Investigadores desaconselham o corte da vegetação espontânea que cresce nos relvados ou entre os muros da cidade porque assim se retiram recursos a insectos importantes para o equilíbrio dos ecossistemas.
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Mal começa a Primavera, há uma tarefa que se repete por todo o lado: cortar ou atirar um químico qualquer para aniquilar as ervas daninhas e as flores selvagens que delas rebentam entre os passeios de casa ou as pedras e muros das cidades, ou florescem nos relvados citadinos. E se, com esta rotineira acção, estivéssemos a prejudicar insectos polinizadores como as abelhas? E se, com isso, nos estivéssemos também a prejudicar? Algumas das plantas favoritas destes insectos, que ajudam na reprodução da flora, são as mal-amadas ervas daninhas. É por isso que entomólogos (estudiosos dos insectos) desaconselham que se cortem estas plantas mal começam a florescer. Dessa forma, estão a retirar-se recursos a estes bichos tão importantes para o equilíbrio dos ecossistemas.
“É muito comum vermos uma zona relvada e nesta altura do ano começam a aparecer algumas flores espontaneamente e são imediatamente cortadas porque as pessoas querem ver um relvado e não um prado”, diz Carla Rego, investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
No entanto, sustenta Carla Rego, é preciso não pensar nesta vegetação como ervas daninhas: “Eu não gosto do termo ervas daninhas. É vegetação espontânea e tem o seu papel a cumprir nos ecossistemas, mesmo num meio urbano”, sublinha.
Segundo a investigadora, que é também membro da Sociedade Portuguesa de Entomologia, “cerca de 80% dos alimentos de origem vegetal” que se ingerem dependem do processo de polinização. “As pessoas não têm consciência disso. Cada vez mais estamos a tirar recursos destes insectos que são bastante importantes para os ecossistemas”, nota.
O alerta ganha outra dimensão se se tiver em conta que o mundo atravessa “um momento de grande crise em termos de perda de biodiversidade de insectos, sobretudo também de polinizadores”, diz a investigadora.
A perda de biodiversidade de polinizadores, não está a acontecer a uma escala local, nem sequer europeia. É uma “crise” que se está a verificar a nível mundial independentemente do tipo de habitat. “É um aspecto bastante preocupante porque nós vivemos dentro de um ecossistema e estamos todos muito interdependentes. Dependemos das plantas, dos insectos. Esta perda que estamos a observar pode ter consequências muito grandes para o nosso futuro”, nota Carla Rego.
Este declínio do número de insectos é causado, em grande parte, pelas alterações climáticas mas tudo depende de uma conjugação de factores: a intensificação da agricultura, o crescimento das áreas urbanas e a perda de área verde e a utilização intensiva de herbicidas e pesticidas.
“Quando começamos a aplicar um produto químico, o fabricante escreve os efeitos que considera benéficos contra as pragas agrícolas, mas cada vez há mais indicações de que existem efeitos secundários que vão afectar outros insectos e organismos”, explica a investigadora. “Há menos insectos porque acabam por ser sensíveis aos pesticidas aplicados”, diz. E se há menos insectos, também vão existir, por exemplo, menos aves.
Apesar deste cenário, as cidades podem ter o seu papel e criar pequenos redutos para estes bichos.
Saber mais:
Projecto EUA-Canadá: "Lawn to Widflowers"
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