quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Retrato de Portugal, por Guerra Junqueiro - tão actual



“Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, – reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (…)”- Guerra Junqueiro, in Pátria (1896)

Texto completo aqui

Imagem da Capa: Caricatura de D. Carlos I, por Celso Hermínio. Originalmente publicada no n.º 6 do semanário humorístico O Berro.

2 comentários:

Carlos Faria disse...

Talvez com adjetivos a mais... mas muito próximo da realidade atual, temos mais de 2 partidos hoje, maior escolaridade (não digo aqui formação ou cultura) e eleições livres pelo que este Povo ao deixar-se ir no conto do vigário talvez já não seja tão inocente quanto os seus antepassados.

João Soares disse...

Sim, passamos para a democracia. Mas o que encontro semelhanças é na baixa mobilização do povo nas ruas. Há greves, mas mistificaram-se as greves. As televisões fazem o seu contra-poder, entrevistando não os grevistas, mas sim os que ficam afectados com as greves. Por outro lado, fazem-se manifestações locais e não passa nos telejornais. Não será apenas Portugal. É a modernidade líquida, conceito desenvolvido pelo sociólogo polaco Zygmunt Bauman.
Abraço