MOSTARDA BRAVA
(Fotografia: Fernanda Botelho)
Nome científico: Sinapis arvensis
Linda e exuberante, é uma planta da família das Brasicaceae, a mesma das couves, da rúcula e dos nabos. “Podemos dizer que é um antepassado silvestre das nossas hortícolas domesticadas”, refere Fernanda. Isto significa que podemos comer as suas flores e folhas, cruas ou cozinhadas, e ainda as suas sementes. Por ser picante, estimula a digestão. A mostarda brava encontra-se na beira dos caminhos, onde tem a função muito útil de ajudar a fixar os taludes, graças às suas grandes raízes. As borboletas e as abelhas adoram esta planta de ramos altos.
PAPOILAS
Nome científico: Papaver rhoaes
São plantas da família das Papaveraceae, onde se inclui também a chamada “erva do betadine” ou celidónia. A sua delicadeza icónica, que todos conhecemos, tem outra utilidade além de ser apreciada: as semente e as pétalas das papoilas podem ser comidas ou usadas em infusões, graças aos seus efeitos antiespasmódicos e sedativos. No Alentejo, ainda é comum um chá de pétalas de papoila contra a tosse para ajudar as crianças a dormir, sublinha Fernanda. Ela sugere que se adicionem as pétalas a saladas e que se comam as sementes, tendo o cuidado de ingerir uma quantidade moderada (menos que uma colher de café, por exemplo) porque são opiácias. As pessoas com diverticuloses devem, contudo, evitar esta e outras sementes pequenas.
MALVA
(Fotografia: Fernanda Botelho)
Nome científico: Malva sylvestris
“É muito comum e está particularmente exuberante nesta primavera covídica”, assinala Fernanda sobre as malvas – ou lavateras – que são grandes aliadas nas lavagens ginecológicas ou para bochechar para tratar aftas ou lavar os olhos inflamados. “Ela trata e alivia todo o topo de inflamações internas e externas”, refere a especialista. Mas também pode ser utilizada na culinária, já que se podem consumir todas as suas partes – como as flores, folhas, raízes e as sementes conhecidas por queijinhos, que têm um sabor semelhante a ervilha crua e textura de quiabo.
TANCHAGEM
Nome científico: Plantago sp
Existem várias espécies de tanchagem, planta de aspeto arisco muito comum nos campos. “Todos os Plantago são medicinais, comestíveis e deliciosos, com um sabor a cogumelo cru e bastante adstringente”, diz Fernanda, que sugere usar as folhas tenras em sopas e batidos. Era uma planta muito usada na Antiguidade: Alexandre o Grande designava-a de “governante dos caminhos” e os germânicos consideravam-na sagrada. É rica em sais minerais e ácidos gordos, tem propriedades anti-inflamatórias, calmantes e diuréticas e fortificante dos vasos capilares. E é muito eficaz quando esmagada e aplicada diretamente sobre a pele em picadas de mosquito.
PILRITEIRO
Nome científico: Crataegus monogina
É também conhecida por espinheiro-alvar, esta árvore de médio porte e tronco espinhoso enquanto jovem, comum nas sebes e montes, que é muito rica em propriedades medicinais – e que podemos plantar facilmente no nosso quintal. As suas flores brancas e pequenas são comestíveis, tal como os seus frutinhos vermelhos – os pilritos – que podem ser usados para fazer geleias, marmeladas e sobremesas. Com as folhas, as flores e os frutos podem-se fazer infusões para tratar problemas de coração, como arritmias, insuficiência cardíaca, ataques de pânico e de ansiedade. Existem à venda, aliás, vários tipos de extrato de Crataegus.
URTIGA
Nome científico: Urtica sp
Apesar de mal amada por muitos, a urtiga é a planta preferida de Fernanda Botelho, que diz ser uma das ervas silvestres mais completas que existem, a nível nutricional. “Podemos fazer sopas, guisados, queijos, cerveja, sumos, pão e tudo o que a nossa imaginação quiser. Usam-se as folhas, as inflorescências e as sementes. Convém não incluir os caules nas sopas pois são demasiado fibrosos. Podemos desidratar as folhas e moê-las num moinho de café para polvilhar sobre os alimentos”, refere Fernanda. “As urtigas são tão importantes que existe mesmo uma Confraria da Urtiga em Fornos de Algodres, à qual pertenço, que celebra a urtiga em todas as suas vertentes, medicinais, comestíveis, hortícolas, tintureiras, no fabrico de fibras”, refere. Os romanos fustigavam o corpo com ela para estimular a circulação; e na Polónia e na Escócia faziam-se roupas, lençóis e toalhas de mesa com a fibra das urtigas, que é muito resistente. Usa-se para tratar anemia, reumático, gota, alergias de primavera.
ROSEIRA BRAVA
(Fotografia: Fernanda Botelho)
Nome científico: Rosa sp
Integra a família das rosáceas, cujas flores são sempre comestíveis e adstringentes. Por essa razão, são úteis para tratar diarreia e para lavar e desinfetar feridas. “Na culinária, podem usar-se as flores mas sobretudo os bonitos frutinhos vermelhos que surgem no outono e são uma das maiores fontes de vitamina C disponíveis na natureza”, afirma Fernanda. Não é à toa que as rosas eram o ingrediente básico nos tratamentos de beleza da rainha egípcia Cleópatra e que o botânico e médico grego Plínio, o Velho, indicava 30 doenças tratáveis com rosas.
CHICÓRIA
(Fotografia: Fernanda Botelho)
Nome científico: Cichorium intybus
Tem alguns primos bem conhecidos esta planta da família das Asteraceae, onde se inclui o dente-de-leão e os girassóis. “É da raiz desta planta que se faz o café de chicória e as suas folhas tenras, assim como as flores de um azul delicado, também se podem comer”, diz Fernanda. Os antigos egípcios conheciam-na desde o ano 4000 a.C. -, comiam-na crua e usavam-na para tratar problemas hepáticos. No tempo dos faraós, misturava-se sumo de chicória com óleo de rosas e vinagre para aliviar dores de cabeça. Existe também em cor branca ou rosa, mas as flores mais comuns são as azuis. Prefere terrenos secos e argilosos e as suas raízes profundas ajudam a descompactar a terra.
SABUGUEIRO
Nome científico: Sambucus nigra
Pertence à família das Caprifoleaceae este arbusto ou árvore de médio porte, que prefere zonas húmidas e sombrias. As suas flores e frutos são muito apreciadas para fins medicinais e culinários. “As flores podem ser fritas com tempura, estilo peixinhos da horta, usadas em refrescos, champanhe, gelados e outras sobremesas, combina bem com pétalas de rosas”, sublinha Fernanda Botelho. A infusão da flor fresca ou seca ajuda a combater alergias, tosses, gripes e constipações, tem propriedades anti-inflamatórias e antivíricas. As suas bagas pretas são muito ricas em antioxidantes, vitaminas e sais minerais e apreciadas em geleias, doces e bebidas.
BORRAGEM
(Fotografia: Fernanda Botelho)
Nome científico: Borago officinalis
“Diz o ditado que a borragem dá coragem, porque as suas sementes são usadas na extração de um óleo vegetal rico em ómegas 3, usado para fortalecer o sistema nervoso, cardiovascular e para melhorar problemas cutâneos”, refere Fernanda. Os jovens soldados romanos tomavam uma bebida de borragem quando partiam para as batalhas, para terem mais ânimo e coragem. As flores em forma de estrela são comestíveis, com sabor a lembrar o pepino, e Fernanda sugere usá-las também na decoração ou colocá-las em cubinhos de gelo para as conservar. As folhas tenras mais junto da base podem ser consumidas panadas ou adicionadas a sopas e guisados. É uma planta desintoxicante do organismo.
A HERBALISTA
Fernanda Botelho estudou plantas medicinais na Scottish School of Herbal Medicine. Viveu 17 anos em Inglaterra onde fez formações em Botânica, Fitoterapia e Pedagogia. Tem o curso de guia de jardim botânico da Universidade de Lisboa. É colaboradora do programa Ecoescolas e autora de uma coleção de livros infantis “Salada de Flores”, “Sementes à Solta” e “Hortas Aromáticas”. Publica anualmente desde 2010 uma agenda de plantas medicinais, escreveu “Uma mão cheia de plantas que curam – 55 espécies espontâneas em Portugal” e “As plantas e a saúde”. Organiza passeios e workshops de reconhecimento de plantas a convite de várias associações, escolas e municípios. É uma das fundadoras do grupo Sintra sem Herbicidas. Participa em blogues e revistas e é convidada regular da RTP. Gosta de fotografar, escrever e comunicar. Tem um blog chamado Malva Silvestre.
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