A história da mudança que transformou o mundo
Ideia de mente, espírito ou alma, essa é a definição do significado do termo de composição “psico”, segundo a Enciclopédia Mérito (1964). Mas o termo “psicadélico”, parte da composição das palavras gregas psiké (mente) e deluon (sensorial), referindo-se a uma manifestação da mente que produz efeitos profundos sobre a experiência consciente.
O movimento psicadélico viveu seu apogeu nos anos 60, transformando esta década em algo que parece estar mais no futuro do que no passado. Se deve basicamente à criação do LSD-25, sintetizado por Albert Hoffman em 1943 na Suíça. O ácido dielitamida d-lisérgico foi a vigésima quinta substância extraída numa série de testes com o fungo ergot, sendo absorvida acidentalmente através da pele do cientista. Seus efeitos consistem na provocação de um estado de realidade alterada, e Hoffman descreveu em seu diário os seguintes acontecimentos relatados no Documentário “Tempos de Rebeldia: Contracultura e Psicadelia”, produzido por David Schultz : “Ao voltar para casa de bicicleta, meu campo de visão estava distorcido como uma imagem de espelho côncavo. Um estado de delírio nada agradável que era caracterizado por imagens fantásticas de realidade extraordinária e um caleidoscópio intenso de cores”. Estes efeitos foram descritos num relatório, fazendo com que o mundo científico se interessasse pela substância.
O movimento psicadélico nos anos 50
Na década de 50, como consta no documentário “Tempos de Rebeldia: Contracultura e Psicadelia”, o LSD e outras drogas psicoativas passaram por diversos testes promovidos pela CIA com o intuito de produzir uma arma química capaz de controlar a mente das pessoas durante a Guerra Fria, achavam que seus efeitos poderiam servir como ferramentas de espionagem. Imaginavam estar criando um “soro da verdade” ou um dispositivo de controle para controlar a população. Foram recrutados voluntários para tomarem a droga e responderem a perguntas sobre as suas experiências alucinogénicas. No entanto, aconteceu o contrário, a droga abria as portas do inconsciente e dava uma sensação de liberdade e fazia com que cada um pensasse por si mesmo, sem se preocupar com as culturas vigentes.
Como relata o documentário, um estudante de 26 anos chamado Ken Kesey iniciou as suas próprias pesquisas de expansão da mente com o LSD. Organizou atividades junto com colegas da faculdade para que expandissem a comunicação, como teatros, uso de fantasias malucas e acessórios bizarros. “Assim jovens começaram a experimentar por eles mesmos e se desligavam da corrente cultural, mas se reprogramavam com o seu próprio sistema de valores”. (Schultz).
Disposto a divulgar seu novo livro, Ken Kesey e a sua turma, programaram uma viagem rumo a Nova Iorque numa camioneta colorida, denominado “Further”, numa busca psicadélica, espalhando alegria e o sentido de uma rebelião saudável contra uma sociedade restritiva. Desta forma, em 1966, como relata o documentário, deram início ao “teste de ácido” com o apelidado “refresco elétrico”. Numa dessas noites o governo tornou o uso do LSD ilegal. “O LSD era uma ferramenta revolucionária de libertação da mente e esperava que fosse mudar o mundo”. (Schultz).
Os anos 60 e a liberdade
No começo da década de 60, o LSD-25 foi empregado experimentalmente em sessões de psicoterapia, principalmente nos Estados Unidos, onde seu uso era legal. Das clínicas e das universidades, a droga espalhou-se para o mundo, transformando-se, junto com a beatlemania e a revolução sexual, em símbolos de uma época que, para muitos, representava o início da Era de Aquário.
O psicólogo Timothy Leary, dá início à pesquisa com o uso de drogas que alteram a consciência para fazer uso na psicoterapia. Segundo o documentário de Schultz, Leary descreve no seu livro “A Experiência Psicadélica – Um Manual Baseado no Livro Tibetano dos Mortos”, que as drogas alucinógenas alteram o nível de consciência e são capazes de mudar e ampliar a perspectiva da vida de uma pessoa. Mostra os aspectos positivos do uso dessas substâncias, questiona as autoridades. Além de incentivar as pessoas a usarem suas cabeças, saírem dos meios estáticos, sair dos jogos sociais destrutivos. Pensarem por si mesmas, não aceitar algo só porque uma autoridade diz, e através do uso dessas substâncias haverá a descoberta de que muitas dessas chamadas autoridades são bobagens. A mensagem de Leary era sobre a descoberta espiritual transformadora. A antiga crença na visão mística sagrada. Desta forma, em 1966, o LSD se tornou ilegal porque a última coisa que os Estados Unidos e qualquer governo desejaria era que os seus cidadãos expandissem as suas consciências, e desta forma qualquer pesquisa científica com drogas foi proibida.
Em 14 de janeiro de 1967, na praça de São Francisco aconteceu o Grande Encontro, na tentativa de formar uma comunidade com hippies da geração do amor, Beats e ativistas políticos, que agiam contrariamente ao governo com ações diferentes, porém todos a favor da paz e ao fim da guerra, a favor da liberdade de expressão e da liberdade do indivíduo. Queriam sair da cultura reinante e trilhar algo novo.
O documentário ainda descreve os rótulos criados pela sociedade dados aos hippies, dizia que eles eram simplesmente sujeitos estranhos que utilizam “óculos de vovó”, cabelos longos e que não tomavam banho. Mas nada do que eles vestiam transmitia o que estava acontecendo dentro deles, eles estavam rompendo com qualquer coisa que tentava contê-los. E com isso tornaram-se um fenómeno de media, uma atração turística. Enquanto os Estados Unidos matavam crianças do outro lado do mundo no Vietname, jovens dessa geração se reuniam no evento histórico denominado “Woodstock”.
Para eles este não era simplesmente um evento de sexo, drogas e rock’n’roll, mas era sobre o Vietname, direitos civis, reclamação contra a interferência americana no resto do mundo. Foi um momento histórico, um momento em que as pessoas acordaram e foram gentis e amistosas umas com as outras. Este Festival de música e arte de três dias, ocorrido em 1969, simbolizou as melhores esperanças de uma geração para a humanidade. E significou que momentos como este poderiam acontecer de novo noutro lugar e noutro tempo. Este movimento de contracultura dos anos 60 terminou chamando a atenção sobre a violência e sobre a morte, foi uma afirmação da vida. A rebelião psicadélica trouxe uma nova percepção até para os que não tomaram as drogas. Houve uma mudança social impulsionada pela mudança de consciência, sentido de unidade e gentileza que pode ser recapturado
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