A Arábia Saudita deu esta semana um passo decisivo para se afirmar como um dos polos mundiais da Inteligência Artificial. O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman fechou em Washington, DC um acordo que junta a xAI, empresa de Elon Musk, à recém-criada Humain - o braço estatal saudita dedicado à IA - para construir no país um novo megacentro de dados com capacidade até 500 megawatts. De acordo com o ministro do Investimento do país, Khalid Al-Falih, o valor do acordo é de 557 mil milhões de dólares.
A parceria foi anunciada num pacote mais vasto de entendimentos militares e tecnológicos entre Riade e Washington, DC, num momento em que os EUA flexibilizam o acesso saudita a semicondutores avançados - chips essenciais para treinar modelos de IA e que se tornaram instrumentos de diplomacia tecnológica.
Elon Musk tem procurado novos aliados para acelerar o crescimento da xAI e aproximar-se do ritmo de gigantes como a OpenAI, Anthropic e Google. Já a Arábia Saudita está a canalizar parte do seu fundo soberano de riqueza, avaliado em cerca de um bilião de dólares, para diversificar a economia além do petróleo e transformar o reino num fornecedor global de capacidades de computação.
Esta convergência de interesses resultou no acordo com a Humain, empresa lançada em maio pelo príncipe herdeiro e que ambiciona fornecer 6% da capacidade global de computação para IA nos próximos anos. A estratégia saudita passa por aproveitar a vasta disponibilidade energética, extensas áreas de terreno e ligações a cabos de fibra ótica internacionais para oferecer capacidade de processamento a preços competitivos.
A parceria com Musk, que inclui também a expansão do uso dos modelos da Grok, o chatbot da xAI, reforça a tendência: cada grande empresa norte-americana de IA está a aproximar-se de um aliado estratégico na Península Arábica: a OpenAI fechou este ano um acordo com a MGX e a G42, dos Emirados Árabes Unidos, para a construção de um centro de dados perto de Abu Dhabi e a Anthropic recebeu investimento do fundo soberano do Catar. Já a Nvidia, a Amazon, a Microsoft e a Qualcomm têm vindo igualmente a reforçar presença na Arábia Saudita.
O acordo com a xAI esteve meses em negociação, travado pelas dúvidas em Washington, DC sobre o destino final dos chips que Riade pretende adquirir. Em maio, a administração Trump anunciou o envio de milhares de unidades da Nvidia para o país, mas o processo ficou pendente devido às preocupações sobre as ligações sauditas à China.
Com o desbloqueio do dossiê, o projeto avançou e Musk celebrou publicamente a parceria: "O futuro da inteligência será construído com computação massiva e eficiente, combinada com modelos de IA avançados. As capacidades de Humain permitem-nos acelerar esse futuro na Arábia Saudita".
Tareq Amin, diretor-executivo da Humain, disse tratar-se de uma operação que cria "uma escala que poucos podem igualar".
Arábia Saudita quer garantir soberania na computação
Na mesma semana, outro desenvolvimento reforçou as ambições digitais do reino. O fundo público de investimento saudita (PIF), a Saudi Information Technology (SITE) e a Microsoft assinaram um memorando de entendimento para explorar a implementação de serviços de "cloud soberana" no país - infraestruturas que permitem alojar dados sensíveis sob controlo nacional, cumprindo requisitos estritos de segurança e residência de dados.
A Microsoft, que já proporciona soluções semelhantes a governos e setores altamente regulados noutros países, irá trabalhar com o PIF e a SITE para avaliar de que forma o modelo pode ser aplicado à realidade saudita. O objetivo passa por reforçar a infraestrutura digital e apoiar o crescimento do setor das tecnologias de informação no reino.
O memorando, ainda não vinculativo, prevê igualmente cooperação em investigação, desenvolvimento, inovação e transferência de conhecimento.
As críticas recorrentes ao histórico saudita em matéria de direitos humanos não parece ser um fator dissuasor para as empresas tecnológicas. Na véspera do anúncio, líderes de algumas das maiores empresas dos EUA participaram num jantar em Washington, DC em honra de Mohammed bin Salman, onde Elon Musk também marcou presença - assim como Cristiano Ronaldo.
3 comentários:
Entre as brumas da memória: "Cristiano Ronaldo não é embaixador de Portugal."
https://entreasbrumasdamemoria.blogspot.com/2025/11/cristiano-ronaldo-nao-e-embaixador-de.html
Os 230 milhões que recebe anualmente do Estado saudita não compram golos pelo Al Nassr, mas a normalização de uma teocracia torcionária. Ajudou Riade a assegurar o Mundial de 2034, defende o país e acompanhou o príncipe regente à Casa Branca, onde MBS foi receber o perdão pelo assassinato e esquartejamento de um jornalista (“há coisas que acontecem”, disse Trump) e agradecimentos pelos negócios que garante à família Trump e que Trump devolve. Roberto Martínez diz que Ronaldo é “embaixador de Portugal”. Escapou-lhe que Ronaldo viajou com passaporte diplomático saudita, para quem trabalha como relações-públicas. Ninguém pede que seja Mandela. Bastava não ser cabeça de cartaz de um dos regimes mais repressivos do mundo. Ronaldo é uma marca antes de ser um desportista. E as marcas não têm ética, pátria ou lealdade. Têm contratos. O erro é pensar que a marca representa Portugal, e não quem lhe paga para cumprir o papel que hoje cumpre.
Estou absolutamente de acordo, mas qual a diferença entre este negócio e os que apoiam Israel onde já foram assassinados cerca de trinta jornalistas e os sionistas estão cometendo horrores indescritíveis? É só uma questão de método?
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