antiga sabedoria.
Entre os seus véus de prata,
canta melodias que só o silêncio entende.
O vento, monge errante,
percorre florestas como quem recita sutras.
Cada folha que vibra
é um sino despertando o agora.
Somos poeira luminosa,
um breve brilho na imensidão.
Mas, ao tocarmos a Terra com gentileza,
ela nos devolve eternidade.
A ecologia profunda nos sussurra
que nada vive sozinho — nem sonhos,
nem rios, nem pássaros, nem pedras, livros da Terra
E ambos os astros
dançam no mesmo tecido que nos tece.
E assim seguimos,
pequenos e vastos,
escutando o universo pulsar dentro de nós:
um coração que se inclina,
em reverência,
à delicada música de existir."
Joao Soares 26.11.2025

Portugal está a ser vendido às peças em nome da “transição verde”

Vale do Lítio em Minas Gerais- Brasil


O discurso é clima e futuro; a realidade, no terreno, é corrupção suspeita, decisões opacas e destruição brutal de turismo, agricultura, comunidades e natureza.

Barroso e Montalegre: O que era paisagem intacta, ideal para caminhadas, gastronomia local e vida comunitária, arrisca tornar-se um cenário de explosões, pó e camiões. Ao mesmo tempo, concessões polémicas, negócios com baldios travados em tribunal e projectos ligados à Operação Influencer (Galamba/Escária PS- etc) alimentam a ideia de que o que manda não é o interesse público, mas redes de influência em torno do Estado.

No Alentejo, a mega-central solar Fernando Pessoa significa abater cerca de um milhão e meio de árvores e transformar centenas de hectares num campo industrial cercado. O montado, a paisagem aberta, o silêncio e o céu limpo – pilares do turismo, da agricultura de qualidade e da identidade da região – são sacrificados em troca de um “mega projecto” aprovado à pressa, já contestado. A energia e o dinheiro saem pela linha de alta tensão; quem fica herda a paisagem arruinada

Em Sines, a corrida ao hidrogénio “verde” e a novas infraestruturas industriais ameaça virar a costa alentejana – hoje motor de turismo balnear e de natureza – num corredor de tubos, tanques e betão. Um dos grandes projectos está também sob investigação na Operação Influencer, reforçando a percepção de que a transição energética é o novo campo de negócios para quem tem a chave dos gabinetes certos.

Quanto à Central Solar SOPHIA , na Beira Interior podemos dizer com certeza que a Central Solar Sophia é um projeto privado, promovido pela Lightsource bp, com apoio de empresa nacional para licenciamento (Coloursflow). Contudo:

1.Há receio de que o projeto assuma características de “mega-central”, implicando vastas áreas vedadas (1.734 hectares vedados, segundo dados públicos) e ocupação de solos que hoje têm funções agrícolas, florestais ou naturais.

2. A escala do projeto, o tipo de zoneamento de solo e a densidade de instalação levantaram enormes críticas de ambientalistas, populações locais e comunidades intermunicipais.
3.A contestação pública e institucional é significativa — há quem considere que a forma como o processo está a decorrer reflete desequilíbrios entre interesses privados e os valores ambientais, sociais e territoriais da região.

Por isso, para muitos, Sophia já não é apenas “energia solar”: é um exemplo do que se entende como “projetos energéticos feitos à pressa” — com promessas de “transição verde” que coincidiriam com lucro para privados, e riscos definitivos de prejuízo para território, biodiversidade e comunidades.

Conclusão
Estamos perante um caso de Green Corruption (Corrupção Verde)
O padrão é sempre o mesmo: destrói-se em baixo, lucra-se em cima. Territórios que vivem de turismo, agricultura e natureza perdem tudo o que os faz existir; grandes empresas e decisores políticos ganham projectos “estratégicos”, subsídios e poder. Se isto é a “transição verde”, o risco não é só matar serras, campos e mar – é matar a já quase nula confiança das pessoas e transformar o combate ao clima em mais um capítulo da história da corrupção em Portugal. E Portugal mais pobre em todos os aspectos. Todos estes projectos, a ser confirmados, inevitavelmente gerarão um considerável passivo ambiental para as gerações futuras.

MDMC - Lovers



Lovers they come
And lovers they run
No matter what I do
I fuck it all up

Cracked armor of amour
Avid shadows breaking through
Splitting grim fates into two
Open hearts are easy to subdue

Lovers they come
And lovers they run
No matter what I do
I fuck it all up (I fuck it up)

No matter what I do (what I do, what I do)
I fuck it all up
I fuck it up
I fuck it up

Look out for my sparks that cause more
Detonated hearts for the guest stars
In my never-ending soap operas
Where love can visit but never stay
Who commits to a flame that quickly melts away (melts away)

I fuck it up
Every romance another hit and run
I fuck it up
Every mad fling another phantom spun
Stepping over a graveyard of unfinished good-byes
Haunted by bitter ghosts to relive my motherfuckin′ lies

Lovers they come (they come)
And lovers they run (they run)
No matter what I do (what I do)
I fuck it all up
(I fuck it all up)
I fuck it up

Transportna - Mariupol


Inside Mariupol: The Ruins of Putin's Fury

20 days in Mariupol - realizado pelo prestigiado jornalista Mstyslav Chernov

Mariupol, cidade portuária no sudeste da Ucrânia, tornou-se um dos casos mais devastadores da invasão russa iniciada em fevereiro de 2022. Logo nos primeiros dias do conflito, a cidade foi cercada e submetida a bombardeamentos constantes que destruíram grande parte das suas infraestruturas, incluindo hospitais, escolas e bairros residenciais. A população civil ficou sem acesso a água potável, eletricidade, alimentos e cuidados médicos, vivendo durante semanas em condições humanitárias extremas. Estima-se que dezenas de milhares de civis tenham morrido, embora os números exatos permaneçam incertos devido ao bloqueio e à destruição generalizada. Durante o cerco, um dos episódios mais marcantes foi o bombardeamento do Teatro Dramático de Mariupol, que servia de abrigo para centenas de pessoas e estava claramente sinalizado como contendo crianças. Os últimos defensores ucranianos, incluindo combatentes do Regimento Azov, refugiaram-se na vasta siderúrgica Azovstal, onde resistiram em túneis e instalações subterrâneas durante semanas até serem finalmente cercados e obrigados a render-se em maio de 2022. Desde então, Mariupol permanece sob controlo russo, embora continue a ser reconhecida internacionalmente como território ucraniano ocupado. A cidade, agora profundamente marcada pela destruição e pela perda de vidas, tornou-se símbolo do enorme impacto humano e material da guerra.

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

André Ventura, mentiroso e racista

André Ventura, mentiroso e racista. Criou um vídeo da IA, dizendo que ocorreu maus-tratos de um cavalo em Portugal, por parte dos ciganos. É falso!

Verdade dos Factos
O vídeo é antigo e passa-se no Egipto
2º  Uma imagem desse vídeo (captura de ecrã) é mostrado num crowdfunding de uma cidadão belga, que registou o mesmo problema em Marrocos
O cavalo em questão é Montana, um magnífico garanhão árabe berbere puro-sangue! Nasceu em Marrocos há 12 anos e passou a maior parte da sua vida como cavalo de charrete.
Sabe como é a vida de um cavalo de charrete lá?
Bem, é simples: uma vida de sofrimento! Dia após dia, puxam cargas extremamente pesadas, transportando muitas vezes turistas inocentes que desconhecem o seu sofrimento! Do amanhecer ao anoitecer, puxam sob o calor intenso, sem comida nem água, porque os seus donos muitas vezes não têm condições para os alimentar! Um veterinário? Muito caro ou indisponível! Um ferrador? Qual a vantagem quando "sabe" como fazer você mesmo! Desparasitação, vacinas, osteopatia, etc. Longe de ser uma prioridade! Depois sofrem com os ferimentos causados ​​pelo atrito do arreio, pelas chicotadas e pelos golpes que recebem por já não se conseguirem mover para a frente…
Muitas vezes, desmaiam de exaustão, desidratação, fome e dor… Depois ou morrem, ou são vendidos nos souks. Montana teve a sorte de ser muitos outros... Caiu nas mãos de Manon e Brahim e foi parar ao estábulo Amazir Cheval, onde cuidaram dele como merecia.
Trataram-lhe das feridas, alimentaram-no, prestaram-lhe todos os cuidados necessários (veterinário, osteopata, dentista, nutricionista, ferrador, etc.) e, acima de tudo, muito amor!
E uma cidadã belga Céline Trullemans  recorreu ao crowdfunding para que Montana ficasse na Bélgica.

Ilhéu na Indonésia luta contra gigante suíço do cimento

Quatro residentes da pequena ilha indonésia de Pulau Pari prometeram lutar contra uma das indústrias mais prejudiciais para o clima: o cimento. A sua luta tem feito manchetes em todo o mundo. Nesta reportagem, falámos com eles na sua ilha natal ameaçada.

A partir de Jacarta, é preciso uma hora de barco e depois uma caminhada de cinco minutos para chegar à modesta casa de hóspedes no centro de Pulau Pari, uma pequena ilha cujo nome se tornou conhecido em todo o mundo.

Uma vez chegados, o olhar do visitante é imediatamente atraído por numerosos cartazes que apelam a "salvar a ilha".

De pé, junto ao fogão, a fritar bananas, está Ibu Asmania, gerente da casa de hóspedes. É também ela que está por detrás da primeira queixa climática apresentada na Suíça contra o fabricante de cimento Holcim.

Nesta manhã de quarta-feira de outubro, o terraço da pensão está cheio de gente. Um jornalista e um operador de câmara de um canal de televisão indonésio e dois representantes de uma ONG local também fizeram a viagem. "Viemos para contar a mesma história", diz entusiasmado o jovem jornalista.

O terraço da casa de hóspedes de Ibu Asmania está sempre ocupado, servindo de ponto de encontro para os residentes empenhados na justiça climática

A presença dos meios de comunicação social - incluindo do estrangeiro - já não surpreende ninguém nesta ilha paradisíaca de 1.500 habitantes. O processo que opõe quatro membros desta comunidade ao gigante do cimento Holcim, com sede em Zug, é histórico. Poderá abrir caminho a processos semelhantes na Suíça e noutros países.

Pulau Pari, que fica a cerca de 40 quilómetros a noroeste da capital indonésia, está na linha da frente do aquecimento global, tal como muitas pequenas ilhas em todo o mundo. A população sofre diariamente com o impacto negativo da subida do nível do mar, da degradação do ecossistema marinho e de condições meteorológicas cada vez mais imprevisíveis.

No entanto, os habitantes da ilha, que vivem principalmente da pesca e do turismo, contribuíram muito pouco para as emissões de gases com efeito de estufa responsáveis por estas alterações.

"As alterações climáticas estão a afetar-nos gravemente", diz Asmania. "Mas nós sempre cuidámos da nossa ilha. Estamos a sofrer as consequências das emissões de gases com efeito de estufa de multinacionais como a Holcim. É injusto."

Foi por isso que ela e três outros residentes decidiram deslocar-se à Suíça para intentar uma ação civil contra a Holcim, que consideram corresponsável pela crise climática. Exigem que o fabricante de cimento os indemnize pelos danos sofridos e contribua para medidas de proteção, num total de 14.700 francos suíços (18.200 dólares). Pedem igualmente à empresa que reduza as suas emissões de dióxido de carbono.

Depois de terminado o pequeno-almoço, Asmania, 42 anos, leva-nos para a sua sala de estar, onde apenas o zumbido de um ar condicionado quebra a calma. Na estante, há fotografias emolduradas da sua visita à Suíça, que a mostram em frente ao edifício do Parlamento Federal, em Berna, com vários deputados que apoiam a sua luta.

Um mês após o seu regresso, esta mãe de três filhos não esconde a sua preocupação enquanto "espera impacientemente" por notícias do tribunal de Zug.

Ao contrário dos outros queixosos, Asmania não cresceu em Pulau Pari, mas na cidade de Bekasi, a leste de Jacarta. Isso não a impede de lamentar o facto de o local ter mudado muito nos últimos anos. "Quando vim para cá, era uma ilha de pescadores", diz. Mudou-se para cá com o marido, Tono, com quem casou em 2005.

Na altura, Pulau Pari era conhecida pela sua cultura de algas marinhas, que eram exportadas internacionalmente e constituíam uma importante fonte de rendimento para a população. Depois de transformadas, estas algas eram utilizadas na indústria alimentar e farmacêutica.

2,9 milhões de euros. É este o valor que Portugal perde todos os dias.


Não é um erro de cálculo. É o dinheiro que as multinacionais retiram do país diariamente através de esquemas de planeamento fiscal agressivo. Estamos a falar de mais de 1000 milhões de euros por ano que deviam entrar nos cofres públicos, mas que desaparecem para paraísos fiscais ou jurisdições mais simpáticas.

​E quem é que paga o rombo? Pagas tu.
​A máquina fiscal é implacável, mas só com quem não tem como fugir. Caem em cima do trabalhador por conta de outrem, caem em cima da pequena empresa que luta para pagar salários, caem em cima da classe média. Para nós, a carga fiscal é asfixiante, para os gigantes que lucram milhões cá dentro, é opcional.

Relatório da Tax Justice Network
O relatório da Tax Justice Network concluiu que durante seis anos, entre 2015 e 2021, Portugal perdeu cerca de cinco mil milhões de euros. Ou seja, por ano o país ficou com menos 800 milhões de euros. O estudo indica que estas perdas estão associadas a estratégias de transferência de lucros para paraísos fiscais e jurisdições fiscais mais brandas. Dos cinco mil milhões perdidos, cerca de 739 milhões de euros correspondem apenas a multinacionais com sede nos Estados Unidos

O contraste com Espanha é humilhante.
​Enquanto por cá fingimos que não se passa nada, aqui ao lado teve-se a coragem política de avançar. Espanha criou o Imposto de Solidariedade sobre Grandes Fortunas (para patrimónios acima de 3 milhões de euros). Resultado? Só no primeiro ano, foram buscar 623 milhões de euros aos mais ricos. O Tribunal Constitucional espanhol deu luz verde, ignorando os protestos da direita que queriam proteger os milionários.

Para atenuar os efeitos da evasão fiscal, as autoridades portuguesas têm em vigor uma taxa aprovada pelo G7, em 2021, e apoiada pelo G20, que passa pela cobrança de 15% sobre os lucros das multinacionais com vendas superiores a 750 milhões de euros.

​Lá, o dinheiro dos mais ricos serve para financiar o Estado Social. Cá, continuamos a proteger o grande capital enquanto o SNS, a Cultura, a Ciência, o Ambiente e a Escola Pública pedem socorro.

​E não se iludam com o atual cenário político. Com o crescimento da direita e da extrema-direita em Portugal, a tendência não será ir atrás dos poderosos. A história diz-nos exatamente o oposto, o discurso de "baixar impostos" serve muitas vezes para aliviar quem está no topo, enquanto a fatura e o desmantelamento dos serviços públicos sobram para quem vive do seu trabalho. Vêm sempre atrás do elo mais fraco.
A questão é até quando vamos permitir.

Tempers - Capital Pains


“Capital Pains”, da banda Tempers, fala essencialmente sobre a dor de se comparar com os outros e sobre a insegurança que nasce desse gesto. A letra descreve alguém que observa a vida alheia com desejo, como se os outros tivessem aquilo que lhe falta, e isso alimenta um ciclo de inveja, frustração e sensação de inadequação. Ao mesmo tempo, a canção apresenta a ideia de um “espaço na noite”, um refúgio interno onde a pessoa tenta escapar da pressão social e das expectativas externas — uma espécie de fenda mental onde ela se recolhe para lidar com as próprias emoções. A música também aborda uma relação emocional desequilibrada, em que o eu lírico tenta corresponder ao que o outro quer, mesmo que isso o machuque, e vive com a impressão constante de não ser realmente desejado (“you don’t want me anyway”). Esse conjunto de temas — comparação, solidão, busca por validação e fuga interior — funciona como uma crítica mais ampla à vida moderna, onde somos moldados por olhares externos e por uma sociedade que incentiva a medir nosso valor através dos outros. “Capital Pains” abre o álbum Private Life justamente para estabelecer esse clima de introspeção melancólica, mostrando como as dores pessoais e sociais se misturam no quotidiano.

terça-feira, 25 de novembro de 2025

Extração de minerais no fundo do mar pode devastar ecossistemas marinhos, alerta estudo


A extração de minerais nas profundezas do oceano pode trazer efeitos devastadores aos ecossistemas marinhos, alertaram cientistas da Universidade do Havai num estudo publicado na revista Nature Communications.

A investigação concluiu que as nuvens de partículas suspensas na água geradas pela extração de minerais no fundo do mar podem privar de alimento os organismos microscópicos que sustentam toda a cadeia alimentar oceânica, com impacto potencial nas pescas e no consumo humano.

Esta extração em mar profundo visa perfurar o fundo do oceano para recolher materiais ricos em cobre, ferro, zinco e outros minerais críticos usados em veículos elétricos, tecnologias digitais e aplicações militares. Embora ainda não tenha começado à escala comercial, vários países estão já a preparar operações à medida que cresce a procura por estes materiais essenciais à transição energética.

Os investigadores estudaram amostras recolhidas em 2022 numa zona do Pacífico situada entre os 200 e 1.500 metros de profundidade. Segundo o estudo, os resíduos libertados durante os testes de extração criaram nuvens de partículas com o mesmo tamanho dos alimentos ingeridos pelo zooplâncton, pequenos organismos que servem de base à cadeia alimentar marinha.

Ao contrário de estudos anteriores centrados nos danos causados no leito oceânico, esta investigação foca-se nos efeitos no ecossistema marinho. Os cientistas consideraram urgente avaliar a profundidade e qualidade adequadas para devolver a água e sedimentos ao oceano.

Brian Popp, autor principal do estudo, defendeu que “poderá nem sequer ser necessário escavar o fundo do mar” e sugere fontes alternativas de metais, como a reciclagem de baterias e equipamentos eletrónicos ou o reaproveitamento de resíduos mineiros.

Já Michael Dowd, coautor do estudo, advertiu ainda que “se apenas uma empresa operar numa pequena área, o impacto será limitado, mas se várias empresas explorarem durante anos, os efeitos podem espalhar-se por toda a região”.

Mayflower Madame - Crippled Crow


“Crippled Crow”, da banda norueguesa Mayflower Madame, parece retratar uma figura simbólica — o “corvo aleijado” — como metáfora de alguém emocionalmente ferido, marcado por fragilidade, decadência e sombras internas. O corvo, geralmente associado a presságios, morte ou transformação, surge aqui amputado, incapaz de voar, espelhando um estado de vulnerabilidade profunda. A canção move-se entre atração e destruição, sugerindo uma relação ambígua com esse “corvo”, que pode representar tanto outra pessoa quanto o próprio narrador. Há um sentimento constante de perda, isolamento e tentativa de reconstrução, como se a música descrevesse a luta para conviver com partes de si mesmo que estão quebradas, mas que não se consegue abandonar. Assim, o tema central parece ser a confrontação com a escuridão interior, a aceitação da imperfeição e o esforço contínuo para avançar apesar das feridas.

Aldous Harding - Horizon


“Horizon”, de Aldous Harding (do álbum Party, 2017) , é geralmente interpretada como uma canção sobre o fim de uma relação e o momento difícil em que alguém decide pôr termo a algo importante. A letra transmite uma tensão calma, quase ritualística, como se a narradora estivesse a confrontar a outra pessoa com uma verdade inevitável. Quando Harding canta “I’m telling you it’s over”, sente-se uma mistura de firmeza e vulnerabilidade, típica da forma como ela aborda emoções profundas. A repetição de “Here is your princess / And here is the horizon” pode ser vista como a exposição honesta de quem ela realmente é, contrastada com o limite simbólico — o horizonte — que marca o futuro que já não será partilhado. O videoclipe reforça essa leitura, com Harding imóvel, expressiva e contida, transmitindo a luta interna entre dizer a verdade e lidar com as consequências. Como a artista evita explicar o significado das suas letras, a canção permanece aberta, funcionando menos como uma história concreta e mais como um momento emocional puro de despedida, clareza dolorosa e aceitação.

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Enfrentamos uma emergência de desigualdade


Embora o texto esteja no FT , para assinantes, fui ler a OXFAM. Nesse artigo Lula, Ramaphosa e Sánchez apoiam a criação de um Painel Internacional sobre a Desigualdade. O termo «emergência da desigualdade» refere-se à crescente disparidade na distribuição de rendimentos e riqueza a nível global, que tem levado a uma maior instabilidade política e a uma diminuição da confiança nos sistemas democráticos. Relatórios recentes indicam que os 1% mais ricos capturaram uma parte significativa da riqueza, enquanto milhares de milhões enfrentam insegurança alimentar, destacando a necessidade urgente de agir para resolver estas questões. A OXFAM desafia este bullying geopolítico e tudo fez na cimeira de G20 em Joanesburgo para colocar na agenda o debate. Aconselho a leitura “G20 Extraordinary Committee of Independent Experts on Global Inequality”, pelo Professor Joseph Stiglitz.

Entre 2000 e 2024, o 1% mais rico captou 41% de toda a nova riqueza criada no mundo, refere o relatório. Ao mesmo tempo, uma em cada quatro pessoas no mundo, cerca de 2,3 mil milhões, enfrenta agora insegurança alimentar moderada ou grave, o que significa que salta refeições com regularidade. Esse número aumentou em 335 milhões desde 2019, acrescenta o relatório.

Recomenda-se no relatório a criação de um novo Painel Internacional sobre Desigualdade para aconselhar os governos sobre como enfrentar o problema, à semelhança do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas, designado pela ONU, que apoia o desenvolvimento de políticas climáticas.

Economistas e especialistas em desigualdade, incluindo galardoados com o Nobel e antigos altos responsáveis do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, afirmam na carta dirigida aos líderes mundiais estar preocupados com o facto de “concentrações extremas de riqueza se traduzirem em concentrações de poder antidemocráticas, a corroer a confiança nas nossas sociedades e a polarizar a política”.

A África do Sul, que acolheu a cimeira do G20 a 22 e 23 de novembro, fez com que a desigualdade global fosse um dos temas centrais, apesar de o próprio país ser classificado pelo Banco Mundial como o mais desigual do mundo.

COP30: Alto-comissário para os Direitos Humanos critica “inércia fatal” dos líderes


O Alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, destacou hoje os “resultados insignificantes” da COP30 no Brasil, alertando para a “inércia fatal” dos líderes que poderá vir a ser considerada um crime contra a humanidade.

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) terminou no sábado em Belém, no Brasil, com a adoção de um acordo minimalista, sem menção explícita ao abandono dos combustíveis fósseis, mas saudado por alguns como prova de que o multilateralismo ainda funciona.


Num discurso no Fórum das Nações Unidas sobre empresas e direitos Humanos, em Genebra, Volker Türk referiu que os “resultados insignificantes” da COP30 ilustram como os desequilíbrios de poder corporativos se manifestam na emergência climática.

“A indústria de combustíveis fósseis gera lucros colossais enquanto devasta algumas das comunidades e países mais pobres do mundo”, apontou, destacando como imprescindível responsabilizar os responsáveis pelos danos ligados às alterações climáticas.

Volker Türk pediu ainda aos países que imponham obrigações de diligência às empresas e que promovam reparações por danos relacionados com o clima.

“A resposta inadequada de hoje poderia ser considerada um ecocídio, ou mesmo um crime contra a humanidade?”, questionou.

A China bloqueou discretamente uma linguagem mais incisiva à porta fechada. Os Estados Unidos, o maior emissor e a maior economia do mundo, nem sequer estavam presentes. Quando os principais intervenientes se afastam do Acordo de Paris, o mito do consenso absoluto desmorona-se diante dos nossos olhos.

Ally Nicholas - Killing


A canção “Killing” fala sobre um amor intenso e profundamente contraditório, em que a narradora sente uma mistura de atração e autodestruição. Ela está presa a alguém que a fascina e machuca ao mesmo tempo, como se a relação fosse um vício difícil de largar. 

Mesmo percebendo que esse envolvimento consome sua energia emocional e a leva a um ciclo tóxico, ela continua voltando, movida pelo desejo e pela sensação de inevitabilidade. 

A letra transmite vulnerabilidade, confusão e uma luta interna entre razão e emoção, mostrando uma pessoa consciente do dano que a relação causa, mas ainda incapaz de se afastar.

domingo, 23 de novembro de 2025

Havia um plano de tomar o poder no 25 de Novembro? Não. Não houve e não há qualquer prova de um plano de tomada de poder, quer por parte do PCP, quer por parte dos militares esquerdistas no 25 de Novembro



Estamos em plena mistificação política associada às comemorações do 25 de Novembro, que o Governo entregou ao CDS, exactamente um partido que pouco teve a ver com o 25 de Novembro e se teve foi um dos derrotados dessa data ao não conseguir, por via dos sectores da direita militar, interditar o PCP.A mistificação assenta no combate político dos nossos dias, na minimização do papel das eleições para a Constituinte, no apagar do papel do “Verão Quente” de Agosto de 1975, e na falsa atribuição de papéis e intenções ao PCP no 25 de Novembro. Essas interpretações não se sustentam em nenhuma base sólida com o carácter de fonte histórica e destinam-se a dar ao 25 de Novembro um papel de “segundo 25 de Abril”, na prática, mais relevante para a construção da democracia, o que não é verdade.

Que problemas defrontava o PCP na 2.ª metade de 1975?
Essencialmente quatro: a formulação de uma estratégia e uma táctica que conciliasse a situação portuguesa com a orientação internacional do movimento comunista ligado à URSS no período da distensão (détente); a perda da influência no interior do poder militar do MFA; o assalto anticomunista com destruição de sedes, perseguição a militantes conhecidos do PCP no Norte, atentados; e a “rua” dominada pelos esquerdistas com o apoio dos militares ligados ao Copcon. O Departamento Internacional do PCUS era já, há mais de uma década, o substituto da Internacional. Era por aí que passava o controlo político dos partidos comunistas, os financiamentos e as operações de apoio clandestino. Em 1974-1975, antes e durante a “revolução portuguesa”, a estratégia soviética resultava de uma discussão interna sobre o golpe de Pinochet no Chile. Essa discussão era entre os que achavam que Allende devia ter ido mais longe, e os que achavam que tinha ido longe demais. A segunda posição era dominante e acompanhava a política externa da URSS ligada à Conferencia de Helsínquia. Suslov, de quem Cunhal era próximo, e Ponomariev, a última coisa que queriam era uma “Cuba na Europa” ou uma “comuna de Lisboa” e Cunhal sabia-o muito bem. A preocupação com Angola e a sua independência e a guerra civil é outra dimensão, mas não altera a orientação soviética ao PCP.

2.º A perda de influência do PCP no MFA
Para o PCP, o mais grave da situação de 1975 era a perda de influência nas cúpulas do MFA, em particular depois dos fracos resultados das eleições para a Constituinte, da queda de Vasco Gonçalves e do ascenso do Grupo dos Nove. Cunhal, num discurso ao Comité Central do PCP em Agosto de 1975, que permaneceu secreto na sua integralidade —​ o que significa que temos de o tomar muito a sério —, manifestou essa preocupação maior e pretendia responder, não com a rua, mas com a “ronha”, termo que utilizou.

3.º O terrível mês de Agosto
O PCP foi o alvo principal (mas não único, com o MDP e a FSP) de uma sublevação a norte de Rio Maior que juntou as organizações clandestinas de extrema-direita, como o ELP, e a Igreja, mas que ia mais longe: era um movimento genuinamente popular, resultado de um anticomunismo alimentado pelos medos de perda da propriedade das terras no minifúndio, resultado entre outras coisas dos erros das campanhas de dinamização, e da defesa da Igreja. O PCP sai desse mês acossado, e consciente de que os militares não lhe davam a protecção de que precisava. O resultado foi um “basta” interior, com o PCP disposto a ter uma defesa mais agressiva, em particular das sedes. A minimização do que aconteceu em Agosto é um dos aspectos da mistificação actual das “comemorações” do 25 de Novembro, ao negar essa parte do contexto.

4.º O PCP perdeu o controlo da “rua” 
A partir de Agosto, em particular em Lisboa, o PCP perdeu o controlo da “rua” para os “esquerdistas”. Isto era, para Cunhal e para a direcção do PCP, um enorme problema, porque punha em causa a táctica da “ronha”, acelerava o processo político e acentuava uma radicalização que o PCP sabia ser imprudente. O PCP, como sempre, não podia abandonar a “rua”, e mantinha-se na sua habitual posição de ter um pé dentro e outro fora. Mas actuava com relutância, como aconteceu na entrada e saída da FUR, ou na participação incomodada em manifestações em que se gritava contra o “social-imperialismo soviético”. Este padrão de um pé dentro e outro fora foi seguido para o “cerco” da Assembleia e o 25 de Novembro.

Que "esquerdistas" são estes?
Podemos designar o esquerdismo de 1974-75 aquele que participa nas manifestações, aquele que cria comissões de moradores, comissões de trabalhadores, ocupações de empresas, organizações dentro dos quartéis, e que tem no topo militar o Copcon, como um neo-esquerdismo, diferente do que vinha de antes do 25 de Abril. As organizações dominantemente maoistas anteriores ao 25 de Abril eram, na sua maioria, constituídas por estudantes, e quase sem penetração nos meios operários. Todas estão presentes nos movimentos de 1975, mesmo no campo militar com os trotkistas nos SUV, mas tinham políticas diferenciadas, como o MRPP ou o PCP(ML)/Vilar, e estão longe de controlar as movimentações, em comparação, por exemplo, com as organizações das intercomissões dos trabalhadores.Este neo-esquerdismo tem uma força de movimento popular muito mais significativa do que o antigo esquerdismo, e é um fruto do impacto da liberdade pós-25 de Abril. Em bom rigor, os dois movimentos com base popular são o contra-revolucionário a norte e o “popular” na zona de Lisboa e Setúbal, estendendo-se já, com influência do PCP, pelo Alentejo. Este neo-esquerdismo lida muito melhor com organizações não-leninistas, como o PRP-BR e a LUAR, e nalguns aspectos como o MES.A radicalização da “rua” vem deste neo-esquerdismo.

A comparação com a Revolução Russa de 1917
Uma das acusações da direita, que o PS também usou, apresenta alguns acontecimentos de 1975 como uma repetição por parte do PCP do modelo da revolução bolchevique.O único aspecto que pode permitir a comparação é a existência de uma dualidade de poderes, como em 1917, entre os sovietes e o Governo menchevique. Em Portugal, há de facto em 1975 uma dualidade de poderes, entre o Governo fragilizado, mas com um apoio militar que se veio a perceber ser poderoso em 25 de Novembro de 1975, a legitimidade eleitoral da Assembleia Constituinte, e o “poder popular” esquerdista, que foi sempre a nível nacional fraco, embora mais forte na “comuna” de Lisboa, mas que estava a perder poder de forma acelerada.

Havia um plano de tomar o poder no 25 de Novembro?
Não. Não houve e não há qualquer prova de um plano de tomada de poder, quer por parte do PCP, quer por parte dos militares esquerdistas no 25 de Novembro. Nenhum assalto ao poder nas movimentações militares dos pára-quedistas cujos objectivos eram corporativos e, quando muito, reforçar a componente “popular” da dualidade de poderes. Como aconteceu em várias manifestações de apoio ao Copcon, mesmo com chaimites, quando chegavam ao fim, apontavam as armas, gritavam frases revolucionárias e iam-se embora pacificamente. Não sabiam o que fazer.

Esteve o PCP presente no 25 de Novembro?
Sim, no princípio, mas não o iniciou nem participou nele para tomar o poder e instituir uma qualquer variante de ditadura do proletariado. Como referimos antes, o PCP em casos como este tem sempre um pé dentro e outro fora, e o pé dentro tem muito a ver com a decisão de não mais ficar passivamente a ver o que se tinha passado a norte de Rio Maior em Agosto. Tinha logística na rua, principalmente com os veículos pesados da construção civil que já tinham estado presentes no “cerco” à Constituinte, no aparelho de comunicações paralelo, e nos militantes armados nas sedes para as defender. Mas não só os sectores militares mais significativos ligados ao PCP como a Marinha desde cedo informaram Costa Gomes que aceitavam o seu comando, como todo este aparelho foi retirado quando o PCP se apercebeu de que a movimentação militar esquerdista ia falhar, logo, nem sequer valia ter um pé dentro. Mas nada disto significa iniciativa, plano, intenção de tomar o poder, comando dos acontecimentos.

Deve-se comemorar o 25 de Novembro?
Pode e deve-se, se for com rigor. Sem dúvida que o 25 de Novembro é um passo fundamental do caminho aberto pelo 25 de Abril. No dia 25 com a vitória militar contra o esquerdismo; e no dia 26 pela recusa da ilegalização do PCP. Os heróis do 25 de Novembro são aqueles que se quer hoje apagar da história por serem inconvenientes para a visão da direita radical do que aconteceu: Costa Gomes, Presidente da República, o Grupo dos Nove do MFA, com relevo para Vasco Lourenço, Ernesto Melo Antunes, o general Ramalho Eanes como elemento do comando, e entre os comandados Jaime Neves e no plano civil Mário Soares e o PS. Essa comemoração, se for séria, deve acompanhar os passos que vão da liberdade à democratização. Durou mais de dez anos, mas resultou."