Quando o Estado Social é posto em causa e se dá prioridade ao capital, não aguentamos um ataque de um ‘simples e invisível’ vírus. Apesar da evidência estampada no mundo pelo covid-19, Carlos Fernandes da Silva, diretor do Departamento de Educação e Psicologia da UA e figura incontornável da Psicologia nacional, é cético: “tenho dúvidas que a humanidade aprenda com este vírus”.
É um facto incontornável que ainda não há consenso na comunidade científica sobre a “origem” da vida, mas a evidência científica sugere fortemente que o Homo Sapiens sapiens é fruto de um longo processo evolutivo.
A evolução é amiúde entendida como uma interação de 2 variáveis: mutação e seleção natural (êxito do mais “forte”), isto é, um processo apenas competitivo. A epigenética também é importante.
Porém, a investigação científica tem encontrado evidência forte que o Homo Sapiens sapiens só existe porque a evolução envolve também uma terceira variável: a “cooperação” (ou solidariedade).
Por exemplo, de que serviria aos hominídeos de há 100.000 anos (“macacos nus” de Desmond Morris) apenas a competição? Teriam sido dizimados pelos restantes predadores. Foi a coesão de grupo, nomeadamente a ajuda mútua e a concertação de objetivos e meios, com complementaridade entre tarefas, sem desprimor para nenhuma delas, que permitiu à espécie que somos ter vingado.
Só que a humanidade separou-se deste paradigma (pecado original) e criou sociedades em que se sobrevaloriza a competição. Deste modo, o fim da humanidade será a sua extinção.
A COVID-19, provocada pelo vírus SRAS-CoV-2, permite-nos compreender objetivamente que os modelos sociopolíticos em que o Estado Social é posto em causa e se dá prioridade ao capital não aguentam um ataque de um “simples e invisível” vírus. O desprezo pelo sistema de saúde, segurança social, investigação científica (desde a fundamental à aplicada) e serviço público em geral é negar a importância da solidariedade e compromete a capacidade de uma Nação vencer uma guerra desta natureza.
Não me refiro aos agentes privados que, em momento de crise são amiúde solidários, para além de serem imprescindíveis em qualquer sociedade. Nem sempre são poupados pelo Estado que, através de enormes cargas fiscais, põem em causa a sustentabilidade dos mesmos. Refiro-me às políticas estatais que favorecem determinados setores privados em detrimento de outros, igualmente privados (veja-se o que se passa com as micro e pequenas empresas), e que desinvestem em setores públicos que são fundamentais.
Porém, como sou muito cético, tenho dúvidas que a humanidade aprenda com este vírus. Não aprendeu com a gripe espanhola, seguida de imediato pela II Guerra Mundial e outras calamidades semelhantes. Suspeito que a economia acabará por se impor …apenas o poder mudará de mãos!
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